CONTRA-ELITE BOLSONARISTA E SEU DESTINO *
Christian Edward Cyril Lynch**
Os Bolsonaro se apresentaram como a vitória do outsider sujo e feio na política, na qual teria até então dominado um establishment que não refletiria o "autêntico povo", que seria tão conservador, deseducado e violento quanto eles.
Todas suas ações desde o primeiro dia no poder confirmam que sua maior preocupação foi sempre a de constituir uma espécie de "contra-elite" exclusivamente sua, que pudesse dali por diante ser o seu "partido", o seu "pessoal".
Para se enraizaram do nada de onde vieram, os Bolsonaro replicaram o método para os demais subsistemas sociais. Abriram as portas e cofres a todos os empresários "feios e sujos" dispostos a fazer o mesmo. Daí essas aberrações: Havan, Madero, Ogronegócio, Prevent, etc.
A pandemia foi encarada toda por essa ótica: chance de enriquecer os amigos da família Bolsonaro - o empresariado "feio e sujo". Todos esses personagens obscuros que desfilam pela CPI da Pandemia receberiam milhões de reais para nos encher de cloroquina e vacinas indianas.
Os tentáculos do arrivismo reacionário se estenderam para militares, advogados públicos, artistas tipo B ou C e docentes "pela liberdade". A eles se entregou a direção do Estado na saúde, educação, cultura, ciência, irmanados na mesma inépcia, mediocridade e revanchismo.
A moeda de troca desses segmentos foi a fidelidade total ao populismo reacionário dos Bolsonaro. Corrupção, aparelhamento, afronta às autoridades, falta de transparência, ignorância da lei, má fé administrativa, truculência - tudo era permitido no novo Reich tuiteiro.
Nada disso teria sido possível sem a crença messiânica reacionária de que o novo reinado poria abaixo as instituições. Daí a certeza da impunidade dos crimes dos "feios, sujos e ressentidos" que restaurariam o tempo do regime militar ou o século 17, das missões e bandeirantes.
No fim, os tais reacionários foram tão ingênuos na crença de sua "revolução" como a primeira geração de socialistas . Não formam o "autêntico" povo (que não existe), nem sua "revolução" é permanente. O resultado desastroso está aí, reprovado em massa pela população.
O ciclo das aventuras e tropelias iniciado em 2013 acabou. A normalização em 2022 decidirá da sorte dos "sujos e feios" hoje no poder. Haverá uma forte depuração. Os adaptáveis ficarão. A grande maioria, porém, descerá de volta à obscuridade, e se verá às voltas com a justiça.
In te Domine speravit.
* Texto originalmente publicado no perfil do Facebook do autor (https://www.facebook.com/christian.lynch.5). Reproduzimos aqui com a autorização do próprio Christian.
** Cientista político e professor da área no IESP/UERJ. É autor de “Monarquia sem despotismo e liberdade sem anarquia” publicado pela editora da UFMG, “Wanderley Guilherme dos Santos: a imaginação política brasileira - cinco ensaios de história intelectual” publicado pela Revan, dentre outras obras, coletâneas e inúmeros artigos nos campos do Pensamento Político Brasileiro, Teoria Política e História das Ideias Políticas.
*** Bosch - "Cristo carregando a cruz" - Disponível em: https://s.ebiografia.com/img/hi/er/hieronymus_cristo_carregando_a_cruz.jpg, acesso em 23 set. 2021.
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