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quinta-feira, 14 de março de 2019

Divulgação - 14M hoje

Movimento Unificado de Mulheres - Campos RJ

1 ano sem Marielle... Hoje gritaremos juntas essa dor e clamaremos por justiça para todas as mulheres assassinadas! Parem de nos matar!

Vídeo: ADUENF e Quiprocó Filmes.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Memória e resistência


Memória e resistência

Por Paulo Sérgio Ribeiro

Há quase oito meses, jaz um silêncio ensurdecedor sobre o assassinato de Marielle Franco (PSOL), vereadora pela capital fluminense, e de seu motorista, Anderson Gomes. Se muito, os militares que conduzem a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro lançam mão de declarações protocolares sobre o andamento da investigação criminal que, ao fim e ao cabo, evidenciam condições favoráveis a um estado de compromisso entre mandantes e executores daquele crime político. O silêncio, no entanto, é uma operação sujeita a reveses. Estes se manifestam por meio de iniciativas de tributo à vida de Marielle Franco, as quais relevam ser a memória social um magma capaz de provocar pequenas fissuras no solo aparentemente rígido da história oficial.

Lembrar Marielle Franco na UENF implica reconhecer esta instituição como um território em disputa no momento em que a violência estatal e a estupidez indômita dos bolsonaristas tornam vulneráveis os espaços nos quais o pensamento seja elaborado como crítica do poder pelas próprias possibilidades facultadas por sua livre expressão do ponto de vista científico. Para exemplificar essa vulnerabilidade na UENF, bastaria lembrar que também paira uma névoa de mistério em torno da invasão da sala do professor Marcos Pedlowski por um grupo que se identificou a serviço da Justiça Eleitoral, ação cuja autoria fora negada pelo TRE-RJ.

Evocar o nome de Marielle Franco é assegurar um lugar de pertencimento a memórias coletivas subterrâneas a partir da empatia que sua trajetória pública suscita para com os grupos dominados. Mais do que isso, mostra-nos a posição defensiva em que se encontra a sociedade civil vinculada com as agendas às quais a vereadora carioca se fazia porta-voz diante de uma sociedade majoritária com perturbadores sintomas de fascistização. Tais sintomas tiveram um registro emblemático na destruição da placa em homenagem à Marielle Franco protagonizada por Rodrigo Amorim e Daniel Silveira, ambos candidatos pelo PSL, partido de Jair Bolsonaro, em ato de campanha ainda no primeiro turno das eleições fluminenses. Tal afronta, diga-se, ocorreu sob o olhar complacente de Wilson Witzel (PSC), eleito governador no segundo turno.


Nada surpreendente. 

O Governo Witzel será a continuidade, em vestes civis, do modus operandi da intervenção federal desde que passou a vocalizar a lógica do “inimigo interno” como fio condutor das ações na segurança pública. "A polícia vai mirar na cabecinha e... fogo", disse Witzel sem maiores pudores nos primeiros dias após o pleito. Há objeções factuais à retórica belicista com a qual o futuro governador pretende estabelecer sua marca política em consonância com o senso comum sobre a violência urbana.

Os mercados ilegais que fomentam tamanha insegurança não se organizam à sombra do aparelho de Estado, mas dele participam na medida em que os bens e serviços que transacionam são mais ou menos passíveis de incriminação conforme as hierarquias sociais que edificam sua estrutura de poder. Dito de outro modo, é irrelevante autorizar a "caça" aos pobres recrutados nas periferias para desempenhar funções subalternizadas nos mercados ilegais, enquanto o controle repressivo estiver dissociado de serviços de inteligência cuja integração ofereça uma visão global das redes que se articulam nesses mercados e cujos principais elos localizam-se nos espaços urbanos dotados de legitimidade social.

Imprimir eventuais reformas ao código penal ditadas pelo punitivismo não desmente a ineficiência da "guerra ao crime", senão ratifica a eficácia de sua seletividade. Essa é a constatação que sociólogos da violência e da criminalidade reiteram com sólida base empírica em suas pesquisas. Menos evidente é indagar por que algumas pessoas são mais "matáveis" do que outras e como essa clivagem acabou sendo um ponto de inflexão na eleição do terceiro estado mais populoso da federação.

A representação política exercida por Marielle Franco foi uma tentativa de produzir uma resposta crítica e propositiva à questão social na cidade do Rio de Janeiro, que, via de regra, é reduzida ao acordo tácito que separa "gente" de "não gente" através de um cordão sanitário entre morro e asfalto sustentado por velhos preconceitos em torno das "classes perigosas". Para tal empreitada, combinava em seu mandato elementos do ativismo identitário com a visão programática de um Estado social que superasse o Estado de exceção vivenciado de maneira nua e crua pelos subempregados e inempregáveis que o nosso capitalismo periférico produziu numa urbanização caótica ao longo do século XX.

Ante a consolidação de um Estado policial que reflete o eterno retorno das soluções autoritárias, redefinir fronteiras sociais (o atual "sair da bolha") é um trabalho de reconstrução política e este implica novos enquadramentos da memória social, de modo que a distância entre o dito e o não-dito seja encurtada nos embates do presente e do futuro para a afirmação de uma civilização comum. Assim sendo, conferir posteridade ao nome de Marielle Franco é uma forma de resistência que permite à UENF entrecruzar referências do campo popular da política fluminense com a defesa de sua autonomia na guarda de um patrimônio universal: o conhecimento científico.

Marielle e Anderson vivem.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Marielle Franco, presente!



Marielle Franco, presente!


Por Paulo Sérgio Ribeiro


Não há como passar incólume pelo assassinato da colega Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes, motorista da vereadora (PSOL-RJ), ocorrido ontem na capital fluminense. Os colaboradores deste blog manifestam pesar e prestam solidariedade às suas famílias. Emprego “colega” aqui respeitosamente, já que Marielle era socióloga, tendo se graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e, em seguida, tornado-se mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). A última credencial acadêmica fora obtida com a defesa da dissertação “UPP: a redução da favela a três letras”, título mais do que emblemático dos temas e problemas que moviam a sua militância a partir de uma realidade estruturada pela violação sistemática de direitos.

Deveras, a inevitável comoção diante do fato não deve balizar a investigação criminal. Espera-se que esta ocorra com sobriedade para a elucidação do crime. Todavia, essa moderação não se confunde com uma pretensa “isenção de ânimo” em face dessa brutalidade, pois, a despeito de quem seja a provável autoria do crime – que reúne elementos típicos de uma execução – calou-se uma voz que, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, amplificava o grito insubmisso de segmentos populares e de minorias submetidos a toda sorte de arbítrio chancelada pela promiscuidade entre o aparelho de Estado e os agentes da criminalidade violenta.

Sua agenda política movimentada e polifônica era um exercício de poder constituinte: a refundação da vida em comum pelas iniciativas de indivíduos e grupos com os quais mantinha uma interlocução permanente em sua vereança; mulheres e homens periféricos que, através do seu mandato, reabilitavam sua capacidade de ação coletiva ao invés de serem capturados pela burocracia do estado como seres anônimos e atomizados para fins de estatística. É cedo para afirmarmos que o assassinato de Marielle Franco foi ou não um crime político na acepção convencional do termo. Mas, sem dúvida, foi uma violência contra a política, se entendida como um poder radicado na liberdade do cidadão comum de praticar a desobediência civil e não no seu controle sob a forma de um cordão sanitário entre o asfalto e o morro que, de tempos em tempos, reduz as bases da convivência ao silêncio cínico diante do terror institucionalizado.

Ato - Homenagem a Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes - UFF/Campos dos Goytacazes, RJ

Prezad@s,

Com profundo pesar diante da tragédia humana ocorrida ontem no Rio de Janeiro e simplesmente horrorizado com a hipótese de também ter sido um crime político, venho informar aos(as) interessados(as) que hoje em Campos dos Goytacazes, RJ, no Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense, (UFF/Campos), ocorrerá um ato em protesto ao ocorrido e em homenagem à memória das vítimas Marielle Franco, vereadora do PSOL no Rio, e  Anderson Pedro Gomes, motorista da vereadora. Ambos assassinados em condições francamente obscuras.

Resumidamente:

Ato em memória de Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes

Local: UFF/Campos - Rua José do Patrocínio, 71.

Horário: 18 horas. 


Nota Associação Brasileira de Ciência Política - Assassinato de Marielle Franco

Na noite de ontem a vereadora Marielle Franco, do PSOL, foi morta a tiros, juntamente com seu motorista, na região central do Rio de Janeiro. A Associação Brasileira de Ciência Política vê com enorme preocupação o assassinato da vereadora dadas as circunstâncias em que o crime foi cometido, segundo a apuração inicial feita pelos jornais. A mínima sugestão de que a vereadora tenha sido executada por seu papel político deve ser considerada e exaustivamente investigada pelas autoridades competentes.
Marielle Franco era socióloga formada pela PUC-Rio, mestre em Administração Pública pela UFF, foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro nas eleições de 2016. No cargo político que ocupava, atuava direta e combativamente em parceria com diferentes frentes dos movimentos sociais ligados aos direitos humanos, ao movimento negro e direitos das mulheres. A perda de sua voz para os movimentos com os quais dialogava e para o cenário político do Rio de Janeiro é, sem sombra de dúvida, irreparável.
É com urgência que a ABCP requisita às autoridades municipais, estaduais e federais uma ampla investigação do crime. É também com decepção que nos dirigimos às mesmas autoridades pela incapacidade diária de garantir o direito à vida dos cidadãos do Rio de Janeiro. 
Expressamos nossa solidariedade aos familiares da vereadora e do motorista Anderson Pedro Gomes. A ABCP espera que as autoridades sejam céleres em oferecer uma resposta definitiva e correta à sociedade.
Disponível em: https://cienciapolitica.org.br/noticias/2018/03/nota-assassinato-vereadora-marielle-franco-psol