Glaucenirgate?*
George
Gomes Coutinho **
Em meio aos festejos natalinos
eis que circula um áudio na cidade. Supostamente atribuído ao juiz Glaucenir de
Oliveira, o áudio apresentou observações nada lisonjeiras a respeito de Gilmar
Mendes, ministro do STF e presidente do TSE, na sua atuação no caso Garotinho.
Não me cabe afirmar rigorosamente
nada sobre a autoria do áudio. Tampouco imaginar as razões de quem quer que
seja para fazer circular o material nas redes sociais. Por ora cabe notar que o
conteúdo se concentra em críticas ad
personam direcionadas a Mendes que carecem de provas. Isso a despeito do
áudio ser realmente criatura do juiz Glaucenir.
Inclusive para fins analíticos de
quem se preocupa tanto com o imaginário social quanto com a saúde das
instituições, penso que seja irrelevante nos concentrarmos nos personagens
citados. É preciso olhar mais além do que é fornecido na superfície. E o áudio,
se apropriado enquanto discurso, sintetiza valores, visões de mundo e
posicionamentos que estão circulando na própria sociedade neste momento.
Primeiramente, o áudio, a
despeito de sua veracidade, reforça um elemento encontrado na avaliação do
cidadão mediano: o judiciário, a despeito de certa aura de castidade
reivindicada por parte por seus agentes, não é e jamais foi imune a todo tipo
de influência política e econômica. Não considero este ponto nada
insignificante. Cabe observar que nestes tempos de ativismo judicial parte do
discurso de auto-legitimação contém traços de salvacionismo, heroísmo e
santificação. Reforça uma fantasia que, justamente por ser uma ilusão, jamais
entregará o que foi prometido. Simplesmente não irá “consertar” o real.
Em segundo lugar, quem ainda fica
perplexo com posicionamentos diferentes e disputas em uma instituição complexa
como o judiciário igualmente está divorciado da realidade. Toda instituição,
incluindo Forças Armadas ou religiões institucionalizadas, irá refletir as
divisões da própria sociedade. Inclusive é algo que deveria ser encarado com
naturalidade nas sociedades democráticas. O que causa espécie no momento é o
grau de animosidade, sintoma que pode indicar um judiciário em rota de franca
erosão na sua estabilidade interna.
* Texto publicado em 30 de dezembro de 2017 no jornal Folha da Manhã em Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
Nenhum comentário:
Postar um comentário