Reparação histórica
no Açu - 2ª edição *
George
Gomes Coutinho **
A História humana detém em seu
rol de atrocidades injustiças que
ocorreram e continuam a ocorrer nos diversos pontos do globo. No entanto, o
reconhecimento pleno de massacres, perseguições e outras tantas práticas
opressivas que apequenam a espécie humana só recentemente tem se tornado objeto
de atenção.
Políticas e ações de
reconhecimento, neste tipo de caso em particular, implicam que agrupamentos
factualmente opressores e a sociedade como um todo reconhecem que em
determinado momento histórico moveram e/ou desviaram outros grupos sociais
contra a sua vontade de sua própria trajetória. Estou dizendo que o direito de autodeterminação
foi negado a etnias, tribos, grupos ou seguidores de uma determinada crença.
Este processo de dominação não separa violência simbólica da física e se
estende por gerações até que o ciclo das ações persecutórias, onde a humilhação
faz parte do cardápio, é quebrado.
Por vezes agrupamentos sociais
aguardam séculos por este tipo de reparação. Em outros casos há janelas
históricas que podem abreviar o tempo de espera. Afinal “o tempo é muito longo
para aqueles que esperam” como diria o escritor norte-americano Henry Van Dyke
Jr (1853-1933).
Na última quarta-feira, dia 19 de
abril, a ASPRIM (Associação dos Proprietários Rurais e de Imóveis do Município
de São João da Barra) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
reocuparam parte das terras tomadas pelo empreendimento nacionalmente conhecido
como “Porto do Açu”. O fato abriu uma janela de reparação histórica.
O processo de retirada das famílias originais
do 5º distrito de São João da Barra não transcorreu sem traumas, algo que
incluiu até mesmo indenizações questionáveis, intimidações e outras práticas no
mínimo controversas. Para além disso dois agentes indiscutivelmente importantes
para este processo, o “Barão de São João da Barra” Eike Batista e Sergio Cabral
Filho, ex-governador do Rio de Janeiro, encontram-se no Complexo Penitenciário
de Gericinó, antigo Complexo de Bangu.
Reparações históricas não mudam o
passado. Mas, podem modificar o daqui por diante.
* Texto original publicado no jornal Folha da Manhã em 22 de abril de 2017. Nesta "2ª edição" digital fiz uma leve modificação na forma do texto. Contudo, o conteúdo propriamente é o mesmo da versão impressa.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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