segunda-feira, 8 de maio de 2017

Pós-Junho de 2013

Pós-Junho de 2013 *

George Gomes Coutinho **

As grandes mobilizações no Brasil do século XXI tem uma data para seu nascimento: junho de 2013. Naquele momento pautas difusas foram apresentadas, o que incluiu o protesto contra o aumento das passagens urbanas nas regiões metropolitanas e o questionamento dos investimentos em mega-eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas). Este momento da história recente brasileira é tão sintomático que sem fazermos esta referência não entenderemos plenamente as manifestações posteriores, o que inclui os protestos na Avenida Paulista contra o Governo Dilma Roussef no ano passado ou mesmo a Greve Geral do último 28 de abril.

Junho de 2013 abriu uma Caixa de Pandora e suas reverberações ainda não se esgotaram.

O que há em comum em todas essas manifestações? Assinalo duas questões neste momento. A primeira delas é o uso ostensivo das redes sociais como ferramenta de mobilização. A segunda é a desidratação da política tradicional.

No que diz respeito ao uso das redes sociais enquanto ferramenta de aglutinação da ação coletiva eu observo problemas severos.  O caráter efêmero das formulações e, não raro, a característica individualista, narcísica e egóica das redes produz distorções no que tange a proposição de pautas de alcance societário. Inclusive as redes sociais tem amplificado a polarização e dificultam o diálogo que seria desejável em um ambiente democrático. Há apenas a desqualificação a priori do adversário onde os infelizes termos “coxinha” ou “mortadela” são suficientes para desconsiderar a totalidade dos argumentos do outro.

Neste ínterim, como segundo elemento preocupante, temos o esvaziamento da política tradicional. Não há um projeto de sociedade claro apresentado nem os mecanismos para construirmos uma melhor versão do Brasil são postos. De junho de 2013 para cá vimos o abandono dos partidos como agentes legítimos de representação, isso em uma realidade que se pretende pautada pela democracia representativa! Em prol da “voz das ruas”, uma polifonia ainda fragmentada, se crê que da espontaneidade das massas virá alguma solução. Até o momento, pelo conjunto da obra, não me autorizo a tamanho otimismo.

* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 06 de maio de 2017


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

Um comentário:

  1. Prezado George, mais um excelente texto nos oferta. Também não me coloco nada otimista com esse processo. A despeito de não ter sido objeto do vosso texto, é de bom tom arguirmos os motivos que levam a descrença com os partidos ou a política tradicional. No caso brasileiro se houver alguma pesquisa quantitativa creio que a corrupção será apontada como a variável mais significativa. Mas, como justificar essa mesma descrença junto aos países mais "avançado'?

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