As muitas mortes dos comunistas*
George
Gomes Coutinho **
Em maio de 2016 Eduardo Bolsonaro,
deputado federal pelo PSC de São Paulo, apresentou o projeto de lei 5358/16. A
proposta do ilustre deputado, nascido em 1984 e muito jovem para replicar
clichês da Guerra Fria, envolve na melhor das hipóteses a reedição do Macartismo
entre nós. Uma outra alternativa seria a confissão da mais profunda e orgulhosa
ignorância histórica. Ou no pior, como diria meu avô, a proposição do projeto
de lei é como colocar uma melancia no pescoço: uma forma um tanto tola de
chamar a atenção.
Talvez na imaginação pouco
informada do deputado o Partido Comunista Norte-Coreano e o Partido Comunista Britânico,
mormente uma entediante reunião de senhores como disse o historiador Eric
Hobsbwam (1917-2012) em sua autobiografia, sejam mesmíssima coisa.
Entre nós, olhando os comunistas
brasileiros, não seria novidade este tipo de tentativa de eliminação
inquisitorial. Afinal, como sempre frisava o cientista político alagoano Gildo
Marçal Brandão (1949-2010), o Partidão entre 1922 e 1985 vivenciou pouco menos
de 3 anos e meio na legalidade. Nada original, o projeto do jovem Bolsonaro
seria só mais uma dentre as muitas mortes dos comunistas em nossa realidade. A
ilegalidade mata como diria Brandão.
Não desconsiderando sua dualidade
constitutiva no Brasil, entre a via insurrecional e a “civilista” ou
institucional de ação, não custa lembrar que a partir do auto-reconhecimento
das atrocidades cometidas nos regimes comunistas realmente existentes desde a
década de 1950 do século passado, incontáveis e relevantes comunistas
brasileiros firmaram postura intransigente em prol da democracia.
Desde a auto-crítica do Partido,
que reconsiderou o papel de Vargas no processo de modernização do país e
defendeu a normalidade institucional, até a participação dos comunistas na
clandestinidade na Frente pela democratização no esfacelamento da ditadura
civil-militar, vimos intervenções, militância e ações que incluem a necessidade
da defesa sem tréguas das liberdades fundamentais. Postura diametralmente
oposta do deputado e sua platéia. Ah! Cabe dizer que o tal projeto de lei
anti-comuna continua parado. Deve ser por sua relevância.
* Texto publicado em 02 de dezembro no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
Nenhum comentário:
Postar um comentário