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sábado, 25 de março de 2023

Lula versus Moro - Luis Felipe Miguel

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Lula versus Moro**


Luis Felipe Miguel***


Lula errou feio em suas últimas falas sobre Sérgio Moro. Errou na entrevista ao 247, ao expor a compreensível raiva que sentia por ter sido vítima da desonestidade do juiz, sem levar em conta o uso que a direita daria de suas palavras. E errou mais ainda ao dizer que o plano assassino do PCC era provavelmente uma armação do próprio Moro, reconhecendo, na própria fala, que não tinha provas para fazer a acusação.

O timing da operação é estranho? Sim. A juíza paranaense, cúmplice de Moro, que está tocando o processo não teria competência para tal? É o que dizem os juristas.

Mas não cabe ao presidente da República levantar especulações sobre o caso. Lula podia ter dito apenas que, no seu governo, é prioridade garantir a integridade física de todas as pessoas, que a Polícia Federal age sem viés político ou que esperava que a investigação fosse levada até o final.

O problema não é que ele tenha permanecido com "discurso de palanque", como disseram alguns jornalistas.

É que ele devolveu a Moro uma importância que ele não tem mais. Como se um senador medíocre pudesse ser antagonista do presidente.

Hoje, todos sabemos quem é Sérgio Moro: um sujeito inculto, de poucas luzes, não muito inteligente ou articulado, capaz apenas de uma esperteza de fôlego curto.

Deixado à própria sorte, ele terminará seus anos de senador despontando para o anonimato, como diria Nelson Rodrigues.

Não cabe a Lula dar destaque a ele. Lula deve ser cioso da distância que hoje os separa.

E, se há mesmo suspeita de que houve armação, é melhor deixar a investigação andar, para, no momento certo, denunciar com provas, não apenas com convicções. 


* Charge do genial Aroeira publicada no site Diário do Centro do Mundo. Link para o post original: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/dia-dificil-para-moro-que-esta-de-ferias-por-renato-aroeira/, acesso em 25 de março de 2023.

** Publicado originalmente no perfil do Facebook do prof. Luis Felipe no dia 25 de março de 2023. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.

*** Professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). É autor de  "Democracia e representação: territórios em disputa" (Editora Unesp, 2014), "Dominação e resistência" (Boitempo, 2018), dentre outros. Lançou no primeiro semestre de 2022 o seu  "Democracia na periferia capitalista" pela Autêntica Editora.

domingo, 14 de maio de 2017

Moro, Lula e Freud

Moro, Lula e Freud *

George Gomes Coutinho **

Na última quarta-feira ocorreu, enfim, o encontro físico entre o juiz Sérgio Moro e Luis Inácio Lula da Silva.

Podemos observar algumas recorrências no espaço público. A primeira delas e mais óbvia é o fenômeno da “futebolização da política”. Já discutimos em diversos momentos o empobrecimento propositivo causado pela polarização desmesurada e os danos causados para a própria democracia neste cenário. Na última quarta as “torcidas” se organizaram efetivamente com bandeiras, expectativas e um certo ar de “final de campeonato”.

De novidade em Curitiba, pelo menos durante o “evento”, tivemos a notória desidratação dos movimentos assumidamente mais voltados para propostas estritamente moralizantes da sociedade. Atribuo este efeito a três causas: 1) a própria solicitação de Moro para que os grupos alinhados com a postura de parte do Ministério Público Federal não comparecessem. Foram espantosamente obedientes!; 2) Como em outros momentos da História, a pauta moralizante, justamente por sua fragilidade em apontar para um projeto de sociedade, é insuficiente para manter mobilizados os grupos; 3) Os movimentos “moralizantes” demonstraram em diversas ocasiões seus pés de barro ao terem dentre seus membros e simpatizantes inúmeros casos de corrupção e congêneres, algo que abala a coerência da pauta.

Outro fato recorrente e menos óbvio é a infantilização da esfera pública brasileira que busca, de forma incessante, uma figura paterna para se apoiar. A sacralização de Moro ou Lula produz distorções severas e o olhar amoroso e afetivamente carente de seus seguidores impede que se compreendam as contradições intrínsecas de ambos.  Ou seja, a criticidade, elemento fundamental para os dias que correm, é jogada na lata de lixo. Só que sem crítica não há o “bom combate” e tampouco a História avança.

Penso em um conselho psicanalítico para esta conjuntura. Para a tradição de pensamento criada por Sigmund Freud (1856-1939), o indivíduo que não toma para si seus desejos e projetos de vida e segue cegamente “papai” não amadurece. Isso vale também para a política.

* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 13 de maio de 2017


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes