Intervenção para quem precisa*
George
Gomes Coutinho **
Os dias imediatamente após as
comemorações carnavalescas trouxeram para a população brasileira em geral, e a
fluminense em particular, o inusitado. No dia 16/02 o anúncio intempestivo de
uma Intervenção Federal pegou muita gente de calças curtas. Desconfio que até
mesmo os policy makers fluminenses se viram em igual condição.
Afinal, que cazzo quer o Governo
Federal na atual conjuntura? A medida foi recebida com críticas e ceticismo por
uma enorme gama de pesquisadores. Cabe ressaltar o ineditismo da situação:
nunca antes na História do Brasil redemocratizado assistimos algo assim. Não se
trata, portanto, de medida insignificante.
É dotada de inegável excepcionalidade e implica o reconhecimento de que algo
vai muito mal com as nossas instituições, a despeito da cantilena que apregoa o
oposto desde 2016. Isso não desconsiderando a medida ser respaldada pela
Constituição Federal de 1988. Para além disso, por qual razão seria o Rio o
objeto da Intervenção? Justamente o estado da federação que não se encontra na
pior situação em termos de violência urbana, não obstante a reconhecida
tragicidade de sua condição estrutural.
Ainda, cabe perguntarmos se era
esse o encaminhamento mais adequado, afinal a intervenção retira a autonomia
decisória do estado no que tange a segurança pública. Isso é grave. Está se
afirmando que o estado tornou-se incapaz de gerir este setor. Mas, seria só
esse? É falta de expertise mesmo? A segurança pública é o maior e mais grave
problema do Rio de Janeiro nesse momento? Oras, e as outras áreas fundamentais
de atendimento da população? O problema é de gestão ou seriam opções suicidas
de contigenciamento orçamentário que provocaram o atual cenário? No rastro das
perguntas inconvenientes: como estabelecem um prazo, um limite temporal para a
intervenção, sem terem delimitado objetivos claros?
Muitas dúvidas diante de tema tão
espinhoso. E uma única certeza para o momento. A mudança de pauta na opinião
pública. A segurança pública do Rio tornou-se, mais uma vez, o “assunto do
momento” em ano eleitoral. Conseguiram o intento após a Reforma Previdenciária
ter subido no telhado. A jogada é maquiavélica se foi para mera mudança de
direcionamento dos holofotes.
* Texto publicado em 24 de fevereiro de 2018 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
Nenhum comentário:
Postar um comentário