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sábado, 23 de dezembro de 2017

Nossa sociedade de castas

Nossa sociedade de castas*

George Gomes Coutinho **

Au Brésil, un air de société de castes. Assim o jornal francês Le Monde avaliou a sociedade brasileira no último dia 16 a partir dos dados fornecidos pelo The World Inequality Lab (Laboratório da Desigualdade Mundial) em seu relatório sobre a situação da distribuição/concentração de riquezas no mundo. Na interpretação dos autores da matéria do jornal francês: “No Brasil, um ar de sociedade de castas”.

Tomando a costumeira Índia, que se mantém enquanto caso exemplar de uma sociedade de castas no imaginário ocidental, neste tipo de estrutura não há mobilidade social. Ou seja, elementos culturais e simbólicos tornariam impossível o indivíduo ocupante de uma casta inferior transfigurar-se em membro de uma casta superior. E mesmo as novidades societárias contemporâneas não fazem ainda com que um raríssimo empreendedor indiano “sem casta”, não obstante ter se tornado rico, escape totalmente do seu destino original.

A brevíssima lembrança de antropologia básica foi apenas para fins didáticos. Afinal, suponho que para os franceses considerarem nosso país como uma “sociedade de castas” há excelentes razões e elas estão no Relatórioda Desigualdade Mundial (World Inequality Report) publicado pelo World Inequality Lab. Os números apontam o Brasil como o primeiro do ranking em concentração de riquezas nas mãos de pouquíssimos. Trata-se da fatia 1% mais rica detentora de 27,8% de toda a riqueza nacional. Este quadro faz com que o país supere até mesmo países do Oriente Médio, o que inclui evidentemente o Iraque com seu 1% mais rico abocanhando 22% da renda nacional.

A concentração de renda, que talvez até apresente hoje percentuais mais alarmantes dado que o período analisado compreendeu entre 2000 e 2015, produz inegáveis efeitos amplamente negativos na sociedade como um todo. Podemos afirmar que o abismo existente entre o topo da pirâmide e os setores intermediários e inferiores, para além da óbvia desigualdade de acesso a bens e serviços, torne qualquer discurso de ascensão social fictício em um cenário de distância social intransponível. Algo muito próximo do que imaginamos ser uma sociedade de castas.

* Texto publicado em 23 de dezembro no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes