Padre Paulo Ricardo: cavaleiro de batina do apocalipse pandêmico.*
“O
genocídio é uma forma de civilizar (...)
Acima de tudo, a pandemia mostra isso”.
Ailton Krenak
Fabio Py
* Publicado originalmente por Instituto
Humanitas Unisinos.
A doutrina
da fé bolsonarista se conecta diretamente com uma nuvem densa de religiosos
e cristianismos hegemônicos que sustentam o maquinário de sua gestão
cristofascista. No apoio desse maquinário que tomou o Estado
brasileiro se tem pelo menos três grandes pilares de intelectuais
teológicos: a primeira dos pentecostais ligados à teologia da
prosperidade que enchem o governo de expressões diárias de fé; a segunda aresta,
os protestantes tradicionais (principalmente batistas e
presbiterianos) que salpicam Bolsonaro com brindes teológicos
do naipe de “eleito para governar a nação”; e a terceira tem
“longa duração” como a espinha dorsal que estruturou o Brasil, o catolicismo conservador.
Essa
linha antiga, hoje é irrigada por ao menos duas fontes mais proeminentes que se
relacionam com Bolsonaro: os católicos tradicionais e o grupo dos
católicos carismáticos, da Renovação Carismática Católica (a RCC).
Para tratar desse sistema-aresta primordial do cristofascismo
bolsonarista selecionou-se uma figura fundamental para o catolicismo
hoje, o Padre Paulo Ricardo. Sim, porque, sua figura pública
mobiliza esses dois mundos católicos (catolicismo conservador e RCC),
além de ser uma persona midiática, antenada em múltiplas redes sociais e sites,
agremiando milhares de seguidores. Esse cavaleiro do apocalipse de
batina une os dois mundos a partir de uma formação acadêmica densa de
passagem por instituições dos EUA e Itália, e a
partir de sua prática pastoral espalhada entre as estruturas eclesiais romanas
do Mato Grosso. Agora, o principal: o padre é uma figura que é
recorrentemente citada por Bolsonaro, servindo como “intelectual
teológico” para a mentalidade persecutória do estado cerceador brasileiro.
Quem
é o Padre Paulo Ricardo?
O padre
Paulo Ricardo se chama Paulo Ricardo de Azevedo Júnior,
ligado à Arquidiocese de Cuiabá, Mato Grosso. Nascido
em Recife (PE) no ano de 1967, em 1979 rumou com a família
para Cuiabá. Entre 1983 e 1984, fez intercâmbio e concluiu o Ensino
Médio em Michigan, EUA, onde teve contato com livros e as ambiências dos catolicismos conservadores norte-americano. O que ajudou na
decisão de no ano de 1985 ingressar no Seminário. Em 1992, tornou-se sacerdote
com formação em filosofia e teologia. Defendeu o mestrado em Direito Canônico
pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, no ano de 1993. Sua formação
se deu entre os pontificados de João Paulo II e Bento
XVI, extremamente conservadores na direção do diálogo da fé com o mundo
contemporâneo. Atualmente o padre exerce funções ligadas à pastoral e de ensino
em faculdades e paróquias: Vigário Paroquial em Cuiabá, foi reitor do Seminário
Cristo Rei, secretário geral do Sínodo Arquidiocesano de Cuiabá, professor de
Filosofia e Psicologia na Universidade Católica Dom Bosco, no Instituto
Regional de Teologia e no Studium Eclesiástico Dom Aquino Corrêa – Campo Grande
e Cuiabá.
Paulo
Ricardo se
conecta com o pensamento “ultracatólico” tensionando
sempre que pode as demais tradições cristãs, e principalmente com as de matriz
afro-diaspóricas. Dedica-se na escrita de livros e apresenta o programa
semanal, “Oitavo Dia”, pela Rede Canção Nova de TV. Soma uma
grande quantidade de serviços no seu site, blogs, cobrando por vídeos e aulas.
Suas atividades são largamente difundidas na internet, sendo o padre brasileiro
com maior impacto na internet. A manutenção de seu instituto educacional
em Cuiabá ocorre a partir dos cursos que ministra pela internet.
Todo serviço nos sites é formalizado por uma equipe intitulada Christo
Nihil Praeponere, o que significa em latim: “A nada dar mais valor do
que a Cristo” – sua “identidade visual”.
Muitos
dos vídeos no Youtube vetam a inserção de comentários,
dificultando, assim, a propagação de polêmicas e a visibilização de comentários
negativos, além de cada vídeo ter um breve comentário explicativo resumindo a
ideia central da fala ou da conferência. A maioria das postagens do padre são
autorreferentes. A imensa atividade do padre como professor e palestrante está
contida nas redes sociais eletrônicas, o que amplifica suas oportunidades de
participar de eventos de massa e apresentar um programa de TV na Comunidade Canção Nova.
Essa
atividade ganhou tamanha proporção que, por exemplo, o noticiário “Diário de
Cuiabá”, publicou uma reportagem de descontinuidade à atuação do padre,
intitulado “Padres pedem a bispo que Padre Paulo se cale. Em carta
endereçada a arcebispo, 27 padres pedem que padre seja proibido de pregar”.
Contudo, o texto sinaliza que ocorreu um apoio radical dos fiéis
católicos ao padre. Por outro lado, pode-se destacar sua constante
atuação no Congresso junto a políticos confessadamente católicos
e evangélicos. No fim, a soma de controvérsias, ajudam na mobilização até
porque são divulgadas pela mídia religiosa que dão ao padre
mais exposição - tudo com anuência do bispo diocesano, Dom Milton
Santos. Os apoios recebidos de milhares de fiéis vêm também por sua
desenvoltura discursiva que retroalimentam seus perfis e páginas eletrônicas,
em um movimento contínuo. Esse circuito beneficia a construção de sua guerra
cultural trilhada na leitura restritiva da tradição católica contra
quem ameaça a “família tradicional cristã brasileira”, tal como, defende
a Frente Parlamentar Evangélica, tentáculo ultraconservador
que frequentemente convoca-o para palestras.
Depois
dessas palavras sobre essa emblemática figura do catolicismo,
separaram-se sete materiais sobre sua militância até as recentes produções
diante do impacto da pandemia.
1.
A Igreja Católica é contra a paz
Um
dos seus posicionamentos mais conhecidos é sobre a questão da liberalização das armas de fogo no país. Justifica-o assim:
“Bom, numa abordagem superficial, você pode pegar o catecismo a respeito da
guerra, e você irá encontrar ali uns parágrafos bem suculentos na mão, àqueles
que são a favor do desarmamento (...) A igreja é a favor do desarmamento. Errado, luz vermelha para
você” (veja aqui). Afirma que a Igreja não é a contra o armamento da
população apenas no “contexto bem específico de corrida armamentista (...)
Igreja é a favor de diminuir essas armas tão letais, de armas de destruição em
massa (...) Entendamos meu irmão: o cristão é pacífico, não pacifista”.
Pegando
um caso extremo de invasão de propriedades indica que “é um dever,
um assaltante que entra na sua casa, violenta sua filha, violenta sua esposa,
delapida seus bens, o que você fará? Você dirá que é a favor da paz? Você terá
coragem de olhar para sua filha, sua esposa e olha eu não fiz nada, não porque
sou um covarde, mas porque sou pacifista”. Pinça o caso para fundamentar o
direito da população no acesso às armas, para traçar uma relação complexa
entre armas de fogo, a segurança da propriedade privada, e
familiares. O vídeo foi tão comentado que o clã ‘Bolsonaro’
repostou nas redes sociais.
2.
A descrição da facada sofrida por Bolsonaro
Nas eleições
presidenciais de 2018, o padre seguiu dando cursos nas paróquias. Em um
desses cursos citou a facada que Bolsonaro sofreu durante
as eleições. O vídeo “Padre Paulo Ricardo se pronuncia sobre o
atentado contra Bolsonaro e o vídeo viraliza na web” do dia 11 de setembro
de 2018 mostra isso. É um vídeo curto, contudo, elucidativo mesmo com poucas
palavras. Numa parte compreensível avista-se o cavaleiro do apocalipse
de batina dizendo: “Como você cala a boca das pessoas? Ou você dá uma
facada.... (a plateia diz: mito! Mito! Mito!)”. Com ele se percebe o apoio da
plateia e do padre à Bolsonaro, quando mesmo discursando numa
paróquia não pede para as pessoas se acalmarem diante da citação ao ocorrido ao
candidato. Mais que isso. Com a afirmação indica que a facada sofrida por Bolsonaro no
âmbito das eleições de 2018 foi uma tentativa de “calar” o candidato.
No
discurso desenha a figura do candidato Bolsonaro como um
mártir. Na sequência lembra de um papa representativo para o catolicismo
conservador: Bento XVI. Assim “ou você realiza aquilo que Bento
XVI chama de ‘martírio dos tempos modernos’, que é caluniar,
desacreditar, inventar mentiras sobre essas pessoas”. Portanto, a partir do tom
de adesão a Bolsonaro, salienta que tentam produzir calunias,
mentiras que visam desacreditá-lo. Assume o mecanismo comum entre o ramo mais
conservador, o destaque como perseguido, de que querem silenciar. Segue o ritmo
do raciocínio persecutório típico do cristianismo em prol do discurso da “tentativa
de silenciamento” de Bolsonaro.
3.
Guerra cultural contra o gramscismo
No
contexto da pandemia circulou novamente seu vídeo “A imbecialização do país” . Nele, o cavaleiro de
batina faz uma palestra que foi repetidamente repostada por Bolsonaro (por
exemplo: em 27 de fevereiro de 2017 e outra no dia 28 de abril de 2020). No
material o padre ironiza as tendências de norma “culta” e a “linguagem
popular”. Ao fazer isso numa acusação genérica culpa os professores de passarem
para os alunos “um texto social, com a pretensão de fazer política, quando se
paga para ensinar português”.
No
material sem quaisquer dados ou fontes acusa os professores de tentarem traçar
um processo silencioso a partir da ambiência da sala de aula, buscando incutir
uma politização das crianças e adolescentes. Culpa a classe de
ocasionar uma “lenta e gradual imbecialização de uma nação”. Eles fariam isso
para espalhar uma baixa reflexão e com isso facilitar o domínio “esquerdista”
do país. Com tom acusatório indica que eles promovem isso quando “ao invés de
ensinarem o português, estão aprendendo cartilha marxista. Isso
ajuda muito, pois afinal de contas se eu quero implantar o socialismo,
se eu quero dominar uma sociedade nada melhor que dominar uma classe de
idiomas”. Sim, ele acusa uma categoria, os professores das séries iniciais, de
causar propositadamente a imbecialização da nação. Com isso,
reforça a discriminação sobre a classe que já sofre com os baixos salários e a
falta de condições de trabalho.
O padre movido
por absoluto preconceito contra os educadores tece acusações
cegas típicas de teorias de conspiração primárias. Diz sobre os professores que
“eles (...) não querem que você aprenda nada, que você estude nada, pra
estudar, do jeito que eles querem, isso é o gramscismo, na prática!”. Ainda
diz: “mesmo que você não tenha ouvido falar de Antonio
Gramsci você é um profundo conhecedor de Gramsci (...)
um conhecedor prático, porque foi vítima dele”. Culpa os professores de ensino
básico de construir uma ideologia “esquerdista”,
baseada em Gramsci, chamada por ele de “nova ordem mundial
cristã”. Eis a complexa dedução do olavista de batina que não tem qualquer
demonstração na prática. Ele não fica sem graça de juntar um monte de dados sem
sentido para construir o argumento. Assim, aciona o modus operandi comum
do conservadorismo que despreza a classe professoral e
mobiliza a partir disso seu discurso de guerra cultural. Assim, dá para
entender por que Bolsonaro despreza a classe professoral.
5.
A pandemia e a questão de “não tentar a Deus”
Seu
primeiro vídeo gravado diante da pandemia do Covid-19 chamou
“A igreja prostada diante de um vírus?”, do dia 22 de março de 2020.
Gravou diante da opção do Vaticano de fechar as paróquias pela pandemia.
Questiona: “terá a Igreja perdido a fé? (...) os nossos bispos sendo covardes,
ao cancelarem e privarem as almas do conforto dos sacramentos?”. Ele fala que o
problema não é apenas com a afirmação fideísta (que é “só a fé”) ou do
“racionalismo (...) só a razão” diante da pandemia. Mas sim, de a partir da fé
com rezas e súplicas “obrigar a deus a interferir na história humana com a
abertura das paróquias”. Para ele, com essa série de ações de devoção pode-se
“obrigar a Deus a fazer um milagre”. Tal como o diabo fez com Jesus, no texto
de Mateus 4 e Lucas 4,1-13. Resume assim:
“abrir as portas das paróquias (...) é tentar a Deus, porque está obrigando a
Deus a fazer o milagre”.
6.
A pandemia e o pecado
Com
base nisso afirma que ser católico e fideísta é um contra senso, uma loucura. Para ele, essas são visões de mundo completamente dispares.
Assim, esse cavaleiro do apocalipse de batina se preocupa em
acatar no fechamento das paroquias para não tentar a Deus, e não diretamente
pelas sinalizações dos cientistas de se evitar aglomeração. A pandemia e
o pecado.
No
dia 1 de abril, próximo à Páscoa, lançou mais um vídeo da série
sobre o Covid-19. No
material tenta responder à pergunta se o Covid-19, e
outras pestes, são castigos de Deus. O padre indaga: – se Deus é um “pai
bondoso e compassivo como permitiria tamanhos males sobre os inocentes?”. Nesse
vídeo pondera que “o problema da humanidade é o pecado”, ou seja, o
problema dos milhares de mortos no mundo é o pecado. Numa leitura teológica da
realidade social e biológica entende que é o pecado que está
matando as pessoas.
Essa
leitura comum no universo ultraconservador cristão transformando o
problema humano num juízo teológico, e de forma cruel evoca: “Nosso Senhor
Jesus Cristo sofreu na Cruz, não por causa dos seus pecados, mas pelos nossos.
(...) O sofrimento é sinal dos nossos pecados, do pecado original, do pecado
que fazemos”. Na afirmação ele radicaliza a dogmática cristã colocando que o
sofrimento e a morte são sinais do pecado da humanidade. Não qualquer pecado,
mas sim, o pecado original. O primeiro, que manchou toda humanidade. É
impressionante que nesse momento com o número exponencial de mortes pelo Covid-19 tal
evocação mais parece parte de um sadismo teológico, que pouco se identifica com
o sofrimento das pessoas. Ainda mais comparando-o com o martírio de Jesus: “O
que estou sofrendo não é nada, diante do que sofreu por mim na cruz”. Além
disso, aproveita para chamar a pandemia de “histeria coletiva”.
Ora,
mesmo com a marca de 217 mil mortos, para ele (e para os bolsonaristas)
é parte da “histeria coletiva” e serve muito bem de “pedagogia divina. Porque o
sofrimento que “estamos passando agora, são pequenos ensaios de sofrimentos que
virão para a igreja no futuro. Pode ser que não estejamos vivos para ver os
sofrimentos da grande tribulação”. Assim, fecha os olhos, mesmo que abertos,
para o sofrimento da pandemia, com milhares de mortos, apontando
que esse é apenas um indício do sofrimento final. É isso mesmo. Seu sadismo
elitista em nome de um deus entende que a pandemia não
é um momento apocalíptico, mas apenas um treino do que passaremos no futuro e
que apenas alguns irão sobreviver. Uma típica construção teológica
cristã cega das elites brasileiras.
7.
Covid e tudo mais estão ligados a purificação
O
último material destacado está na forma de escrito desse cavaleiro do
apocalipse de batina brinda-nos com sua crueldade teológica.
No dia 15 de julho de 2020, em seu site pessoal publicou o artigo “Pandemia e os quatro cavaleiros do apocalipse”. Nele,
escreve sobre doenças, pragas, ciclones, terremotos, guerras políticas e
sociais que estamos vivendo desde o início de 2020, sobre o ritmo do Evangelho
de Mateus 24,8, “de fato, há de levantar nação contra nação e
reino contra reino. Haverá fome e terremotos em vários lugares. Tudo isso é o
começo das dores”.
Faz
isso citando novamente a “Grande Tribulação”, a alimentando com seu
raciocínio exclusivista ligando o cristianismo, a peste e a purificação. Assim,
no seu mote central do artigo saca a seguinte sentença: “A ‘peste’, a ‘fome’ e
a ‘guerra’ estão biblicamente ligadas à purificação pela qual os homens
precisam passar”. Essa sua tese teológica é muito séria, pois fundamenta
teologicamente a eugenia socio-biológica. E, com ela, extrapola a
ideia do martírio de toda humanidade por conta do pecado. Engessado
no seu manual de dogmática particular/patriarcal, assume que as três tragédias
são importantes: a peste, a fome e a guerra. É isso mesmo: para ele esses
cataclismas servem para “purificação”. Está cego ao entendimento de que,
desde as sociedades bíblicas (por ele citadas), as pessoas que sobrevivem aos
grandes desastres são aquelas que não são expostas às doenças, não passam fome
ou não vão para guerra. Logo, a sentença teológica do padre é absolutamente
cega às questões sociais. O dito do padre justifica o que Judith Butler afirma sobre as modulações eugenistas
intrínsecas às sociodicéias cristãs. Entende que as mortes são fruto da mão de
deus, que só ele quer vivos e salvos aqueles que o seguem, os eleitos. Ou seja,
operaliza a eugenia a partir da inteligência católica tal como
o cristofascista que se encontra no poder.
O
catolicismo ultraconservador de Paulo Ricardo e seu desprezo/fascínio pelas mortes
Ao
longo do artigo se destacou a figura que sintetiza variados elementos comuns
do catolicismo conversador que vem nutrindo as falas,
pensamentos e as redes sociais de Bolsonaro, o genocida. Esse
último cavaleiro do apocalipse dá tons católicos para um sem
número de pautas que ajudaram a construir politicamente Bolsonaro e
que na atual gestão foram amplificadas. São elas: a teoria da conspiração que
coloca os professores como ponta do gramscianismo no Brasil, que
tentam calar Bolsonaro, o apelo pelo armamento da população
brasileira, a ideia de que a pandemia é apenas uma gripezinha, que ocorre
uma histeria coletiva pelo Covid-19, e o sofrimento é bom pois
ajuda a cortar as “sementes pobres” da humanidade.
Assim,
sua tese mais séria, que vem inspirando nesse período pandêmico Bolsonaro,
é que a gripe é apenas uma prova que visa não apenas ensinar, mas purificar
a nação brasileira. Um eugenismo teológico, um aprofundamento da biopolítica do capitalismo, típico do cristofascismo de Bolsonaro. No fundo, defende que as
mortes que estão enchendo as covas brasileiras e implodindo nosso sistema de
saúde são parte do zelo do divino sobre seus verdadeiros fiéis. E,
infelizmente, todos esses materiais foram produzidos e difundidos no núcleo do
bolsonarismo o que mostra a importância do pensamento do padre para o setor.
Logo,
o padre Paulo Ricardo atua como “intelectual orgânico” (Gramsci)
teológico ajudando na construção do pensamento do governo Bolsonaro,
operando de forma distinta de Malafaia (repleto de xingamentos e gritarias). Nem tão
pouco age de forma descolada como o pastor batista Valandro Junior. Mas sim, fala sobre isso tudo, seguindo o
script indicado na formação católica, isto é, com poucos gestos, expressões
sempre comedidas, e não alterando o tom da voz. Usa o que se chama de “mansidão
na fala” para apoiar e fornecer material teológico para o genocídio da
população pobre, preta, indígena e periférica brasileira.
Assim, vem sendo uma aresta central para a construção do governo mais genocida
do Brasil desde a construção da República.
Referências
bibliográficas:
BUTLER,
Judith. Undoing gender. Nova York: Routledge, 2004.
PY,
Fábio. Pandemia cristofascista. São Paulo: Recriar, 2020.
GRAMSCI,
Antônio. Os intelectuais e a organização da cultura. São Paulo: Civilização
Brasileira, 1982.
MARX,
Karl. Liberdade de imprensa. Porto Alegre: L&PM, 1999.
SILVEIRA, Emerson José
Sena. Padres conservadores em armas: o discurso público da guerra cultural
entre católicos. REFLEXÃO (PUCCAMP), v. 43, 2019, p. 289-309.