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quarta-feira, 28 de setembro de 2022

A indispensável Política da Dignidade - Fabrício Maciel

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A indispensável Política da Dignidade **


Fabrício Maciel***


Mais um ano eleitoral está em curso e este é sem dúvida um dos momentos mais complicados da história recente do Brasil. Todas as pesquisas apontam para a polarização definida entre Lula e Bolsonaro, o que já deixa claro que um segundo turno sangrento nos espera. A despeito de alguns posicionamentos otimistas de setores da esquerda, há muitos motivos para preocupação e o primeiro deles é que Bolsonaro vem crescendo nas pesquisas. Em tempos de política líquida, adaptando aqui o conhecido conceito de modernidade líquida do grande Zygmunt Bauman, nos quais tudo se decide quase em tempo real, podemos aguardar grandes novidades até as vésperas da eleição. O vale-tudo está apenas começando.


Entretanto, se não quisermos ficar presos ao que costumo chamar de ilusões da conjuntura, provocadas pela dinâmica da política líquida, precisamos reconstruir os cenários estruturais de ordem maior que nos trouxeram até aqui – até para projetar algum futuro menos desesperador. Para tanto, temos que escapar da novelização da política, tarefa para a qual a grande mídia se especializou nos últimos tempos. É claro que a compreensão dos fatos atuais no campo político é relevante para a tentativa de projeção de algum futuro. Entretanto, não podemos ficar presos à romantização dos atores políticos, que esconde sistematicamente a ação do campo econômico e seus efeitos na vida real como um todo.


Com isso, o desafio consiste em saber como chegamos até aqui e para onde podemos ir. Para tanto, precisamos resgatar o que eu gostaria de definir aqui como uma política da dignidade para o Brasil contemporâneo. Tal política necessita da construção de um projeto real de transformação social, que seja encampado pela esquerda e levado a sério até a eleição e principalmente depois dela. O início deste esforço teórico e político precisa necessariamente reconstruir e compreender o que seria o seu oposto, ou seja, o que chamarei aqui de política da indignidade, aquela que vigora no Brasil atual, levada a cabo e aperfeiçoada pelo governo Bolsonaro, chancelada pela moralidade bolsonarista que o mesmo representa.


A política da indignidade tem sido facilmente descrita, mas nem sempre compreendida em sua profundidade. A noção de dignidade, que consta na Constituição brasileira e em outras várias ao redor do mundo, nos remete ao mínimo que uma pessoa precisa para garantir sua integridade física e moral. Ao longo de minhas pesquisas acadêmicas, procurei desenvolver a ideia de trabalho indigno, com o intuito de tematizar aquele tipo de trabalho que, mais do que precário, nos remete a condições humilhantes para a sua realização. Trata-se do trabalho realizado pela ralé brasileira, que vaga entre o desemprego completo e as ocupações humilhantes. Este tipo de trabalho não garante o mínimo de proteção ao corpo e ao espírito, exigido de todas as pessoas na vida moderna.


A política da indignidade no Brasil atual inicia-se com o golpe de 2016 e a chegada ilegítima e imoral de Michel Temer ao poder. Não por acaso, uma das principais marcas de seu governo é a implantação da reforma trabalhista. Essencialmente, ela desarma totalmente os trabalhadores diante dos empregadores, ou seja, trata-se da institucionalização da política da indignidade. Precisamos definir dessa maneira, pois é exatamente o que ela faz, ou seja, a indignidade passa a ser um horizonte real para um número cada vez maior de brasileiras e brasileiros. A indignidade aqui significa o risco efetivo de, a qualquer momento, cair na situação de não se ter o mínimo material e consequentemente moral para a existência de uma pessoa.


A política da indignidade, neste sentido, é um resultado imediato da maximização dos princípios do mercado e da atualização da moralidade meritocrática. Não por acaso, Jair Bolsonaro é o representante ideal dessa moralidade, basta observar atentamente seu discurso de posse e vários outros ao longo de seu governo. Ele é o advogado do novo capitalismo digital e de seu novo espírito, no qual o elogio da livre iniciativa, direcionado especialmente para as classes populares, se torna uma das grandes novidades. Para a constatação dessa afirmativa, basta observar a forma como seu governo se apropria da pauta trabalhista ao longo da pandemia, deixando a esquerda atônita diante do roubo de sua principal bandeira do passado, que atualmente ainda precisa disputar ofegante e cambaleante com a pauta identitária o seu lugar ao sol.


Diante deste trágico cenário, é preciso reconstruir a pauta trabalhista, considerando a nova realidade das classes populares, imposta pelo novo capitalismo de plataformas e sua moralidade ultra-meritocrática. Esta é a principal tarefa de uma política da dignidade, urgente para o Brasil atual.


A tentativa de construção de uma política da dignidade foi um dos maiores esforços da política progressista, não necessariamente de esquerda, ao longo do século XX, em vários países do mundo. Aqui, temos um grande aprendizado a por em prática. No período da Grande Depressão norte-americana, por exemplo, posterior à crise de 1929, entre 1933 e 1937, Franklin Roosevelt implementou o New Deal, ou seja, uma série de programas econômicos e sociais para resgatar a economia nacional e seu povo dos estragos da crise. Trata-se nada menos do que de uma política da dignidade. Não se trata aqui naturalmente de defender os países capitalistas centrais que, obviamente, tiveram condições históricas favoráveis para tanto, mas sim de reconhecer políticas eficazes contra a desigualdade, diante do fracasso do socialismo real do outro lado.


No período posterior à II Guerra mundial, algumas das principais economias do Atlântico Norte como Alemanha, Inglaterra e França vão presenciar os seus Trinta anos gloriosos, entre 1945 e 1975. Trata-se da fase áurea do capitalismo moderno, na qual o Welfare state quase vai nos convencer de que o capitalismo seria a melhor forma de economia e de vida que a humanidade poderia ter. Mais uma vez, diante do fracasso do socialismo real nas mãos do stalinismo, é o que tivemos no momento. O grande aprendizado é que a intervenção consciente e orientada do Estado na vida econômica de toda a nação pode impor regras ao mercado e garantir minimamente a dignidade para a maioria da população. Não é outra a constatação que será feita por grandes pensadores do capitalismo como Karl Polanyi, que hoje influencia com justiça toda uma geração de estudiosos sobre o tema.


Na definição de Robert Castel, um dos principais analistas deste período, que ele define com sociedade salarial, o Estado de bem estar significou a garantia do quase pleno emprego, segurança e seguridade social, o que por consequência assegura a quase cidadania plena para estes países. Não se trata aqui de idealizar os países centrais e ignorar o histórico de imperialismo e colonialismo que possibilitou seu acúmulo de riquezas. Trata-se, mais uma vez, de buscar o aprendizado histórico diante de experiências concretas que possam construir, senão um socialismo utópico ainda distante, apenas um capitalismo social minimamente digno.


Na história moderna do Brasil, que começa com Vargas, nunca conseguimos implantar uma política da dignidade semelhante aos Estados Unidos ou à Europa, por razões históricas de nossa desigualdade estrutural. A dimensão do problema é grande e nada simples. Entretanto, tivermos esforços realistas, dentro do possível, que começam com o próprio Vargas, no sentido de buscar uma política da dignidade. Com efeito, a sociedade do trabalho no Brasil inicia-se com Vargas, quando este tenta equalizar as exigências do capitalismo industrial que chegava ao Brasil, com nossa força produtiva interna. Sem a garantia de um patamar mínimo de dignidade para a classe trabalhadora, que ao mesmo tempo será produtora e consumidora do novo sistema, essa tarefa seria impossível. Aqui, o mínimo de direitos trabalhistas e de respeito – leia-se reconhecimento – foi necessário, como se sabe. Em outros termos, é inviável, indesejável e imoral a permissão de um capitalismo totalmente selvagem e sem regras, sem nenhum respeito ao valor básico da vida humana. O Estado pode e deve agir com eficácia e legitimidade em defesa da dignidade de sua população.


Em nossa história recente, após a reabertura democrática, a experiência do PT na presidência pode dividir opiniões, mas não pode ser ignorada em sua tentativa de implantar sistematicamente uma política da dignidade. Aqui, não se trata simplesmente da defesa de um partido ou grupo político, mas sim de uma análise serena que considere os esforços possíveis do campo político diante dos imperativos econômicos e morais de um capitalismo global que eu caracterizo como indigno. Trata-se, em termos simples, de um sistema perverso que tem como principal marca a naturalização do desvalor humano, ou seja, a naturalização da indignidade de milhões de pessoas.


Como já ficou claro com a experiência histórica de inúmeros países, a única maneira de frear esta máquina global de produção da indignidade é uma política da dignidade por parte do Estado, o que exige uma condução consciente e planejada por parte de grupos progressistas e bem orientados. O governo negacionista de extrema direita de Jair Bolsonaro é exatamente o contrário disso e, diante da compreensão deste fato, a esquerda precisa urgentemente de um projeto de dignidade nacional.


Neste sentido, precisamos vencer um último inimigo teórico e político. Trata-se do antipetismo e de tudo o que ele criou. Desde as primeiras críticas ao primeiro governo Lula, a única linguagem política desenvolvida no Brasil foi o antipetismo, derivada do incômodo de nossas classes dominantes diante da pequena, porém significativa, mudança em nossa desigualdade estrutural encaminhada pela política da dignidade implementada pelo PT. Neste sentido, nós não desenvolvemos uma terceira via progressista de fato, que não se resuma à confusão e dificuldade de articulação de seus protagonistas. Também não desenvolvemos uma direita liberal lúcida e civilizada, que tivesse algum projeto de nação. Presenciamos apenas o germe do bolsonarismo, resultado imediato do antipetismo. Nada mais.


Diante desta nossa grave dificuldade recente, a política da dignidade, pautada por um projeto de dignidade nacional para os mais necessitados, se faz urgente. O caminho pode ficar claro, se olharmos com atenção para a experiência histórica, tanto interna quanto externa ao Brasil. Um Estado nacional que tenha a dignidade como política central é o primeiro passo. Depois, a tarefa consiste na restauração do direito ao trabalho digno e do direito ao mínimo necessário para a garantia da integridade física e moral de todos. Para tanto, é preciso convencer a população, neste exato momento, de que a realização deste projeto é plenamente possível através de um Estado democrático de direito, e não pela via da barbárie do mercado, sustentada pelo bolsonarismo. Se esta for a nossa pauta do dia nos próximos meses, teremos alguma chance de construir um futuro melhor.


* Suffering, quadro de Paula Heffel. Disponível em: https://fineartamerica.com/featured/suffering-paula-smith-heffel.html, acesso em 28 de set. de 2022.


** Texto publicado originalmente no sítio Outras Palavras em 13 de abril de 2022. Disponível em: https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/a-indispensavel-politica-da-dignidade/, acesso em 28 de set. de 2022. Reproduzido aqui com a autorização do autor.


*** Fabrício Maciel é Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFF-Campos e do PPG em Sociologia Política da UENF. Atualmente, professor visitante na Universidade de Jena, Alemanha. Bolsista de produtividade do CNPq e Jovem Cientista do Nosso Estado, FAPERJ.

sábado, 13 de novembro de 2021

Lançamento "Irracionalismo de conveniência" – Sérgio Silva + Prefácio



Eis que que Sérgio Silva, o polímata da Unirio, coloca mais uma das suas criações no mundo.

“Irracionalismo de conveniência: ensaio sobre a pós-verdade” nos chega pela editora curitibana Appris e sintetiza o conjunto de inquietações teóricas e politicas do autor. Sérgio não só revisita autores tão diferentes como Foucault ou Adorno. Bebe na fonte destes, penso que para ganhar fôlego e fúria, e os renova para decifrar os desafios destas inquietantes primeiras décadas do século XXI.

Para quem quiser ter um petisco do debate, recomendo o vídeo abaixo da conversa de Sérgio com o querido Fabrício Neves (Unb) sobre o trabalho recém-lançado:




Também abaixo socializo o prefácio que elaborei para este livro do Sérgio. Aos navegantes aviso que tive a honra de ter sido orientado por Sérgio em uma das minhas vidas na UENF. Hoje eu e ele podemos dizer que somos amigos na universidade e brothers de armas. Ou, para ser mais preciso, brothers nas artes das seis cordas.

Finalizo dizendo que igualmente muito me honrou o convite para escrever este prefácio. Sem dúvida minha contribuição não dá conta da complexidade e da sofisticação da proposta  corajosa de Sérgio. Mas, funciona como um convite para o leitor fazer o mergulho neste lançamento.

 Boa leitura!

 PS: O livro pode ser encontrado nas boas casas do ramo.. e, evidentemente, no site da editora Appris: https://www.editoraappris.com.br/


Das conveniências do irracionalismo - Prefácio de “O irracionalismo de conveniência: ensaio sobre a pós-verdade, fake News e a psicopolítica do fascismo digital” de Sérgio Pereira da Silva. Editora Appris, Curitiba, 2021

 

George Gomes Coutinho

 

A crise do setor financeiro e imobiliário em 2008 nos EUA. A conformação das novas e perversas dinâmicas do sistema internacional. A ascensão e previsível queda da Terceira Via inventada, recauchutada, testada e torpedeada por seu perfil conciliatório e pusilânime com as estruturas sociais brutais do mundo pós-fordista. A persistência da pauperização, da precarização do mundo do trabalho, das promessas não cumpridas e tampouco remotamente entregues no mundo do caráter corroído discutido por Richard Sennett[1] há tempos atrás. O suposto empresário de si, o “empreendedor” envolto em fantasias e auto-mistificações falsamente douradas, incensado a partir de nada, frustrado, oprimido, adoecendo sistematicamente e criando índices de sofrimento mental ainda não detectados em outros momentos históricos. A mônada com pés de barro.

Em meio a tudo isso há ainda a pandemia de Covid-19 enquanto escrevo que denunciou e segue denunciando em cores, áudios, movimento e índices as diferentes faces da desigualdade em todos os aspectos por todo globo terrestre.

Esta sociedade complexa, intrigante e com traços distópicos incomoda e pressiona por respostas. É com este momento, onde temos tudo e não temos nada diante de nós, que Sérgio Silva e seu trabalho se defrontam. Diria que autor e obra corajosamente se defrontam com mais uma das grandes crises modernas nadando de peito aberto em mar revolto. Mas, não obstante a humanidade já ter passado por momentos disruptivos e francamente vertiginosos, Sérgio e seu livro ressaltam menos o que há de cíclico em nossa conjuntura, o retorno da roda, e mais os elementos particularmente trágicos que singularizam o que vivemos.  Trata-se de um trabalho de diagnóstico do tempo presente.

Antes de prosseguir penso ser relevante fazer um paralelo com um autor que se apresenta como alma gêmea e, não obstante a sua ausência no trabalho de Sérgio, apresentou um opúsculo em 2009 que se coloca em comunicação tão íntima com a proposta deste livro que podemos dizer que ambos funcionam como vasos comunicantes. Falo do crítico cultural Mark Fisher (1968-2017) e seu Realismo Capitalista[2].

Sérgio Luiz Silva e Mark Fisher são teóricos críticos em estilo livre[3]. Fisher assinalava com alguma ironia, por vezes sarcasmo e muita indignação o cenário de terra arrasada do mundo pós-neoliberal, tudo isso em uma narrativa que vai da cultura erudita ao pop na velocidade da luz. O ocidente após Thatcher, Reagan, Consenso de Washington e afins não enveredou acriticamente somente em fórmulas austericidas que redundaram em índices assassinos de concentração de riqueza. Esta sociedade que vivemos hoje e que não nasceu ontem, sendo tudo engendrado nas últimas décadas na verdade, contaminou algo além da imaginação de editoralistas da mídia convencional, policy makers e agentes coletivos ou individuais do setor financeiro.  Fisher denunciava nada menos que subjetividade humana mutilada, decepada pela violência simbólica de slogans como “there´s no alternative” tal como triunfante já bradou o thatcherismo. Tanto se fez, tanto se repetiu que não há nada além de capitalismo (e desta modalidade específica de capitalismo), que o homem comum assim olhou diante de si um abismo que fornece um presente eternamente cinzento e bárbaro. Um Dia da Marmota sem final feliz.  E, como sabemos, no risco de flertar em demasia com o abismo o observador pode ser engolido confundindo-se simbioticamente com a escuridão.

Neste cenário em que o arbítrio se coloca como relação necessária e o interesse mal compreendido impõe uma ontologia postiça é que se apresentam os sintomas discutidos por Sérgio em nossa contemporaneidade. Pós-verdade, fake news, barbarização da opinião pública, autoritarismo, reedição do fascismo em versão atualizada 2.0 e necropolítica. Em meio a tudo isso um capitalismo mais do que anti-iluminista que se apresenta até mesmo com traços pós-humanos. Pulsão de morte em ritmo de videoclipe.

As consequências desta sociedade não redundaram somente em indivíduos dopados em um ciclo de consumo dia após dia de sujeitos aprisionados na maldição da obsolescência programada. O projeto é de uma sociedade de tiranos e narcisicamente orientada. Algo que a filosofia política há poucos séculos atrás chamaria simplesmente pelo nome de guerra de todos contra todos. Minha base humanista não vê a menor chance de isso render bons frutos. E não tem dado.

Desta franca deterioração situada além dos limites da opinião pública, que redundou na ressurgência dos projetos autoritários em diferentes graus e vitoriosos nos processos de concorrência eleitoral, é difícil não reconhecer que ambos os lados do espectro político contribuíram de maneira direta ou indireta. Nos governos no flanco esquerdo, para além de abraçarem sem maiores questionamentos o receituário fiscal, há aquela arrogância costumeira. Oras, aos campeões morais o sucesso é inevitável! No lado direito, compartilhando a mesma cartilha de políticas públicas fornecida pelo ultraliberalismo, a insuficiência de enfrentarem de maneira honesta seus próprios demônios. Entre progressistas e conservadores, em uníssimo, a falta de imaginação política e de compreensão das experiências do século XX e das demandas do século XXI. Neste ínterim, segue o mundo concreto desabando na cabeça de milhões de pessoas que não sonhavam e não imaginavam mais qualquer outro tipo de futuro. Eis o cenário onde grassa o chorume analisado neste trabalho.

Sérgio compreendeu o caráter multivariado das patologias do nosso tempo. Se armou com as armas de uma teoria crítica renovada que não abre mão da tradição do materialismo multidisciplinar. Desejo e necessidade são olhados com lupa em suas contradições, complementariedades e dinâmica. Teoria social, psicanálise, sociologia e epistemologia são ferramentas habilmente combinadas. Como se não bastasse ainda há Habermas, Foucault, Adorno, Elias, dentre outros, que são mobilizados criativamente em novas sínteses arriscadas e que, por vezes, podem fazer com que ortodoxos de diferentes matizes sintam certo desconforto. Mas, pouco importa. O objeto em sua complexidade se coloca em posição de prioridade analítica e as ousadias teóricas se justificam mais do que qualquer outra coisa. Importa é compreender em minúcias o inferno semiótico em que estamos.

O livro de Sérgio é critica e compreensão. Fornece um quadro interpretativo poderoso para compreendermos como a opinião pública se tornou o ringue de vale tudo que conhecemos. E há, também, em meio aos meandros argumentativos e analíticos que explicam o fascismo nosso de cada dia, espaço para uma esperança rebelde e sutilmente subversiva. A utopia de Sérgio envolve a aposta em uma terapêutica do diálogo como cura para a barbárie.  Uma atuação voltada interativamente para o entendimento, um uso da razão em uma plenitude expressiva muito além do embotamento coisificado fornecido pela sociedade dos cliques de curtir/descurtir. A utopia de Sérgio é pulsão de vida. É interesse bem compreendido embebido do que há de melhor na tradição iluminista com a qual Sérgio se agarra angustiado.

Por fim, tal como o título denuncia, temos sim um Irracionalismo de conveniência cinicamente mobilizado como resposta aos afetos, frustrações e desalentos do horizonte árido dado pelo realismo capitalista. Mas, o trabalho do Sérgio apresenta, na verdade, todas as inconveniências deste irracionalismo. O preço a ser pago pelo uso de tal playbook pode ser alto demais, insuportável eu diria. A questão é que temos tempo ainda de evitarmos um ponto de não retorno. E este livro dá, nas brechas, algumas possibilidades enquanto nos explica o funcionamento da hidra.

 

Campos dos Goytacazes, 13 de maio de 2021.

 

Referências

BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Cia das Letras, 1989.

FISHER, Mark. Capitalism realism: is there no alternative? London: Zero Books, 2009.

HOLLERAN, Max. Marshall Berman´s freestyle marxismo. In: New Republic. New York City, New Republic, n. 14, abr. 2017.

SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo: Rio de Janeiro: Record, 1999.



[1] SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.

[2] A edição brasileira foi publicada pela Autonomia Literária em 2020.

[3] Devo esta expressão a Max Holleran em artigo publicado no ano de 2017 na revista New Republic. Holleran definiu o não menos inventivo Marshall Berman como praticante de um marxismo em estilo livre (freestyle marxism). Penso que o termo aqui se adeque como mão e luva.

sábado, 31 de julho de 2021

Brasil Nazi



Brasil Nazi

Paulo Sérgio Ribeiro

Iniciemos com uma breve enumeração dos fatos:

- O slogan de campanha escolhido por Jair Bolsonaro na corrida presidencial de 2018 foi "Brasil acima de Tudo, Deus acima de Todos", uma evidente apropriação do “Alemanha acima de todos” (Deutschland über alles), um dos bordões de Adolf Hitler que chegaria a compor o hino nacional alemão até ser dele suprimido nos estertores da Segunda Guerra Mundial;

- O hino das brigadas de paraquedistas do Exército Brasileiro de cujas fileiras é oriundo o atual vice-presidente da República, o general da reserva Hamilton Mourão, tem por inspiração a “Canção do Demônio” (SS marschiert in Feindesland), um hino que, digamos, elevava o moral das tropas nazistas da Waffen SS[1];

Eis uma exibição do hino cantado entusiasticamente por Mourão e seus pares na caserna:

Eis a melodia original:

- O então Secretário Especial de Cultura do Governo Bolsonaro, o dramaturgo Roberto Alvim, plagiou trechos de um discurso do ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em pronunciamento oficial. A repercussão negativa na Corte Suprema, no Parlamento e nas redes sociais daquela emulação do nazismo culminou em sua exoneração da pasta em janeiro de 2020[2].

- Em julho deste ano, Jair Bolsonaro recebe em seu gabinete ninguém menos que Beatrix von Storch, membro do Alternativa para a Alemanha (Alternative für Deutschland, sigla AfD), partido da extrema direita de orientação neonazista na Alemanha, e neta de Ludwig Schwerin von Krosigk, Ministro das Finanças do Terceiro Reich[3].

Não me impus rigor na cronologia dos fatos, pois cada um deles já seria em si motivo suficiente para encararmos com coragem e lucidez a presença de símbolos e valores que, em território nacional, servem à apologia de um regime totalitário que escreveu a página mais sombria da história do século XX: o holocausto.

Por que falar disso? Será que não poderia ter abordado um assunto menos bad vibes para os nossos 13 leitores?  

Em 2004, ano em que nos distraíamos de tão “felizes” ou, melhor dizendo, éramos felizes por estarmos demasiado distraídos no início da Era Lula, Jair Bolsonaro, então deputado federal pelo extinto Partido da Frente Liberal (PFL), já era um ícone para grupos neonazistas[4]. Adriana Dias, antropóloga que pesquisa há quase duas décadas a atuação desses grupos no Brasil, encontrou de uma maneira um tanto aleatória (um verdadeiro achado) a seguinte comunicação no extenso material etnográfico de que dispõe:

 


A carta acima, publicada por pelo menos três dentre as dezenas de sites neonazistas em língua portuguesa já identificados por Dias, não nos permite inferir que Bolsonaro a tenha remetido ao Econac, mas nos leva a indagar, como o faz a pesquisadora, por que tal carta não foi encontrada em nenhum outro lugar para além do ambiente neonazi na Internet[5] e, não menos importante, por que o então deputado federal não denunciou tais grupos ou sequer impediu a veiculação de sua comunicação oficial pelos mesmos, já que a divulgação do nazismo é uma qualificadora do crime de racismo no país (Lei nº 7.716/1989, Art. 20, §§ 1º e 2º).

Considerando que o tumulto na sucessão eleitoral que se aproxima é um expediente do qual o (ainda) presidente da República é useiro e vezeiro e, pior, que uma parcela de sua base eleitoral tem na violência política um moto próprio para vingar-se de um capitalismo periférico contra o qual estão impedidos de vislumbrar alternativas de superação histórica pelo próprio caráter pré-político do seu comportamento – que a engenharia social do bolsonarismo induz e reforça – , é fortuito que reconheçamos não apenas o quão suscetível somos a um regime nazista – mesmo que brasileiros tenham sido recrutados para se integrar aos Aliados contra as forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial –, mas como o extermínio em massa na Alemanha de Hitler e no Brasil de Bolsonaro é um desdobramento funesto da não elaboração do passado.

Em “Educação e Emancipação”[6], Theodor W. Adorno se volta a essa questão-chave para o nosso destino comum. Refutando o chavão pelo qual a questão se pôs na Alemanha do pós-guerra – equacioná-la como se possível fosse riscar da memória o Terceiro Reich – Adorno nos lembra que o “nazismo sobrevive” enquanto não soubermos se os seus horrores são invulneráveis à própria morte ou se a disposição violenta para retornar ao “indizível” permanece latente nos homens e nas condições que os cercam.

“Não inventei o racismo”, “Não sou genocida”, “Anulei o voto no 2º turno, pois não me vi representado por Haddad (um democrata inconteste) nem por Bolsonaro (um defensor convicto da ditadura)”, “Era uma escolha difícil” são modos inconscientes ou nem tanto assim de recusar a culpa pela Auschwitz tropical que se sucedeu com a chegada da extrema direita ao Executivo federal. Noutros termos, de não elaborar o passado, mas de ser dirigido por ele. Assim foi com a escravidão, assim o é com a ditadura civil-militar e, talvez, assim será com a pandemia do novo coronavírus. Quanto à última, valho-me uma vez mais do ensinamento do teórico frankfurtiano: o ato de esquecer e de perdoar é exclusivo de quem sofre a injustiça, mas bem pode ser imposto pelos partidários daqueles que a praticaram ou que a endossaram com indiferença passiva.

O desejo de libertar-se do passado justifica-se: não é possível viver à sua sombra e o terror não tem fim quando culpa e violência precisam ser pagas com culpa e violência; e não se justifica porque o passado de que se quer escapar ainda permanece muito vivo (ADORNO, 2006, p.29).

O leitor apressado pode deduzir da passagem acima uma exortação do pacifismo. Muito pelo contrário, ela apenas nos diz que os brasileiros mortos nesta pandemia deverão ser vingados para que possamos merecer o seu esquecimento.



[1] Jornal GGN. Canção do Dragão, hino militar dos paraquedistas brasileiros, uma tradução de um hino da SS. Edição de 29/09/2017. Disponível aqui.

[2] El País. Secretário da Cultura de Bolsonaro imita fala de nazista Goebbels e é demitido. Edição de 17/01/2020. Disponível aqui.

[3] Congresso em Foco. Bolsonaro posa para foto com neta de antigo ministro de Hitler. Edição de 26/07/2021. Disponível aqui.

[4] Carta Campinas. Pesquisadora descobre prova que mostra relação de Bolsonaro com nazistas. Edição de 28/07/2021. Disponível aqui.

[5] The Intercept Brasil. Pesquisadora encontra carta de Bolsonaro publicada em sites neonazistas publicada em sites neonazistas em 2004. Edição de 28/07/2021. Disponível aqui.

[6] Cf. ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006 (4ª edição).

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Vídeo do bate-papo "Além do que se vê": fotografia, memória e teoria crítica

No último mês de novembro eu e os intrépidos Sérgio L. P. da Silva (UNIRIO) e Marcos Abraão Ribeiro (IFF) fizemos um papo muito bacana. 

Além de discutirmos o livro do Sérgio, o "Gozo estético da cultura visual", lançado pela editora Appris, conversamos também sobre fruição estética, teoria crítica e tangenciamos o contexto social em que estamos inseridos.

O resultado da conversa pode ser conferido aqui no post ou no Youtube:


 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

"Além do que se vê": fotografia, memória e teoria crítica.


As Coordenações dos Cursos de Ciências Sociais da UFF-Campos e o Blog Autopoiese e Virtu convidam para a live:

"Além do que se vê": fotografia, memória e teoria crítica.

Palestrante: Prof. Sérgio Luiz Pereira da Silva - UNIRIO

Mediação: Prof. George Coutinho - UFF-Campos

Debatedor: Prof. Marcos Abraão Ribeiro - IFF

05/11/2020 - 18h - Quinta-feira

Inscrições: https://www.even3.com.br/adqsvfmetc2020

Lançamento do livro "Gozo estético na cultura visual: fotografia, memória e alienação social" de Sergio Silva.

sábado, 10 de outubro de 2020

Lançamento: "Gozo Estético na Cultura Visual: Fotografia, Memória e Alienação Social" - Sérgio Luiz Pereira da Silva

Prezad@s,


Reafirmando nosso compromisso de divulgação de obras de indubitável relevância para a grande área de Humanidades em língua portuguesa, eis que chamamos a atenção para "Gozo Estético na Cultura Visual: Fotografia, Memória e Alienação Social", o mais novo lançamento de Sérgio Luiz Pereira da Silva.





Sérgio é prof. da grande área de sociologia na UNIRIO. Mas, Sérgio é antes de tudo um inquieto. Artesão e fotógrafo, além de gostar de brincar com técnicas de edição, neste livro ele nos brinda com a fusão de duas de suas facetas: o sociólogo crítico e o fotógrafo sensível. Vamos a uma síntese do trabalho:

"O livro Gozo estético na cultura visual: fotografia, memória e alienação social faz uma reflexão transdisciplinar sobre a contribuição da fotografia para a sociabilidade contemporânea e o quanto isso influi na formação de uma memória social. É analisada a constituição da cultura visual e os seus dispositivos de controle intersubjetivo, dentro do campo da indústria cultural, trazendo este último conceito para o contexto contemporâneo.".


O livro pode ser adquirido no site da Appris, editora que está publicando o trabalho: https://www.editoraappris.com.br/produto/4084-gozo-esttico-na-cultura-visual-fotografia-memria-e-alienao-social




sábado, 4 de novembro de 2017

Aviõezinhos da República

Aviõezinhos da República*

George Gomes Coutinho **

Neste ano o sociólogo potiguar Jessé Souza (1960) lançou pela editora Leya o seu “A Elite do Atraso: Da Escravidão à Lava Jato”. O livro retoma e atualiza o conjunto de interpretações ousadas e originais elaboradas por Souza nos últimos 20 anos de sua produção sociológica, onde o exercício da crítica avassaladora dos fundamentos de justificação de nossa sociedade é o motor que guia o exercício intelectual. Para além disso, como se já não fosse pouco, “A Elite do Atraso” prossegue no exercício de intervenção pública em consonância com obras anteriores do autor: tanto em “A Tolice da Inteligência”, de 2015, quanto no ano seguinte em “A Radiografia do Golpe”, ambos os livros  lançados também pela Leya, Souza traduz para o leitor situado além dos muros da academia questões que conferem sentido ao Brasil enquanto Estado-Nação. Conferem sentido e mantém o status quo de uma das sociedades mais desiguais do planeta.

Na busca pela comunicação honesta e eficiente com o leitor não especializado, nosso autor envereda num esforço lingüístico quase olímpico. Metáforas e figuras de linguagem em geral são utilizadas tendo por meta a diminuição da distância entre a sociologia contemporânea avançada e o público alvo do livro. Destacarei uma delas. A do político como “aviãozinho”.

Souza, no seu esforço em desnudar as relações de poder do Brasil contemporâneo, faz uma analogia absolutamente didática entre elites/classe política e grandes traficantes/aviõezinhos do tráfico. Ora, os “aviõezinhos”, os que levam as drogas para os usuários, não são nem de longe os maiores beneficiários do esquema. São apenas a face mais visível e operacional de uma relação econômica onde o “dono da boca” retira seus dividendos. Justamente por sua visibilidade, não por caso, os “aviõezinhos” são os primeiros a serem mortos, presos ou humilhados.

A relação entre a classe política e a fatia dos 1% mais ricos brasileiros é análoga. A classe política “integrada” e precificada viabiliza os mecanismos institucionais e legais que mantém ou aprimora para os reais privilegiados o atual estado de coisas. A atuação política espalhafatosa é absolutamente funcional: oculta a face silenciosa e invisível de quem realmente dá as cartas.

* Texto publicado em 04 de novembro de 2017 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

sábado, 9 de setembro de 2017

Personalidades Autoritárias

Personalidades Autoritárias*

George Gomes Coutinho **

Hã questões que se não forem devidamente trabalhadas, discutidas e exorcizadas retornam implacavelmente nas almas dos vivos. Eis uma inspiração marxista e também freudiana bastante útil para indivíduos e coletividades. Dentre as nossas questões que retornam de maneira constrangedora no Brasil polarizado de hoje as garras do autoritarismo arranham os porões e muitas vezes alcançam de maneira desavergonhada o espaço público.

Revisitei o clássico “Authoritarian Personality” de Theodor W. Adorno (1903-1969) et. al.. O livro, publicado originalmente em 1950 nos EUA apresenta a famosa “escala F” que pretendia mensurar, mediante a aplicação de um teste, o grau de “Fascismo” reproduzido nos valores e atitudes de um indivíduo.

Já Umberto Eco (1932-2016) em seu “Ur-Fascism”, artigo publicado na New York Review of Books em 1995, argumenta que o “Fascismo Histórico”, aquele experimentado no período em que Mussolini (1883-1945) dominou politicamente a Itália no século passado, foi um regime autoritário inegavelmente de extrema-direita. Não obstante a falência do “Fascismo Histórico”, Eco se encontra com o diagnóstico de Adorno ao indicar que há um fascismo em nossos dias. Menos como regime de Estado e mais como constelação de atitudes e discursos. Os lamentáveis episódios promovidos ultimamente pela extrema-direita nos arredores do globo confirmam de forma sinistra esta interpretação.

Contudo, o autoritarismo enquanto prática e valor político jamais foi monopólio da direita. Em verdade a esquerda igualmente flertou e flerta com soluções e posturas autoritárias aqui e alhures. Neste sentido falarmos em “personalidades autoritárias” no plural soa melhor dado que o autoritarismo se reencarna nos dois lados do espectro político. Eu diria que tanto a direita quanto a esquerda em suas aparições autoritárias neste momento caminham de mãos dadas, como em outros momentos em nosso país, no desprezo aos aprendizados lentos proporcionados pela democracia política. O que atordoa é que se juntam a estes grupos o pragmatismo amoral dos grandes agentes de mercado que igualmente nutrem asco pela democracia política.

* Texto publicado em 09 de setembro de 2017 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

domingo, 23 de julho de 2017

Distopias e retrotopia

Distopias e retrotopia*

George Gomes Coutinho **

A sociedade moderna desde o seu nascedouro tem uma particularidade constitutiva: a projeção de futuros possíveis seculares onde a vida humana seria melhor. Sobre o “melhor”, onde aponto evidentemente para uma distinção qualitativa positiva diante do que é apresentado no agora, temos diferentes respostas. O iluminismo, o socialismo, a social-democracia, o liberalismo, o anarquismo, etc., cada uma destas tradições filosóficas e/ou políticas tem suas próprias versões sobre o que seria coletivamente o desejável, o justo e o bom. Contudo, todas estas vertentes, não obstante suas diferenças, defendem um olhar esperançoso sobre a sociedade vindoura. É a resposta radicalmente humanista e mundana ao paraíso judaico-cristão.

Nestes termos não deveria passar indiferente a ausência de uma perspectiva positiva sobre o futuro em nossa época no ocidente. Não por acaso dois pensadores diametralmente diferentes notam que a imaginação, seja política ou cultural, flerta perigosamente com o abandono do futuro. Slavoj Zizek (1949) diria que o nosso tempo é demarcado por distopias. Zygmunt Bauman (1925-2017) ressalta o surgimento das retrotopias.  

Zizek em vários momentos da sua obra recente e especialmente no documentário “The Pervert´s Guide to Ideology” (O Guia Pervertido da Ideologia) de 2012 se propõe a analisar a relação entre ideologia e produção cinematográfica. Entre gracejos e ironias, marcas do pensador esloveno, o autor nota que parte da produção cinematográfica norte-americana contemporânea é demarcada por catástrofes, aniquilação do planeta ou da espécie humana, predominância de máquinas sobre os humanos, etc.. Ou seja, futuros distópicos onde é mais usual imaginar um futuro sombrio do que uma sociedade humana melhor.

Bauman em obra póstuma lançada pela Polity Press esse ano chamada “Retrotopia”, ainda sem tradução entre nós, ressalta um outro movimento que vejo como complementar: sem imaginar um futuro damos um salto para trás na imaginação política idealizando o passado. Por conta disso o retorno dos fantasmas autoritários/totalitários do século XX tem ressurgido em diversas nações enquanto um sintoma desta falência da elaboração criativa e humanista da esperança.


* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 22 de julho de 2017

** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

quinta-feira, 1 de junho de 2017

AutorXs da teoria crítica e do marxismo

Prezad@s,

Divulgando material para estudos de autores do marxismo em geral e da teoria crítica em particular...

Afinal, conhecimento é como água: se não circula, apodrece!

Por fim, obviamente recomendo que testem os links para ver se todos estão funcionando...

Boa leitura e bons estudos!!


Adolfo Sánchez Vázquez - http://goo.gl/1DFmCS
Alain Badiou - http://goo.gl/gwJVGZ
Alex Callinicos - http://goo.gl/7wHgwZ
Alexandra Kollontai - http://goo.gl/JBLYhr
Andre Gunder Frank - https://goo.gl/KFgvBI
Antonio Gramsci - http://goo.gl/e91JpT
Bertolt Brecht - http://goo.gl/jeMi0w
Bolívar Echeverría - http://goo.gl/lUuQgf
Caio Prado Jr. - http://goo.gl/ZHMYdm
Carlos Nelson Coutinho - http://goo.gl/UmdgGh
Che Guevara - http://goo.gl/YEh4me
Congressos da Internacional Comunista -http://goo.gl/pem8pt
Daniel Bensaïd - http://goo.gl/OSMla3
David Harvey - http://goo.gl/h270rQ
E. P. Thompson - http://goo.gl/ZgnQPE
Ellen Wood - http://goo.gl/qFricV
Enrique Dussel - http://goo.gl/LFDziI
Eric Hobsbawm - http://goo.gl/uiOOjp
Ernest Mandel - http://goo.gl/lkYF5T
Étienne Balibar - https://goo.gl/uMs0PT
Fidel Castro - http://goo.gl/pjrxh6
Florestan Fernandes - http://goo.gl/mZsebg
Fredric Jameson - http://goo.gl/lZVSGC
Guillermo Lora - https://goo.gl/okmpaV
György Lukács - http://goo.gl/9FMYCm
Hal Draper - http://goo.gl/ZCBaMk
Heleieth Saffioti - https://goo.gl/SPdzqO
Henri Lefebvre - http://goo.gl/HD1HDc
Herbert Marcuse - http://goo.gl/Px1Zij
Isaac Deutscher - http://goo.gl/bHUdxV
István Mészáros - http://goo.gl/afiVQ6
Jean-Paul Sartre - http://goo.gl/sMKS5U
João Bernardo - http://goo.gl/0IGAOX
José Martí - http://goo.gl/uAvaUW
José Paulo Netto - http://goo.gl/oVXiG9
Leandro Konder - http://goo.gl/1skAkm
Lenin - http://goo.gl/fR4vGu
Louis Althusser - http://goo.gl/oN57gg
Mao Tse-Tung - http://goo.gl/8G19Zx
Marx e Engels - http://goo.gl/3M5Yeg
Michael Löwy - http://goo.gl/26dJVL
Milton Santos - http://goo.gl/xcqJLD
Nelson Werneck Sodré - https://goo.gl/WM3riS
Nicos Poulantzas - http://goo.gl/UmSans
Paulo Freire - http://goo.gl/B1PLTh
Perry Anderson - http://goo.gl/LEsbKq
Raymond Williams - http://goo.gl/jS5HXi
Ricardo Antunes - https://goo.gl/3k1E3N
Rosa Luxemburgo - http://goo.gl/wOCcDv
Ruy Mauro Marini - http://goo.gl/jBTrGn
Simone de Beauvoir - https://goo.gl/8D2P6H
Slavoj Žižek - http://goo.gl/6VnnRY
Stalin - http://goo.gl/dlb1lE
Terry Eagleton - http://goo.gl/Yx4OrX
Theodor Adorno - http://goo.gl/ot9rMP
Theotônio dos Santos - http://goo.gl/9aZaOj
Trotsky - http://goo.gl/Z0NMf7
Vânia Bambirra - http://goo.gl/sFhFq4
Walter Benjamin - http://goo.gl/mgXFky