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sábado, 6 de janeiro de 2018

PSDB versus PSDB

PSDB versus PSDB*

George Gomes Coutinho **

O ano eleitoral, conforme praticamente todos os analistas concordam, será qualquer coisa oposta a um cenário entediante. Contudo, penso que existam tendências que podem se confirmar e me concentrarei em uma delas. Falo do momento do PSDB diante da União, o que me faz excluir as particularidades estaduais. Sendo tudo o mais constante julgo que os tucanos fizeram opções desde 2014 que podem levá-los a ganhar o “prêmio” de grandes derrotados em 2018. E poderiam ser os maiores vencedores em meu cenário hipotético.

Antes de prosseguir cabe alertar que quando falo aqui em opções, estou falando de caminhos e decisões políticas. Não desconsiderando o factual, o que foi realmente praticado pelos agentes, os momentos históricos jamais são jaulas inescapáveis para a criatividade humana. Se alguém optou por B ignorou A, C, D e daí por diante. E ao optar por B vive-se o céu e o inferno de B.

Voltando para 2014, a postura do candidato derrotado Aécio Neves na época causou perplexidade. Críticas e acusações ao pleito, inclusive questionando sua legitimidade, fariam todo sentido no caso de partidos ou candidatos anti-sistema. Todavia, vindo de quem era considerado o “líder” da oposição e do próprio PSDB, um partido do sistema até a medula, o discurso teve algo de irresponsável. É esta a inauguração não virtuosa do que virá depois.

No início do segundo governo Dilma, o governo que não começou, igualmente a postura inflamada de líderes PSDBistas, o que vai além de Aécio, conclamaram para a interrupção do mandato da então presidenta. Primeiro clamavam por renúncia. Depois embarcaram na aventura do impeachment. Pós-impeachment abraçaram de forma um tanto envergonhada o governo Temer e, mais do que isso, assumiram organicamente a agenda impopular em curso.

Dentre os cenários possíveis que não decantaram, onde num exercício de imaginação Dilma não teria sofrido o impeachment, é quase unânime a aposta de que seria um governo no mínimo desgastado. Tudo o que o PSDB precisaria neste 2018 para ser vitorioso em um momento em que suas lideranças se encontram com baixo capital eleitoral nacional, o que inclui Alckmin e seu déficit de carisma. Por tudo isso o PSDB, quem sabe, sabotou o próprio PSDB.

* Texto publicado em 06 de janeiro de 2018 no jornal Folha da Manhã em Campos dos Goytacazes, RJ.

** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes


domingo, 17 de setembro de 2017

Autocrítica, PSDB e PT

Autocrítica, PSDB e PT *

George Gomes Coutinho **

Há semanas atrás, ainda no mês de agosto, o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, apresentou uma propaganda partidária que suscitou reações acaloradas e estranhamento entre gregos, troianos e baianos. Será impossível debater aqui neste espaço todas as contradições ali presentes. Todavia causa perplexidade a crítica de FHC ao que ele anda chamando ultimamente de “presidencialismo de cooptação”, tema apresentado na propaganda partidária, sem reconhecer que parte do DNA deste tipo de relação entre legislativo e executivo é tucano.

Porém ressalto algo que considero importante para a conjuntura. Há a tentativa de realizar a autocrítica. Mesmo que o texto veiculado seja insuficiente, inegavelmente superficial e por vezes piegas, o exercício da autocrítica tenta estabelecer uma nova relação entre partido e eleitorado. Ou seja, para além de seus convertidos, os tucanos sabem que precisam abrir o diálogo com amplos setores da sociedade em virtude da desconfiança endêmica dos cidadãos com seus representantes.   

O Partido dos Trabalhadores, doravante PT, anda seguindo caminho diverso neste momento em que os partidos e a classe política são alvejados diariamente no espaço público.

O PT sem dúvida sofreu diversos reveses nos últimos anos e conta com a fadiga de material causada pelos anos sucessivos no executivo federal. Para além disso tem atuado, em termos táticos, cuidando de outras questões: 1) a denúncia das não poucas contradições do processo de impeachment de Dilma Roussef, onde apresentam a tese do golpe parlamentar; 2) o combate à “lawfare” (guerra jurídica) cujos alvos seriam Lula em particular e o PT em geral.

Não desconsiderando a seriedade destas questões, que fazem parte da guerra de narrativas em voga, o PT peca para além de seu círculo de militantes e/ou simpatizantes. Ou seja, tanto a lawfare quanto o golpe parlamentar até o momento só enternecem os integrados. O auto-elogio também não tem ajudado. Serei excessivamente redundante para fins didáticos: é como Cristo pregando a cristandade entre os cristãos. Por isso a autocrítica, para além de abrir o diálogo com grupos não petistas, pode ser uma excelente terapia em um sistema político em estado terminal.

* Texto publicado em 16 de setembro de 2017 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes