quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Bom governo na Planície? Sobre o início de governo municipal em Campos dos Goytacazes

 

Bom governo na Planície? Sobre o início de governo municipal em Campos dos Goytacazes

George Gomes Coutinho


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O governo Wladimir Garotinho se depara com importantes desafios. Nenhum deles é simplório. Exigirá capacidade, esperteza, inteligência política e compreender profundamente a natureza do que se apresenta em seus meandros.


É um pacote de desafios para jogadores de xadrez. A lógica do jogador de damas não sustenta o jogo.


Sem alguma sofisticação o governante contará apenas com a sorte se esta lhe sorrir. O problema é que a deusa Fortuna é cega e não é capaz de discernir tão bem a quem premia. Invariavelmente ela, a Fortuna, não premia necessariamente aqueles que se julgam bons. É preciso de alguma maneira conquista-la, seduzir a deusa, atraí-la.


 O jogador de damas, neste caso, será engolido por uma conjuntura que exige desenvoltura e maturidade. E soluções simplórias para problemas complexos costumam ser não mais que um eventual entretenimento de baixa qualidade para os iludidos.


De todo modo desilusões e ressentimentos produzem consequências. Já vimos que governos mal sucedidos e mal avaliados podem contar com resposta contundente do eleitor local.


Vou a alguns pontos. Não pretendo esgotá-los. Apenas irei elencar algumas questões que me ocorrem.


1 – O cenário de pandemia e pós-pandemia: 2021 não é o mesmo que 2020 em uma série de aspectos. Pode-se esperar uma maior demanda no âmbito de políticas de saúde e pressões diversas motivadas pela deterioração da vida socioeconômica da cidade em decorrência das necessárias medidas recomendadas pela OMS (onde parte da população e do empresariado local sequer aderiu propriamente) para evitar o colapso da rede de atendimento. Sem dúvida uma avalanche de demandas, até mesmo por políticas sociais e assistenciais, ocorrerá no Brasil todo. Mas, serão os governos municipais que sentem e sentirão de maneira próxima, literalmente na carne, esta pressão de demanda neste ano e nos próximos. E não, não é possível vislumbrar qualquer delírio de recuperação com curva em “V” ou algo que o valha;


 2 - A questão fiscal/orçamentária: a postura do governo Rafael Diniz foi a de adesão subserviente à lógica austericida. Reforço que sem dúvida não há como ignorar a concretude do problema fiscal, que asfixia o orçamento de estados e municípios. Todavia caberá a Wladimir e seu staff buscar vias de inovação e mecanismos que permitam contornar e superar, sem ignorar a concretude do problema orçamentário, de maneira responsável, legal e criativa.  Assim o prefeito já tem esboçado com a busca por recursos financeiros vindos de outras fontes para além do município. Contudo, ele precisará também “olhar para o seu quintal”, lidar com questões tributárias na própria cidade de maneira politicamente inteligente e mais eficiente que o governo anterior. Cabe lembrar que o cenário motivado pela pandemia acresce complexidade ao debate fiscal/orçamentário. Só vale, por enquanto, reforçar que o austericídio nos levará em alta velocidade para o abismo. Definitivamente não me parece uma boa opção;


3 – O problema da herança política e simbólica. Parte da narrativa de oposição na cidade coloca Wladimir como um mero continuador de práticas e cultura política da família Garotinho. A acusação, dada a relação ambivalente de admiração e ódio com o clã, pode gerar resistências sistemáticas apriori, dificultando no cotidiano o estabelecimento de um processo de legitimação que poderia energizar o seu mandato. Provavelmente parte deste desafio já se mostra comprometido pelo retorno de grupos e indivíduos em determinadas posições no governo que estavam em algum limbo político durante a gestão Diniz. A conferir;


4 - Campos continuando em suas persistências. Este ponto vai muito além de qualquer governante local. Campos é uma cidade que precisa se repensar em inúmeros aspectos enquanto coletividade. Podemos falar sobre cultura, como se lida com o espaço público, a maneira como nos relacionamos uns com os outros, o cuidado com patrimônio, questões de civilidade, urbanidade, etc.. Esse conjunto de questões intangíveis repele qualquer noção de bem-estar coletivo. Ao mesmo tempo as pequenas barbáries cotidianas criam um caldo que impede grandes avanços no curto prazo não só de cidadania. Uma coletividade brutalizada, desumanizada, também não necessariamente irá produzir maior desenvolvimento material. Campos precisa trabalhar por sua Aufhebung.


* Foto do acervo pessoal.

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