Entre anjos e demônios
Por Paulo Sérgio
Ribeiro
Um evento insólito: Jair Bolsonaro esfaqueado à luz do dia. O atentado contra o presidenciável ocorrera em plena campanha no município mineiro de Juiz de Fora às vésperas do
feriado nacional da Independência. De pronto, teorias conspiratórias pululam e
toda sorte de oportunismo político se faz presente nas narrativas
sobre suas possíveis causas e os prováveis desdobramentos para o pleito de 7 de
outubro. Antecipar prognósticos neste momento é, no mínimo, arriscado, dada à opacidade
dos acontecimentos numa eleição atípica em tantos aspectos.
Importa avaliar a agressão
sofrida por Bolsonaro não como um ponto fora da curva senão como a "curva" em si e,
aqui, tocamos na nervura de todas as tensões. A imoderação das paixões parece
ter alcançado o seu ponto de inflexão quando um líder de extrema-direita se encontra
com as consequências do imaginário em torno da violência política que o próprio
personifica. Esta óbvia constatação não nos autoriza a subestimar o perigo da
regressão dos costumes, isto é, a incapacidade de uma cultura e sociedade
definirem acordos morais mínimos sobre o que seja “crime e castigo” contra um
indivíduo ou grupo nas lutas por poder.
Mesmo admitindo que Bolsonaro desconhece
barreiras éticas entre os discursos que profere e o decoro parlamentar enquanto
deputado federal no sétimo mandato consecutivo, é forçoso indagar como eventuais mistificações sobre o atentado podem vir a caracterizá-lo como um “mártir”
da democracia que sempre desprezou. Se isto procede, não é demais
lembrar que, diante desta maré montante de irracionalidade, todos temos de fazer
escolhas, tenhamos consciência disso ou não. Repudiar a agressão contra
Bolsonaro é fortuito se, e somente se, consigamos, em nossa esfera de ação
imediata (quem não tem um parente ou amigo reacionário hoje em dia?), devolver àqueles
que o seguem sua condição de sujeito moral, isto é, restituir-lhes a
capacidade de responsabilizar-se pelo que falam e sentem quanto à realização de fins legítimos.
Do contrário, a insegurança jurídica promovida por aqueles que custodiam na Justiça Federal a manutenção do golpe parlamentar contra uma Presidenta legitimamente eleita reduzirá a luta política a um embate de vida e morte entre machos-alfa pela comando autoritário da nação.
Do contrário, a insegurança jurídica promovida por aqueles que custodiam na Justiça Federal a manutenção do golpe parlamentar contra uma Presidenta legitimamente eleita reduzirá a luta política a um embate de vida e morte entre machos-alfa pela comando autoritário da nação.
Até o momento, os sinais são confusos no que toca à transposição desse cenário.
O debate público no Brasil foi colonizado por moralistas sem moral que fomentam medos e preconceitos em determinados segmentos da classe média tradicional contra os pobres em geral e as minorias em particular, impondo uma agenda antipopular e antidemocrática cujos efeitos se fazem cada vez mais dramáticos e que desafiam o campo progressista a atualizar seus acordos táticos neste 1º turno, caso o que esteja em jogo seja redesenhar um pacto social que reabilite direitos fundamentais e, não menos, valores civilizatórios.
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