Diniz e seu entorno *
George
Gomes Coutinho **
Passaram-se pouco mais de dois
meses do início efetivo do governo de Rafael Diniz na Prefeitura de Campos dos
Goytacazes. Não seria justo ousar qualquer avaliação com pretensões definitivas
diante de um lapso temporal tão curto. Afinal, mantendo as condições de
temperatura e pressão, o governo está apenas em seu início.
Contudo, irei arriscar uma
questão bastante incômoda. A despeito das
motivações que movem o eleitorado no processo eleitoral, em muitos casos vejo
certa hipertrofia de expectativas quanto ao rito em si. Eleições periódicas, o
grande rito de seleção de governantes da democracia representativa, nem sempre
redundam na reinvenção das bases estruturais de uma dada sociedade a despeito
da escala. Na verdade, em muitos casos as mudanças quando ocorrem se dão de
maneira paulatina e até mesmo em direção contrária do que a própria sociedade
está habituada a ser, viver, praticar e pensar. Por isso, suponho, as tentações
autoritárias dos golpes de Estado se apresentem com tanta freqüência. E mesmo
golpes de Estado ou até revoluções não produziram no século XX a reinvenção da
“sintonia fina”, sutil, quase inconsciente, das sociedades que experimentaram
estas soluções.
Advirto que não estou abdicando
das possibilidades da política. Apenas estou apontando limites da relação entre
o sistema político e a sociedade em si.
Prosseguindo, para pensarmos as
dificuldades do governo Diniz, sugiro olhar para o seu entorno, ou seja, a
própria sociedade local. Esta detém uma gramática profunda a qual já fiz menção
neste espaço em outra ocasião: o clientelismo. Oras, decerto Garotinho e
herdeiros utilizaram desta gramática de forma hábil. Contudo, utilizar-se do
clientelismo não quer dizer que os usuários o inventaram. Da mesma maneira,
para além da classe política, diversos grupos e indivíduos desta mesma
sociedade se beneficiaram. Campos mantém uma histórica ineficiência na
redistribuição de recursos materiais e simbólicos o que faz do clientelismo um
sintoma de sua abissal desigualdade estrutural. Por essa razão, para além de
questões estritamente institucionais, afirmo que o maior desafio de Diniz é a
sociedade que o elegeu.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 11 de março de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes