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sábado, 10 de maio de 2025

(Ainda) Sobre Lula em Campos: notas sobre o ódio político - versão estendida

 

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(Ainda) Sobre Lula em Campos: notas sobre o ódio político - versão estendida **

George Gomes Coutinho***

A visita do presidente Lula em Campos no último mês de abril produziu reverberações de diferentes naturezas. Há questões que atingem diretamente os atores do sistema político, com ênfase nas estrelas regionais, e boas notícias para o ensino público. Também a cidade foi citada positivamente na mídia nacional. Afinal, não obstante o momento sombrio que meus colegas enfrentam nos EUA, que seguem na direção do abismo da desdemocratização, a educação persiste, na média, como pauta celebrada pela população.

É importante notar que a inauguração dos prédios da Universidade Federal Fluminense não foi uma festa académica. A disputada inauguração dos prédios foi uma festa popular comemorada por milhares de pessoas no campus da UFF e nos arredores. Foi uma celebração multipartidária e democrática, com tonalidade majoritariamente progressista dada pela militância e pelos representantes de movimentos sociais. Mas, ali também estavam pessoas do staff da prefeitura, colegas e estudantes do IFF, vi amig@s da UENF, cidadãos e cidadãs comuns, ex-alun@s, tod@s prestigiando o momento histórico para a região.

Destoou a vaia, que não ocorreu em uníssono, no momento do discurso do prefeito Wladimir Garotinho. Vale dizer que o próprio Lula saiu em defesa do prefeito que, quando ainda deputado federal, protagonizou a articulação pelas verbas que permitiram a finalização dos dois prédios de sete andares que agora constituem a paisagem da avenida XV de Novembro. Ainda, no conteúdo do discurso de Wladimir, não foi detectado trecho que justificasse o constrangimento. Foi vaia autoritária com o objetivo de impedir a continuidade do discurso. Se eu reconheço que o prefeito por vezes voluntariamente macula o próprio currículo, como no veto ao projeto “Por uma infância sem racismo”, e também demonstra insistência em lamentáveis investimentos de networking político cortejando quadros extremistas na direita, em seu discurso na ocasião não havia conteúdo a ser combatido. Não que o poder local não precise da construção de um vigoroso, propositivo e popular movimento de oposição. Precisa muitíssimo. A questão é que este movimento precisará demonstrar que sabe fazer algo além de vaiar. Mas, ressalto, para além da vaia, não soube de ofensas ou ameaças à integridade física do prefeito. Algo que decorreu no outro lado do espectro político.

A visita do presidente atraiu outros setores que se mobilizaram. Forças da direita distribuiíram ofensas que foram ostentadas em pichações nos muros nos arredores do novo campus da UFF. Junto a esta ação, alguns militantes foram para a rua da UFF no 14 de abril último, um punhado de poucos indivíduos, tentar coagir as pessoas filmando sem autorização, ofendendo, provocando, xingando. Cheguei cedo e vi um rapaz enrolado em uma bandeira do Brasil, até então estava solitário, se protegendo amuado atrás de policiais militares, tal como criança medrosa agarrada na saia da mamãe. A ele se juntaram depois outros poucos. Poucos e ruidosos.

Um carro emparelhou com a comitiva presidencial, antes de Lula chegar ao campus, para ofender o presidente.

Em dado momento, enquanto o evento ocorria, um mototaxista atropelou uma pessoa forçando passagem em via urbana interditada por conta da cerimônia. A rua não estava interditada para ele pessoalmente. Era para todos. A questão é que este em particular talvez se julgasse além da lei e das regras.

Eu mesmo, ao final de tudo quando ia embora, ao entregar uns trocados para o flanelinha que guardava meu carro, fui chamado de “petista ladrão!”. Foi mais um valente mototaxista que, demonstrando em sequência sua incontestável coragem, se evadiu em alta velocidade. Não tive tempo para nenhuma reação.

Antes de prosseguir, gostaria de salientar que em visitas de chefes de governo a crítica é parte do cenário democrático. Grupos, movimentos, setores e até indivíduos aproveitam o momento para tentar abrir canais de diálogo, apresentam demandas, chamam a atenção para suas causas, protestam. É do jogo. Mas, o que vimos foi hooliganismo.

O hooliganismo se move com o objetivo final de eliminação do outro, tal como é no futebol, espaço onde os hooligans foram criados. A violência, simbólica ou até mesmo física, é mobilizada como recurso. No caso da visita de Lula estes indivíduos não apresentaram demandas. Fizeram uso político da violência. O curioso é que eram populares. Não sei quem foram os pichadores. Mas, vi as pessoas que ali estavam ofendendo e xingando no dia da inauguração dos prédios da UFF. Eram homens comuns. Os pobres de direita, como classificou o sociólogo Jessé Souza.

Eu consigo compreender pragmaticamente o que chamo de sócios majoritários e sócios minoritários da extrema-direita. Defendem o que Bruno Wanderley Reis, colega da área de ciência política da UFMG, já chamou de “agenda anti-regulatória”[1]. É o movimento de “passar a boiada”, que consiste em retirar as proteções institucionais e jurídicas que tentam diminuir os impactos de relações constituídas por assimetrias. O objetivo é que o mais forte, enfim, possa predar o mais fraco sem que ninguém tenha onde e a quem recorrer. Vale expulsar indígenas de suas terras, legalizar a grilagem, demitir quem quiser sem que ninguém encha o saco, manter o país como um paraíso fiscal para o andar de cima, extorquir, poder exercer diferentes formas de sadismo com empregados... Tudo isso é o que une parte do capital financeiro, sindicatos patronais identificáveis na cidade e no campo, madames, etc..

Mas, e os populares que vi desferindo impropérios e rangendo os dentes para pessoas que jamais viram antes? Ação coletiva dá trabalho, consome tempo e energia, e eles bancaram os custos. É preciso deixar o conforto do lar. Precisa de investimento libidinal! Não era um protesto com pauta econômica, anti-inflacionária, contra a carestia de gêneros alimentícios. Era ódio. Algo na fantasia desses indivíduos parece sugerir que a eliminação de sua nêmesis, Lula e arredores, vale muito a pena. Talvez, para ser até pudico, uma transformação estrutural, seja lá o que for, poderia advir. Não sei o que imaginam. Paolo Demuru, pesquisador italiano que atua no campo da semiótica, nos lembra do quanto narrativas delirantes, como as teorias da conspiração[2], e discursos de ódio podem funcionar como um remendo, um band-aid perverso, para vidas que se consideram irrelevantes, ressentidas, impotentes diante da brutalidade inerente ao nosso modo de viver nesta etapa do capitalismo. Freud e Reich há mais ou menos um século viram sinais parecidos na ascensão do nazifascismo, onde detectaram ali uma tentativa fajuta de encantamento e empoderamento em um cotidiano duro e sem compaixão. De todo modo o ódio que foi expresso aqui em Campos no abril último, é o que, no limite, implicaria a destruição do objeto. Ódio é afeto, tanto quanto o amor, mobilizador, poderoso e mortífero.

O que se depreende da experiência é que se confirma, mais uma vez, a persistência de uma base popular radicalizada relevante pela direita. A matéria-prima deste setor, distante socialmente dos sócios majoritários e sócios minoritários do bolsonarismo e arredores, é o mal-estar capturado por narrativas que se retroalimentam exaustivamente no ecossistema de informação vampirizado pelas big techs. Nesta seara os algoritmos, em nada neutros, ajudam a repetir conteúdos que reforçam o sintoma. O que gerou as cenas de destruição do 08 de janeiro circula entre nós em tonalidades vívidas. Por tudo isso, sim, sem anistia! E, além de palavras de ordem, o mal-estar desses setores precisa ser processado em respostas efetivas e pacíficas no campo democrático. A democracia precisa recuperar a musculatura desidratada por décadas de discursos e práticas de austeridade.


* Disponível em: https://www.uff.br/15-04-2025/presidente-lula-inaugura-nova-sede-da-uff-em-campos-dos-goytacazes/, acesso em 10 de maio de 2025.

** A primeira versão, encurtada, foi publicada na página 4 do jornal Folha da Manhã em Campos dos Goytacazes, RJ. A primeira versão foi editada pelo próprio autor para caber na formatação do jornal. Aqui no blog, que pôde ir além das 70 linhas delimitadas pelo editor do jornal, se apresenta versão um pouco maior e levemente modificada do texto original.

*** Professor da área de Ciência Política na UFF, campus de Campos dos Goytacazes, RJ.

[1] Em entrevista para o Canal Meio disponível aqui: https://www.youtube.com/live/U9SIS8cbt8c?si=nvX2MAbPgydnmqil, acesso em 04 de maio de 2025.

[2] Recomendo efusivamente o “Políticas do encanto: extrema direita e fantasias de conspiração”, opúsculo lançado por Demuru no ano passado pela editora Elefante.


quinta-feira, 22 de agosto de 2024

PT de Campos dos Goytacazes, o partido que virou suco - Douglas Barreto da Mata

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PT de Campos dos Goytacazes, o partido que virou suco

Douglas Barreto da Mata** 

Um breve histórico sobre o Partido dos Trabalhadores, que nasce como uma junção de setores de movimentos políticos que resistiram à ditadura cívico-militar com outros setores mais recentes, no fim da década de 70, início dos anos 80.

 Uma base eclesial, que tinha como orientação a Teoria da Libertação, egressos da resistência armada e exilados que retornavam, integrantes do movimento estudantil, que ressurgia, intelectuais, artistas, e claro, o movimento operário do ABC de São Paulo, que era quase hegemônico no partido (e de certa forma, ainda é, senão como movimento operário, mas pelo domínio paulista).

 Essa mistura pariu várias tendências, que davam um aspecto de cacofonia partidária, que não raro era considerado um ambiente impossível de se fazer política, dada a tradição do caciquismo político nacional.

 Não foi esse o problema do PT, nem no Brasil, nem em Campos dos Goytacazes.

 Na planície goytacá, o partido nasce da iniciativa de servidores públicos (como em boa parte das capitais, exceto SP, ABC paulista e outras regiões industriais), setores da Igreja Católica (como resposta ao enclave ultra tradicionalista local), e algumas lideranças rurais, já que a dinâmica econômica campista não permitia a existência de um movimento operário forte.

 A atividade industrial por aqui sempre foi ligada à agroindústria, no ramo de fabricação e manutenção de insumos para as plantas das usinas, ou para a manutenção de bens de capital, usados na lavoura (material rodante, caminhões, etc).

 Foi assim que o PT de Campos surge, bem no meio do início da transição econômica da economia agroindustrial para o extrativismo de hidrocarbonetos.

 Em 1980, 1981 ainda não se falava de petróleo ou de royalties, mas já eram ouvidos os primeiros ruídos da fratura das oligarquias rurais.

 Data desta época a estranha simbiose entre o PT  comum fenômeno da comunicação de massas local, que usava o rádio, então a plataforma que atingia os mais pobres da cidade e, principalmente, os alcançava onde a TV não ia, no interior.

 Anthony Garotinho é um dos fundadores do PT, e olhando hoje a situação do partido na cidade, isso explica muita coisa.

 Desde então, a vida partidária do PT local se resume a amar odiar ou a odiar amar o ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-prefeito e ex-governador, e duas vezes secretário estadual, uma vez de agricultura, com Brizola, e depois, de segurança, com sua esposa como governadora.

 Mas por que o PT ama odiar a família Garotinho?

 Em 1988, o PT racha, sendo que uma parte sai para a campanha do então candidato a prefeito, Garotinho, que concorria contra o cambaleante Zezé Barbosa (avô de Rafael Diniz), e a outra parte defende e leva adiante um candidato, Luiz Antônio Magalhães.

 Daquele momento até hoje, reduzindo um pouco as coisas, é possível afirmar que o PT se uniu e se separou do clã Garotinho quase sempre sem conquistar nada, nem na entrada, nem na saída.

 Isso se estende aos aliados da família que se transformaram em opositores do clã.

 Ou seja, ainda que buscando alternativa, esse deslocamento sempre se deu com pouco acúmulo, ou como resultado de arranjos “vindos de cima”, em sua maioria, para submeter o interior e a capital do Rio de Janeiro às demandas de Lula e do PT/SP.

 O PT esteve no governo Arnaldo Vianna, esteve junto com Garotinho no seu primeiro governo estadual, até o rompimento, esteve com Carlos Alberto Campista (dissidente do grupo dos Garotinhos), esteve com o desastre Alexandre Mocaiber, e por último, com a catástrofe Rafael Diniz.

 Sempre a reboque, sempre na hora errada, pelos motivos errados, ou pior, sem qualquer motivo que valesse à pena.

 Há episódios de bons resultados eleitorais, como os irmãos Rangel (Antônio Carlos e Zé Maria), e Makhoul Moussalem.

 Mais uma vez, estes projetos pessoais nunca repercutiram na vida do partido, ou se repercutiram, apenas para dar mais dimensão aos personagens, que se encolheram em seus projetos personalíssimos.

 O partido que vira suco.

 Toda essa trajetória e nosso vínculo afetivo com o partido nos levaram ao exercício de tecer algumas análises, todas, sem exceção, publicadas no Blog do Pedlowski.

 Em junho de 2024 fizemos uma análise mais ampla:

https://blogdopedlowski.com/2024/06/20/o-pt-e-sua-singularidade/

 Depois passamos ao escrutínio na cena campista.

 O processo de amadurecimento da campanha eleitoral petista, desse ano de 2024, nos chamou a atenção, já que a conjuntura nos mostrava pouco espaço de manobra para o partido, soterrado por um avanço do conservadorismo, que se não é inédito por essas plagas, assumiu contornos mais agudos desde 2018.

 Talvez a cidade esteja no mesmo nível de ânimo conservador de sempre, mas o ruído produzido por setores mais extremados dão a impressão de um aumento da direita.

 Esta é a primeira noção que passa despercebida ao PT de Campos dos Goytacazes, talvez seduzido, mais uma vez, por acenos e atalhos patrocinados por forças políticas antagônicas aos Garotinhos.

 Encaixotado na disputa entre os Bacellar e os Garotinhos (como já aconteceu com cada um dos clãs que antagonizam os Garotinhos), o PT foi levado a promover um suicídio político-eleitoral, e aguardou uma candidata deputada estadual, que estava impedida, e que agia por ordem do clã Bacellar.

 A ideia era usar o partido como ponta de lança contra os Garotinhos, neste caso personificados no Wladimir Garotinho, para facilitar o caminho da extremista de direita, a delegada Madeleine.

 Falamos disso por aqui:


https://blogdopedlowski.com/2024/07/16/por-onde-anda-wally/

 Sem a candidata deputada, sem os votos dela, sem sequer sua presença, Jefferson Manhães, ex-reitor do IFF, neto do José Alves de Azevedo (que foi prefeito do PTB, e perdeu o cargo para um golpe de Zezé Barbosa, aliado dos militares), o PT de Campos ficou pendurado na brocha.

 Porém, como se tudo isso não fosse suficiente, o PT local insiste nesse papel secundário, de rabo de elefante, no lugar de ser cabeça de mosquito, como sempre falo.

 O caso do IDEB foi um clássico, onde Jefferson se aliou à extrema-direita para passar um vexame digno de Kim Kataguiri, ou de Carla Zambeli.

 Tratamos disso aqui:

 

https://blogdopedlowski.com/2024/08/18/o-ideb-separa-a-california-da-louisiana-mas-aproxima-o-pt-da-extrema-direita-em-campos/

  

Bem como antes falamos das possibilidades do PT em Campos:

 

https://blogdopedlowski.com/2024/08/12/o-pt-de-campos-e-suas-possibilidades-em-2024/

 Como se pode ver, há uma anacronismo tal nas ações do partido, que nem precisamos dar um aspecto cronológico nos textos.

 É como se fosse uma burrice atemporal, quase anti histórica mesmo, que nos leva de volta à questão:

 Por que o PT de Campos ama odiar os Garotinhos, e orienta toda sua trajetória a partir dele como referência, ao contrário do que deveria fazer, já que o PT de Campos diz ser a alternativa a esse modelo dos Garotinhos?

 Historicamente incapaz de adentrar no campo popular campista, segregado no eleitorado de classe média, cujo caráter tem sido mais sensível, ultimamente, às falas da extrema-direita, o PT de Campos ficou sem lugar, como resultado de um processo que não é recente.

 Em verdade, a nível nacional instalou-se certa esquizofrenia no PT quando a pauta “moralista” anticorrupção foi subtraída do partido (que a usava com maestria no fim dos anos 80 até o início dos anos 2000).

 Como teve que governar e fazer alianças, o partido afastou as bases sindicais, movimentos populares do campo e da cidade, e optou por dar ênfase ao institucionalismo e aos reclames da governabilidade, que como um círculo vicioso, ou um saco sem fundo, exigiu cada vez mais concessões, que por sua vez enfraquecia a base popular de mobilização, e cada vez mais fraco, o PT precisa ceder mais, e  por aí foi.

 Uma prova:

 Dilma foi golpeada, Lula preso, sem resistência.

 Nada.

 Em Campos dos Goytacazes esse problema se deu nos moldes das especificidades locais.

 Durante um tempo, os apelos moralistas do PT mantiveram uma parte do eleitorado classe média conservador e anti garotista.

 Com o advento da devassa do lawfare recente, que foi iniciado em 2006 (mensalão), a legenda desidratou.

 Porém, ao invés de optar por demarcar um campo político que afastasse a extrema-direita e seu discurso predileto (moralista), o PT escolheu disputar esse campo com os extremistas, o que parece-nos que vai levar o partido a ser reduzido ainda mais.

 Assim, ao invés de ter a coragem de falar o que tem que ser dito, como rico é que deve pagar imposto, desenvolvimento econômico desigual não nos serve, reforma agrária é urgente, etc, o PT de Campos tenta seguir o caminho da suavização envergonhada, pálida, brigando com IDEB, acendendo a mais horrorosa demonização e criminalização da pobreza e de populações de rua, fazendo coro às histerias da classe média.

 Bem, como não há espaço vazio em política, o PT corre o risco de contribuir para o isolamento do prefeito atual, ou pior, na sua reaproximação com setores mais radicais de direita.

 Não devemos cair na palermice de imaginar que a presença de Flávio Bolsonaro seja um sinal de que Wladimir Garotinho pendeu para aquele espectro da política.

 Só os tolos e os petistas, do tipo “Sou PT, mas voto Feijó”  defendem uma asneira dessas.

 Observar com honestidade o cenário estadual mostra que Wladimir atraiu Flávio, e interditou uma aliança com as facções mais exaltadas aqui no interior, e de certa forma, esse movimento se reflete no afastamento de uma parte dos Bolsonaros de Cláudio Castro e Cia, inclusive porque Carlos Bolsonaro vai disputar vaga para o senado, em detrimento do governador, ou de quem ele indicar.

 A percepção desse racha, com a presença do senador filho do ex-presidente, dão uma demonstração do faro fino do prefeito campista em aproveitar brechas e costurar alianças de todos os lados, fazendo interlocução simultânea com todas as matizes ideológicas.

 Sem um programa, e pior, sem interesse em fazer a diferença entre a extrema-direita representada na delegada e seus aliados do Governo do Estado e o atual prefeito, que ele mesmo reivindica um “centro” político que, se não existe, ao menos o torna mais ameno ao debate, o PT, mais uma vez, renuncia àqueles que seriam bons motivos para conversar com um “centro” (o que, aliás, é o que Lula faz todo o tempo), e embarca na canoa da extrema-direita, reproduzindo conceitos caros à ela, como eco.

 Por fim, o PT de Campos abre mão de renovar seu discurso de esquerda, com o qual poderia sentar à mesa e disputar espaço onde é possível disputar.

 Espremido pelas contingências e por sua própria inabilidade, deixando que a coordenação de campanha afunde o porvir partidário, eis que o PT de Campos virou suco.

* Disponível em: https://brasiliarios.com/images/estreladoPT1.jpg, acesso em 22 de agosto de 2024.

** Douglas Barreto da Mata, inspetor de polícia desde junho de 2003, com passagens por delegacias de São Gonçalo, Maricá, Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes. Formado em eletrotécnica pela então Escola Técnica Federal de Campos, atual IFF. Autodidata, marxista convicto e fã de Led Zeppelin, Chico Science, Nação Zumbi, e Mundo Livre S/A. Militante do PT desde 1986, onde integrou o diretório municipal de Campos dos Goytacazes e o diretório regional do RJ. Participou dos governos Arnaldo Vianna, na aliança PT/Garotinho em 1999/2000, na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima e do governo Benedita da Silva, como chefe de gabinete da FENORTE, em 2001/2002. Editor do blog Planície Lamacenta.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

A eleição venezuelana de 2024 - Luis Felipe Miguel

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A eleição venezuelana de 2024**

Luis Felipe Miguel***

Somente os muito crédulos aceitam que as eleições na Venezuela foram limpas. A questão não é a discrepância com uma apuração privada paralela, um argumento obviamente sem pé nem cabeça e que aparece nas narrativas dos defensores de Maduro como maneira de desqualificar a crítica.

Vamos olhar para os percentuais quase redondos dos candidatos, implausíveis. Ou para o presidente venezuelano anunciando precocemente sua vitória, com percentuais exatos, faltando ainda um quinto das urnas a serem totalizadas. Ou para a ausência de apresentação das atas. Ou para o veto a observadores externos, quando seria fundamental para o regime garantir uma aparência de total lisura no processo.

Sem falar nas sucessivas investidas contra a oposição e no alinhamento quase ostensivo da justiça eleitoral ao governo.

Breno Altman, na Folha de ontem, disse que “o sistema eleitoral da Venezuela já foi elogiado por Jimmy Carter como um dos mais sólidos do mundo”. Esqueceu de dizer que a declaração foi feita em 2012. E que o Centro Carter, criado pelo ex-presidente estadunidense e especializado em acompanhamento de eleições, afirmou que a eleição de agora “não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”.

O fato de que a oposição as Maduro é hegemonizada por títeres do imperialismo estadunidense não muda essa realidade: até onde vista alcança, é muito mais provável que o pleito tenha sido fraudado.

Nada disso justifica, é claro, que uma potência estrangeira – os Estados Unidos – proclame que outro candidato foi o vencedor.

Não há como “reconhecer” uma vitória que não foi proclamada por nenhuma instituição oficial. O que os Estados Unidos e seus aliados tentam fazer, ao proclamar Edmundo González como vitorioso, é invalidar a soberania venezuelana e abrir caminho para um golpe.

É uma reedição da palhaçada com Juan Guaidó, proclamado “presidente” da Venezuela em 2019 por Donald Trump.

A posição oficial do Brasil está correta. Trata-se de exigir do governo venezuelano que apresente as atas e estabelecer um caminho de negociação para encontrar saídas para a crise – e para a construção de uma Venezuela soberana e democrática.

Não é o que querem os Estados Unidos. Nem, de fato, os defensores incondicionais de Maduro.

Vale a pena ler a entrevista do embaixador Benoni Belli, representante do Brasil na OEA, à Folha de S. Paulo.

Com o tato necessário, ele põe o dedo na ferida, explicando porque a OEA não foi capaz de aprovar uma resolução sobre a Venezuela (o texto apresentado pelos Estados Unidos foi rejeitado):

“Houve quem tentou criar uma falsa dicotomia entre defensores e detratores da democracia. Esse tipo de narrativa pode servir aos propósitos de ganhar pontos na política doméstica de alguns países, mas não se coaduna com a diplomacia multilateral, que exige negociação e busca de caminhos comuns”.

É preciso simultaneamente pressionar e respeitar o governo venezuelano.

A direção do PT lançou uma nota equivocada e Lula errou na declaração sobre a “normalidade” da situação. Mas a posição oficial do Brasil, expressa pelo Itamarati, pela representação na OEA e pelo comunicado conjunto com Colômbia e México, é correta.

A mesma imprensa que condena o governo por qualquer declaração mais enfática contra Israel quer hostilidade aberta contra a Venezuela – como se uma suspeita de fraude eleitoral fosse mais grave que um genocídio e como se não tivéssemos que ser cautelosos nas relações com um país vizinho. Mas é só vontade de ficar a serviço do imperialismo.

* Disponível em: https://chappatte.com/en/images/a-very-close-venezuelan-election, acesso em 05 de agosto de 2024.

** Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor em 05 de agosto de 2024: https://www.facebook.com/luisfelipemiguel.unb  

*** Professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). Está lançando este ano, pela editora Boitempo, o seu "Marxismo e política: modos de usar".

terça-feira, 30 de julho de 2024

Eleições 2024 e o “efeito Witzel” - George Coutinho

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 Eleições 2024 e o “efeito Witzel” **

 George Gomes Coutinho ***

 

Ando acompanhando com muita atenção as entrevistas de candidatos/pré-candidatos a prefeito(a) de Campos para estas eleições. Eis uma das melhores maneiras de conhecer justamente o que a classe política local anda pensando, sobre eles mesmos e sobre a cidade.

Neste trabalho de audição atenta e respeitosa, um ponto tem se repetido, especialmente entre os nomes mais à direita: a esperança no que estou chamando de “efeito Witzel”. Me explico.

Nas eleições de 2018 tivemos o crescimento espantoso das intenções de voto de Wilson Witzel, ex-governador impichado do RJ e também meu colega no PPGCP/UFF em Niterói. Antes de prosseguir advirto ao leitor que não tenho nenhuma responsabilidade nos dois pontos biográficos que citei. Fiz até mesmo declaração pública de voto em Eduardo Paes para o Governo do Estado naquela ocasião.

De todo modo Witzel, até então um ilustre desconhecido e muitas vezes apelidado de Pretzel entre seus detratores, disparou na reta final nas intenções de voto e ganhou o pleito para governador do RJ no segundo turno. Com consistentes quase 60% dos votos válidos.

Esta disparada na intenção de votos não foi detectada no decorrer de 2018 e causou até perplexidade. Eis o “efeito Witzel”.

Em Campos, até o presente momento, as pesquisas de intenção de voto e de humor do eleitor com a atual administração indicam que Wladimir Garotinho pode, sim, liquidar a fatura já no primeiro turno. A questão é que nas entrevistas os opositores de Wladimir apostam na possibilidade de ocorrer o “efeito Witzel”. Ou, em outros termos, há a esperança declarada de que um ou mais nomes na concorrência eleitoral possam surpreender a todos nós e produzir uma reversão de expectativas na concorrência para a Prefeitura.

O maior problema deste raciocínio é desconsiderar o contexto das eleições de 2018 e até mesmo o pleito de 2016.

A conjuntura foi uma tempestade perfeita. Lavajatismo, antipolítica, prisão de Lula (que liderava as intenções de voto para presidente em 2018), diversos nomes se apresentando com um discurso antissistema e se vendendo como vacina “contra tudo o que está aí”. Foi isso que levou diferentes agentes com discurso, verídico ou não, de outsiders ao poder. Vide Dória em Sampa com seu papo “não sou político, sou empresário”, Kalil em BH e até mesmo Rafael Diniz em 2016, o primeiro eleito para a Prefeitura campista que não era egresso do grupo Garotinho.

Bolsonaro, Witzel, igualmente, ambos em 2018, surfaram uma onda muito específica que os alçou ao poder.

Dois mil e dezesseis e 2018 não foram anos de “eleições normais”. A conjuntura produziu diversos resultados surpreendentes.

Bem, e agora? A conjuntura não é a mesma. Diferentes análises indicam que as eleições de 2022 se movimentaram para alguma normalidade, tendo menos espaço para outsiders nos executivos locais, estaduais e nacional. Ou seja, longe de quebras bruscas e reversões radicais de expectativas, estamos voltando para um comportamento “normal” do eleitor onde este avalia simplesmente seu bem-estar, se o trabalho de policy making (elaboração de políticas) lhe é satisfatório ou não.

Penso que a tendência do processo de alguma desradicalização em curso, iniciado em 2022 e presente nos discursos de diferentes candidatos aos executivos estaduais, pode seguir neste 2024.

Dois mil e vinte e quatro tá com um “jeitão” de eleição normal. O humor (mood) do eleitor, que produziu o “efeito Witzel”, parece não estar presente.

Então, tudo mais constante, parece que a vantagem do incumbente campista segue até termos fatos novos que produzam a reversão de expectativas.

* Disponível em: https://pbs.twimg.com/media/EGmcUONWkAIPOO6.jpg, acesso em 30 de julho de 2024.

** Uma primeira versão desta reflexão foi publicada no perfil de facebook do autor em 22 de julho de 2024 (disponível em: https://www.facebook.com/george.coutinho.35/). A segunda versão foi publicada na página 04 do jornal campista Folha da Manhã em 27 de julho de 2024.

*** Cientista político, sociólogo e professor no Departamento de Ciências Sociais da UFF-Campos.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Os Bacellar, o Executivo local e 2024 - George Coutinho

 

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Os Bacellar, o Executivo local e 2024**

George Gomes Coutinho***

 

No cenário institucional da divisão dos Poderes temos duas situações quando falamos sobre a mobilidade dos agentes: a) a permanência no Poder de origem; b) o trânsito de um Poder para outro. A história política tem incontáveis exemplos das duas situações para todos os gostos. Temos carreiras solidamente estruturadas e longevas em que há uma vida inteira dedicada a um só Poder. E há aqueles que transitam demonstrando, por vezes com brilhantismo, a versatilidade daquele mesmo agente político individual. Mas, o que explica a decisão, seja por mobilidade, seja por permanecer onde está? Minha resposta envolve cálculo e paixão.

Agentes políticos não fazem menos cálculos racionais que os agentes situados analogamente na economia. Custos, recursos, viabilidade e expectativas. Tudo isso importa, seja para o mercado econômico ou para o mercado político. O problema é que não somos só cálculo frio. Nem nós e nem a classe política. Há algo de paixão que dá sabor à aventura humana. A luta pelo poder e a manutenção da conquista são empreendimentos custosos. Em troca do quê? Seja em Nicolau Maquiavel (1469-1527), seja em Thomas Hobbes (1588-1679), as respostas que explicam essa busca existencial dos agentes políticos transitam entre honra e glória. Quiçá deixar um legado com potencial de transcender uma vida humana em sua limitada duração. Portanto, longe de certo cinismo costumeiro da opinião pública, fazer política em seu sentido profundo vai além do vil metal (embora a atividade seja também meio de mobilidade social e enriquecimento). A paixão por um projeto, pessoal ou coletivo, pode despertar o desejo de mudança do agente político de um poder para outro.

Querer migrar de Poder é lícito e faz parte das regras do jogo. Entra na construção da biografia do político profissional e pode ter motivação tanto no cumprimento de imperativos do momento, por exemplo a missão partidária, ou a busca por glória. Já a possibilidade concreta da migração, os meios dados pela conjuntura, tudo isto é de natureza factual. Há ou não há a viabilidade.

É este o espírito da discussão sobre os Bacellar e a disputa eleitoral em Campos neste ano de 2024.

Os Bacellar são, na atual quadra histórica, um dos clãs políticos mais bem-sucedidos da região Norte Fluminense. Sr. Marcos Bacellar, nascido em 1950, o patriarca, e seus filhos Rodrigo, de 1980, e Marquinho, de 1984, somam sete mandatos legislativos, contando os que estão ainda em vigência. Cinco na Câmara de Vereadores de Campos dos Goytacazes e dois na Alerj. Este capital político acumulado em expansão, que inicia na trajetória sindical do pai do clã, não encontra par facilmente nas carreiras políticas locais. Com tudo isso, Marquinho ocupa no momento a presidência da Câmara de Vereadores. Rodrigo preside a Alerj. Não são figurantes ou amadores. Presidir Casas Legislativas só é feito alcançável mediante trabalho duro, leitura dos interesses em jogo, acordos e estômago. E ali permanecer? Razão estratégica, contemplar demandas e, por vezes, força bruta.

A ambição política do grupo de alguma maneira encontra síntese bem acabada na trajetória de Rodrigo. Em perfil elogioso feito pelo jornal Folha de São Paulo em 27 de abril deste ano, o capital político conquistado por ele é destacado, o que o coloca como um dos homens fortes da política fluminense. Não por acaso a campanha de Eduardo Paes, favorito nas pesquisas na disputa carioca deste ano, corteja explicitamente o deputado campista.

E Campos nessas eleições municipais? Como eu já disse no programa Folha no Ar em março último, o clã Bacellar optou por participar terceirizando sua representação na disputa pela prefeitura. Não virão em nome próprio e não migrarão, em pessoa, do Legislativo para o Executivo. Marquinho, ao que parece, seguirá disponibilizando seu nome para a vereança e, assim sendo, conquistará seu terceiro mandato sem dificuldade.

Verdade seja dita, nenhum Bacellar assumiu compromisso público indicando que disputaria a Prefeitura neste 2024. Contudo, dado o indisfarçável investimento em fase de pré-candidaturas, é impossível que neguem seu interesse no Poder Executivo campista. Pelo contrário. Os Bacellar já têm sua presença na disputa para o Executivo emprestando seu capital político, presença e máquina.

A paixão também é indiscutível e transborda nos duros embates públicos com os Garotinho, outro clã inegavelmente relevante. Por vezes as brigas são de corar os mais sensíveis e já se tornaram caso de polícia. A disputa dos pais dos clãs por vezes se replica, em baixos teores, nas estocadas verbais trocadas entre Wladimir e Marquinho.

Há paixão, portanto. O desejo também é detectado, mesmo que reprimido na terceirização da presença do clã na disputa para a Prefeitura e explicitado nos investimentos decorrentes. E há a frieza do cálculo. Os números, a preço de hoje, indicam que 2024 parece ser o ano da reeleição de Wladimir Garotinho. Tudo o mais constante é melhor proteger o capital político angariado pelos Bacellar do desgaste da derrota diante de um adversário relevante. Afinal, Rodrigo e Marquinho são jovens, demonstram fôlego e ambição. E 2028, uma nova rodada de disputa, chegará antes do que se pensa. Talvez lá o cálculo frio vislumbrará uma janela que permita a migração dos Bacellar para o Executivo caso estes concretamente desejem.

* Foto publicada no perfil de instagram do vereador Marquinho Bacellar. Disponível em: https://www.instagram.com/marquinhobacellaroficial/, acesso em 25 de junho de 2024.

** A primeira versão deste texto foi publicada em 22 de junho de 2024 tanto na página 4 do jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ, quanto no blog Opiniões do jornalista Aluysio Abreu Barbosa, disponível em: https://opinioes.folha1.com.br/2024/06/22/george-coutinho-os-bacellar-o-executivo-local-e-2024/ , acesso em 25 de junho de 2024.

*** Cientista político, sociólogo e professor no Departamento de Ciências Sociais da UFF-Campos

sábado, 22 de junho de 2024

SOBRE PRESTES, BRIZOLA E LULA - Breno Altman

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SOBRE PRESTES, BRIZOLA E LULA** 


Breno Altman***


A esquerda brasileira, em mais de cem anos, desde a greve geral de 1917, produziu somente três grandes lideranças nacionais, capazes de ter suficiente apoio para assumir protagonismo e comandar o país.

A primeira delas, a mais heroica, foi Luiz Carlos Prestes, principal figura dos levantes tenentistas. Seu período de real influência foi dos anos 20 até os 60. Chefiou a coluna que levaria seu nome, conduziu a insurreição de 1935, passou quase dez anos preso e, apesar da clandestinidade e do clima anticomunista da guerra fria, além dos graves erros cometidos por seu partido e por si mesmo, desempenhou papel de relevo até o golpe de 1964. Não é à toa que encabeçava a primeira lista de cassação da ditadura.

A segunda foi Leonel Brizola. Por seu papel na crise de 1961, quando era governador do Rio Grande do Sul e comandou a resistência que derrotaria o golpe militar em andamento contra a posse de João Goulart, vice do renunciante Jânio Quadros, transformou-se em referência central do trabalhismo, a partir de uma perspectiva nacional-revolucionária que levaria amplas frações dessa corrente, fundada por Getúlio Vargas, ao campo de esquerda. Era a grande alternativa eleitoral das forças populares para o pleito de 1965: em boa medida, a reação militar-fascista se deu para barrar sua caminhada. Desde o retorno do exílio, em 1979, foi perdendo protagonismo, particularmente após 1989, quando não teve votos para passar ao segundo turno das primeiras eleições presidenciais desde o golpe de 1964.

A terceira é Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário de seus antecessores, chegou à Presidência da República. Filho do movimento operário e popular que emergiu nos anos 70, seu líder incontestável, logrou forjar base social e eleitoral para, pela primeira vez na história brasileira, levar a esquerda e um partido orgânico da classe trabalhadora à direção do Estado.

Antes que alguém reclame, a nominata não inclui Getúlio Vargas porque o mentor do trabalhismo não era nem nunca se reivindicou de esquerda. Sua trajetória é a de um chefe do nacionalismo burguês que, em seu segundo mandato presidencial, rompeu com os setores hegemônicos da classe à qual pertencia e deu curso a uma inconclusa transição para o campo anti-imperialista.

Tampouco inclui Jango, pelas mesmas razões.

Também Dilma Rousseff está fora dessa tríade. Mesmo eleita e reeleita presidente, sua ascensão, em que pese biografia de bravura e dedicação, é essencialmente expressão do projeto construído por Lula e o PT.

Retomando o fio da meada: apenas três protagonistas de esquerda em cem anos.  Não seria motivo suficiente para, apesar de críticas e discordâncias eventualmente procedentes, o conjunto das forças progressistas tratar esses personagens com a prudência devida aos nossos maiores patrimônios?

Mesmo que os listados tenham distintos alinhamentos ideológicos, é inegável seu papel comum, cada qual em um ciclo determinado, de simbolizar a esperança e a unidade do povo contra a oligarquia. Mais que isso, a possibilidade real de derrotá-la.

Dos três, apenas Lula segue vivo e em função.

Como os demais, é nossa dor e nossa delicia. Sofremos com possíveis vacilações e erros, lamentando e até nos revoltando contra certas decisões que parecem desastrosas, além de apoiarmos e aplaudirmos tudo o que fez de positivo. Mas, como cada um de seus antecessores, representa o que de melhor o povo brasileiro conseguiu produzir em sua longa luta emancipatória.

Por essas e outras, defender Lula contra os inimigos de classe é tão importante. A burguesia o ataca com tamanha intensidade exatamente pela esperança que representa junto à classe trabalhadora. Porque ele continua a expressar o caminho mais visível para os pobres da cidade e do campo se imporem sobre os interesses oligárquicos.

Quem não consegue entender isso, e se julga de esquerda, deixa-se paralisar pelo sectarismo, vira as costas para a história e, infelizmente, joga o jogo que a direita joga.

* Imagem disponível em: https://teoriaedebate.org.br/2023/04/14/a-esquerda-brasileira-e-a-questao-democratica-parte-2/, acesso em 22 de junho de 2024.

** Publicado no perfil do "X" pelo autor em 22 de junho de 2024: https://x.com/brealt/status/1804353404581327188. Republicado aqui no blog com autorização do próprio Breno Altman

*** Breno Altman é jornalista profissional. Fundou em 2008 o portal Opera Mundi. Neste ano de 2024 está lançando o livro "Contra o Sionismo" pela Alameda Editorial.

sexta-feira, 31 de maio de 2024

O CAPITALISMO INDIGNO E AS "TRAGÉDIAS" AMBIENTAIS

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O CAPITALISMO INDIGNO E AS "TRAGÉDIAS" AMBIENTAIS


Por Fabrício Maciel, publicado orginalmente em A terra é redonda, em 19 de maio de 2024.


É impossível não se emocionar ao ver as tristes cenas vindas do Rio Grande do Sul. O que se apresenta como uma grande tragédia natural, em narrativas sensacionalistas como a do Fantástico, na Globo, na verdade é também um crime. A caracterização do fato como tal, entretanto, exige alguma reflexão, para além das imagens à primeira vista.

 

O que estamos presenciando, na verdade, é um dos frutos mais perversos e perigosos do novo sistema econômico e cultural global que eu tenho definido como “capitalismo indigno”. Com esta expressão, procuro tematizar o novo capitalismo que, desde os anos de 1970, se especializou em naturalizar o desvalor da vida humana como um todo, inclusive nos países ditos centrais. Hoje, na Europa, por exemplo, ninguém pode afirmar que está “seguro”. Segurança é um sentimento do passado.

 

Um dos maiores pensadores das últimas décadas, Ulrick Beck (2011), foi incisivo e visionário ao desenvolver, ainda nos anos de 1980, sua conhecida tese da sociedade de risco. Em outras palavras, o autor estava mostrando o futuro próximo e altamente perigoso da vida no planeta como um todo, produzido pelos erros do capitalismo indigno. Para o autor, no período atual, que ele definia como “segunda modernidade”, as sociedades contemporâneas produziriam muito mais “risco” do que desigualdade.

 

Mal interpretado por alguns críticos, o que o autor queria dizer não é que o capitalismo parou de produzir desigualdade, esta que sempre será um de seus efeitos centrais, mas sim que a questão do risco se coloca em primeiro plano. Atualmente, nenhuma região do planeta é totalmente segura, ainda que algumas sejam, por razões históricas, mais seguras do que outras.

 

Não é outra coisa o que vemos nas tristes imagens do Rio Grande do Sul. A revolta da natureza, fruto do aquecimento global e de questões puramente políticas do capitalismo indigno, pode causar rapidamente profundos efeitos na vida das pessoas. Ela pode colocar em poucas horas milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade, e isso para além da condição de classe. É claro que, considerando as desigualdades territoriais, os mais pobres são os primeiros a ser afetados, por habitarem os territórios mais vulneráveis. Entretanto, nenhum território está totalmente seguro. Somos todos vulneráveis.

 

A pergunta que não quer calar é a seguinte: até quando o sistema político e as elites econômicas, que na prática ditam os caminhos da humanidade, não entenderão que a grande máquina do capitalismo indigno precisa ser freada? Chegaremos ao limite do risco para que isso aconteça? A resposta parece ser um pavoroso sim. Não parece haver força política e econômica consciente que queira enfrentar o problema mais grave da humanidade, que é exatamente a destruição de nossa casa.

 

Ninguém pode dizer, neste sentido, que não fomos avisados. Não falta conhecimento científico geológico, político, econômico, e de outras ciências sociais e da natureza, que não possa deixar claro o rumo equivocado da história moderna. Atualmente, a discussão sobre o antropoceno ou, como prefere Jason Moore (2022), do “capitaloceno”, deixa claro termos chegado a um momento no qual não dá mais para permitir que a máquina do capitalismo conduza a si mesma desenfreadamente. Algo bastante ruim há de acontecer.  Na verdade, já está acontecendo.

 

O sociólogo alemão Klaus Dörre (2022), por exemplo, é um dos que foram incisivos ao mostrar que estamos diante de uma dupla crise econômico-ecológica que exige, especialmente nos países centrais, detentores da maior parte do capital e do poder no mundo, alguma ação urgente. Não há nada concreto, entretanto, que nos garanta a possibilidade de este tipo de ação emergir do Atlântico Norte. Talvez seja no cone sul do mundo, onde a maioria das “tragédias” acontecem, que tenhamos a possibilidade de alguma reação efetiva. Na dimensão da solidariedade, pelo menos, temos visto várias ações em todo o Brasil, em nome de nossos irmãos do sul.

 

Não devemos, entretanto, romantizar a solidariedade, que é, sem dúvida, indispensável em tempos de tragédia e sofrimento humano. A ação do Estado é necessária e fundamental. É ele quem tem a responsabilidade e a legitimidade para agir, em defesa da sociedade, não deixando este ser tão indefeso responsável por si mesmo. Além disso, como ressaltou recentemente Hartmut Rosa (2024), em discussão sobre o contexto da pandemia, o Estado não é só responsável e legítimo, mas ele simplesmente pode agir, para além de teorias pessimistas que não acreditam em sua possibilidade de ação.

 

Outro sociólogo alemão, Stephan Lessenich (2018), também contribuiu de maneira importante para esta discussão ao mostrar que as sociedades do Atlântico Norte de alguma forma sempre conseguiram “externalizar” todos os riscos produzidos pelo capitalismo moderno para a sua periferia. Isso garantiu, em grande medida, um “modo de vida imperial” nas sociedades centrais, como muito bem definiram Ulrich Brand e Markus Wissen (2017).

 

Por fim, é preciso dizer com todas as letras que não estamos lidando aqui com “tragédias” simplesmente, ainda que uma dimensão considerável dos fenômenos como este no sul do Brasil possa ser caracterizada desta forma. Trata-se aqui também, em boa medida, do efeito de crimes políticos e econômicos. Neste ponto, a discussão precisa ser mais profunda do que a troca de acusações entre políticos e partidos, ainda que, em boa medida, algumas negligências e negacionismos sejam evidentes. O mais importante, entretanto, é compreender que o espírito político geral de nossa época, o que guia as ações políticas efetivas, pode ser definido como tendo dentre um de seus aspectos centrais um negacionismo ambiental em escala global. Não se trata mais de ver para crer. Já estamos vendo e ainda não acreditando. Nos encontramos agora como os músicos do Titanic, tocando harmonicamente uma bela canção enquanto o navio afunda.

 

Referências:

 

Beck, Ulrich. Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2011.

Brand, Ulrich: Wissen, Markus. Imperiale Lebensweise. Zur Ausbeutung von Mench und Natur im globalen Kapitalismus. München: Oekom, 2017.

Dörre, Klaus. Teorema da expropriação capitalista. São Paulo: Boitempo, 2022.

Lessenich, Stephan. Neben uns die Sintflut. Wie wir auf Kosten anderer Leben. München: Piper Verlag, 2018.

Moore, Jason (Org.) Antropoceno ou capitaloceno? Natureza, história e a crise do capitalismo. São Paulo: Editora Elefante, 2022.

Rosa, Hartmut. Aceleração. A encruzilhada histórica no capitalismo tardio: uma análise sociológica da crise do coronavírus. In: Estanque, Elísio; Barbosa, Agnaldo de Souza; Maciel, Fabrício (Orgs.) Re-trabalhando as classes no diálogo Norte-Sul. Trabalho e desigualdades no capitalismo pós-covid. São Paulo: Editora da Unesp, 2024.

* Disponivel em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-05/rio-grande-do-sul-ja-registra-29-mortes-por-causa-das-chuvas, acesso em 31 de maio de 2024.

 


segunda-feira, 6 de maio de 2024

Precisamos de um cordão sanitário contra o bolsonarismo – uma resposta a Joel Pinheiro da Fonseca

 

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Precisamos de um cordão sanitário contra o bolsonarismo – uma resposta a Joel Pinheiro da Fonseca

George Gomes Coutinho**

No último 29 de abril a Folha de São Paulo publicou o artigo de opinião de Joel Pinheiro da Fonseca intitulado “Precisamos do bolsonarismo moderado”[1]. O texto causou rebuliço pelo oxímoro escandalosamente defendido, onde as palavras “bolsonarismo” e “moderado” se atracaram em constrangedora conjunção. Diversas reações ocorreram desde então. Impropérios, ridicularização, demonstrações de estupor, ataques ad hominem... Porém me proponho a levar a sério o texto de Joel e, acredito, o conteúdo do seu texto pode nos levar a considerações sobre a atual conjuntura política brasileira em geral e sobre a direita nativa em particular. Vamos por pontos.

Primeiramente, a publicação do texto de Joel é sintoma e não a doença. Joel tem em sua biografia polêmicas como o debate sobre a venda de órgãos, onde já se posicionou favoravelmente e agora se demonstra arrependido[2]. Talvez Joel tenha se sentido moralmente autorizado a discutir o tema em uma sociedade das mais desiguais do planeta Terra. Poderia ser, quem sabe e na melhor das hipóteses, um excelente negócio. A despeito de suas motivações, por vezes que demonstram ser a de um adicto por click bait, a trajetória de Joel tem sido marcada por posicionamentos por vezes moralmente repugnantes e apresentados em uma embalagem cool. Tratam-se, em muitas ocasiões, de demonstrações de uma suposta “ousadia” intelectual de uma direita “sem tabus” e com ares de ser “descolada”. A questão é que seus argumentos, quase sempre, não resistem a um exame crítico minimamente detido. Nos cabe perguntar: qual a razão de sua presença cativa em um dos maiores jornais do país? Joel, em minha perspectiva, é sintoma do “doisladismo”.

Há anos, em decorrência das mudanças ocorridas no ecossistema de comunicação, as diferentes expressões da mídia tradicional, sejam jornais, revistas semanais ou canais de TV, foram arrastadas pelos novos influxos comunicativos e, de alguma maneira, acharam que era uma boa ideia emular e reverberar as redes sociais. Na atual tribalização de nossa sociedade, importa é “representatividade” dos grupos em disputa de narrativas. Ok, sociedades democráticas são complexas e plurais. É importante que a mídia represente esta diversidade. O problema é que na filosofia do “doisladismo” importa é dar espaço aos supostos representantes dos “dois lados” da contenda, a despeito da qualidade dos argumentos que apresentem. Rinhas televisivas constrangedoras fizeram grande sucesso utilizando essa fórmula. E é assim que nos deparamos com textos como os de Joel, que muitas vezes poderiam estar muito bem recepcionados no jornalzinho da chapa conservadora da faculdade que ganhou as eleições para o Centro Acadêmico.

 O problema não é ser liberal e de direita. O problema é falar asneiras e não contribuir efetivamente com uma opinião pública de qualidade onde os problemas de um país no capitalismo periférico precisam ser discutidos com a seriedade que merecem. E, para além disso, a única coisa que o doisladismo produziu é a naturalização e propagação de argumentos e posicionamentos onde o termo “duvidoso” é apenas um eufemismo. Mais um demérito, de uma listagem de centenas, da Folha de São Paulo. O problema é que a Folha não está sozinha nesta mistificação do que seja um debate de interesse público.

Dando seguimento, essa aproximação submissa de Joel com o bolsonarismo segue longa tradição dos liberais de direita[3] do século XX em flerte com os autoritários em geral. Vejamos o que Grégoire Chamayou nos diz sobre a sabujice de um dos maiores representantes desta vertente política:

Salazar toma o poder em Portugal. Hayek envia-lhe seu projeto de constituição com palavras gentis. Os generais dominam a Argentina, ele vai até lá dar uma sondada. Pinochet derrama sangue no Chile, lá vai ele de novo. Um boicote se lança contra a África do Sul, Hayek pega a pena para defender o regime, e assim por diante. Toda vez (ou quase sempre) que ele se acha numa situação histórica em que, precisamente, ‘por reação contra as tendências socialistas’, um regime ditatorial se impõe, ele se apressa em oferecer seus conselhos.” (Chamayou, 2020: 347-348)

De alguma maneira o desalentado Joel, por representar uma direita sem voto na conjuntura onde ele diagnostica termos um governo de esquerda[4], igualmente se apressou em ofertar conselhos ao bolsonarismo. De olho no capital eleitoral que não tem, sugeriu um caminho maroto de “moderação”. Oras, quem sabe não teremos aí um racismo de baixos teores? Tal como Bolsonaro já achou conveniente pesar quilombolas em arrobas, que tal utilizarmos outra unidade mais adequada? Que tal quilos? É moderação suficiente? E o conteúdo misógino indisfarçável inerente ao bolsonarimo onde até mesmo Michele Bolsonaro é ofuscada? O quanto de misoginia podemos moderar, sem perder a essência do movimento? Talvez um bolsonarismo com pink ou green washing, tudo para que a população LGBT ou ambientalistas possam se sentir mais à vontade quando forem tratados como párias por parte do público bolsonarista.

Com tudo isso, ainda Joel clama pelo que já existe. O NOVO está aí com seu discurso prafrentex identitário presente na boca de suas elites, seguindo com a sua base tão ogra como o rasteiro bolsonarismo fora do partido[5], e foram verdadeira correia de transmissão do governo Bolsonaro (2019-2022) na Câmara dos Deputados. Tal como Tarcísio, aquele que conseguiu uma alta produtividade em letalidade policial, os impressionantes 138% de aumento de indivíduos mortos por sua polícia[6], e se tornou muso inspirador dos jornalões como presidenciável dos sonhos para 2026. O que há de moderação? Um verniz nos bons modos, seja em Tarcísio ou o NOVO, e todos aliados de uma agenda de livre mercado dentro do que as elites econômicas locais, sejam no Agro ou na Faria Lima, assim o consideram: um projeto de acumulação sem constrangimentos como direitos, tributação, etc.. Um velho oeste distópico em que liberdade boa é a exploração sem limites e a formação de paraísos fiscais exclusivos para ricos. É barbárie? É, tanto quanto no bolsonarismo raiz! Só que sem camisa falsificada do Palmeiras e pão fatiado com leite condensado.

Com tudo isso, não enxergando o “bolsonarismo moderado realmente existente”, Joel sofre ainda da falta da decência dos que tiveram peito e bancaram a lógica do cordão sanitário.

Alemães, diante do crescimento eleitoral da AfD, o partido com tonalidades xenófobas e parentesco com o neonazismo, portugueses ante o desprezível Chega, e até mesmo diversos setores concorrentes na Espanha diante do VOX, decidiram adotar por princípio não se amalgamarem com essas forças extremistas a despeito de sua capacidade eleitoral. É o cordão sanitário. Com fascistas e assemelhados, não confraternizamos. Combatemos e isolamos. Com todos os senões, foi o que João Dória, do slogan “Bolsodória” de triste memória, optou por fazer individualmente. Deu combate quando viu que a coisa estava fora do controle. Igualmente na direita democrática que Joel não se vê representado, nomes como Alckmin, Simone Tebet, ao invés de tentarem “moderar” o bolsonarismo, embarcaram no governo federal de Frente Ampla de Lula 3.

Não foi uma saída pelo oportunismo eleitoral caroneiro do bolsonarismo replicado em todo território nacional, algo visível até mesmo nestas eleições de 2024. Oportunismo este reforçado pelos argumentos sem vergonha de clamor de moderação apresentados por Joel. Mas, não, não é possível moderar o que se constituiu enquanto discurso de ódio amplificado pela arquitetura das redes sociais. Enfim. O jovem Joel já envelheceu mal.

Referências:

CHAMAYOU, Grégoire. A sociedade ingovernável: uma genealogia do liberalismo autoritário.  São Paulo: Ubu, 2020.

* Disponível em: https://vermelho.org.br/coluna/terrorismo-como-tatica-politica-de-bolsonaro/, acesso em 06 de maio de 2024.

** Professor Associado da área de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais na UFF-Campos.



[3] Pode causar estranhamento ao leitor menos familiarizado com a história das ideias políticas. Mas, não custa lembrar que há um liberalismo progressista que congrega de Hobhouse a John Dewey. Sim, há uma esquerda liberal.

[4] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joel-pinheiro-da-fonseca/2024/04/como-e-que-o-brasil-e-de-direita-e-lula-esta-no-poder.shtml, acesso em 06 de maio de 2024. Penso que seria de bom alvitre Joel ouvir o experiente Zé Dirceu que considera Lula 3 um governo mais para a centro direita. Para detalhes desta perspectiva, ver aqui: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2024/04/22/jose-dirceu-governo-lula-centro-direita.htm, acesso em 06 de maio de 2024. Particularmente, entre Joel e Zé, fico com o último.

[5] Vale dizer que a turma do LIVRES também vive esses constrangimentos. Por vezes seus dirigentes tentam emplacar um discurso mais aberto na pauta de costumes e são esculhambados por suas próprias bases.