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quinta-feira, 15 de março de 2018

Marielle Franco, presente!



Marielle Franco, presente!


Por Paulo Sérgio Ribeiro


Não há como passar incólume pelo assassinato da colega Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes, motorista da vereadora (PSOL-RJ), ocorrido ontem na capital fluminense. Os colaboradores deste blog manifestam pesar e prestam solidariedade às suas famílias. Emprego “colega” aqui respeitosamente, já que Marielle era socióloga, tendo se graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e, em seguida, tornado-se mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). A última credencial acadêmica fora obtida com a defesa da dissertação “UPP: a redução da favela a três letras”, título mais do que emblemático dos temas e problemas que moviam a sua militância a partir de uma realidade estruturada pela violação sistemática de direitos.

Deveras, a inevitável comoção diante do fato não deve balizar a investigação criminal. Espera-se que esta ocorra com sobriedade para a elucidação do crime. Todavia, essa moderação não se confunde com uma pretensa “isenção de ânimo” em face dessa brutalidade, pois, a despeito de quem seja a provável autoria do crime – que reúne elementos típicos de uma execução – calou-se uma voz que, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, amplificava o grito insubmisso de segmentos populares e de minorias submetidos a toda sorte de arbítrio chancelada pela promiscuidade entre o aparelho de Estado e os agentes da criminalidade violenta.

Sua agenda política movimentada e polifônica era um exercício de poder constituinte: a refundação da vida em comum pelas iniciativas de indivíduos e grupos com os quais mantinha uma interlocução permanente em sua vereança; mulheres e homens periféricos que, através do seu mandato, reabilitavam sua capacidade de ação coletiva ao invés de serem capturados pela burocracia do estado como seres anônimos e atomizados para fins de estatística. É cedo para afirmarmos que o assassinato de Marielle Franco foi ou não um crime político na acepção convencional do termo. Mas, sem dúvida, foi uma violência contra a política, se entendida como um poder radicado na liberdade do cidadão comum de praticar a desobediência civil e não no seu controle sob a forma de um cordão sanitário entre o asfalto e o morro que, de tempos em tempos, reduz as bases da convivência ao silêncio cínico diante do terror institucionalizado.

Nota Associação Brasileira de Ciência Política - Assassinato de Marielle Franco

Na noite de ontem a vereadora Marielle Franco, do PSOL, foi morta a tiros, juntamente com seu motorista, na região central do Rio de Janeiro. A Associação Brasileira de Ciência Política vê com enorme preocupação o assassinato da vereadora dadas as circunstâncias em que o crime foi cometido, segundo a apuração inicial feita pelos jornais. A mínima sugestão de que a vereadora tenha sido executada por seu papel político deve ser considerada e exaustivamente investigada pelas autoridades competentes.
Marielle Franco era socióloga formada pela PUC-Rio, mestre em Administração Pública pela UFF, foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro nas eleições de 2016. No cargo político que ocupava, atuava direta e combativamente em parceria com diferentes frentes dos movimentos sociais ligados aos direitos humanos, ao movimento negro e direitos das mulheres. A perda de sua voz para os movimentos com os quais dialogava e para o cenário político do Rio de Janeiro é, sem sombra de dúvida, irreparável.
É com urgência que a ABCP requisita às autoridades municipais, estaduais e federais uma ampla investigação do crime. É também com decepção que nos dirigimos às mesmas autoridades pela incapacidade diária de garantir o direito à vida dos cidadãos do Rio de Janeiro. 
Expressamos nossa solidariedade aos familiares da vereadora e do motorista Anderson Pedro Gomes. A ABCP espera que as autoridades sejam céleres em oferecer uma resposta definitiva e correta à sociedade.
Disponível em: https://cienciapolitica.org.br/noticias/2018/03/nota-assassinato-vereadora-marielle-franco-psol