Moro,
Lula e Freud *
George
Gomes Coutinho **
Na última quarta-feira ocorreu,
enfim, o encontro físico entre o juiz Sérgio Moro e Luis Inácio Lula da Silva.
Podemos observar algumas
recorrências no espaço público. A primeira delas e mais óbvia é o fenômeno da
“futebolização da política”. Já discutimos em diversos momentos o
empobrecimento propositivo causado pela polarização desmesurada e os danos
causados para a própria democracia neste cenário. Na última quarta as
“torcidas” se organizaram efetivamente com bandeiras, expectativas e um certo
ar de “final de campeonato”.
De novidade em Curitiba, pelo
menos durante o “evento”, tivemos a notória desidratação dos movimentos
assumidamente mais voltados para propostas estritamente moralizantes da
sociedade. Atribuo este efeito a três causas: 1) a própria solicitação de Moro
para que os grupos alinhados com a postura de parte do Ministério Público
Federal não comparecessem. Foram espantosamente obedientes!; 2) Como em outros
momentos da História, a pauta moralizante, justamente por sua fragilidade em
apontar para um projeto de sociedade, é insuficiente para manter mobilizados os
grupos; 3) Os movimentos “moralizantes” demonstraram em diversas ocasiões seus
pés de barro ao terem dentre seus membros e simpatizantes inúmeros casos de
corrupção e congêneres, algo que abala a coerência da pauta.
Outro fato recorrente e menos
óbvio é a infantilização da esfera pública brasileira que busca, de forma
incessante, uma figura paterna para se apoiar. A sacralização de Moro ou Lula
produz distorções severas e o olhar amoroso e afetivamente carente de seus
seguidores impede que se compreendam as contradições intrínsecas de ambos. Ou seja, a criticidade, elemento fundamental
para os dias que correm, é jogada na lata de lixo. Só que sem crítica não há o
“bom combate” e tampouco a História avança.
Penso em um conselho
psicanalítico para esta conjuntura. Para a tradição de pensamento criada por
Sigmund Freud (1856-1939), o indivíduo que não toma para si seus desejos e
projetos de vida e segue cegamente “papai” não amadurece. Isso vale também para
a política.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 13 de maio de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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