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domingo, 9 de outubro de 2016

A morte da política?

A morte da política? * 

George Gomes Coutinho **

Eis que a política tem mais uma vez sua morte decretada por diversos analistas e políticos profissionais. Não é a primeira vez que declaram de forma equivocada seu óbito. Justamente por esta razão, dentre outras que irei expor nas próximas linhas, considero o diagnóstico distorcido.

O juízo que avalia a morte da política encontra alguma razão de ser quando observamos os resultados das últimas eleições municipais em diversas cidades brasileiras de médio e grande porte, especialmente se nos concentrarmos nas disputas majoritárias.  A derrota de lideranças históricas, o surgimento de novos nomes “fabricados” pelo marketing político ou daqueles construídos organicamente em face das demandas apresentadas pela sociedade, o esmaecimento da política partidária tradicional e a presença do discurso tecnificado sobre a coisa pública levam água ao moinho das perspectivas mais pessimistas.

Porém, a política ainda é um dos grandes instrumentos onde a sociedade torna vinculante decisões de impacto coletivo. É a forma, radicalmente mundana, de projetar em ações qual maneira de viver decantará em detrimento de outras. A questão é que sociedades complexas são formadas por grupos, estratos, classes sociais e na democracia representativa liberal projetos societários encontram-se em disputa. Neste sentido a política não morreu.

Eleições são fenômenos que não deveriam ser observados em uma perspectiva atomizada. Sendo um fenômeno complexo, as eleições refletem demandas e momentos históricos, não obstante o elemento invariável que caracteriza o pleito: o interesse. Eleitores e políticos profissionais guiam-se por seus interesses e é este gatilho que dinamiza o mercado eleitoral.

Cabe discutirmos evidentemente quais apostas se plasmaram nas urnas neste outubro de 2016 nos municípios brasileiros. Em uma conjuntura fortemente demarcada por um discurso seletivo pautado por valores morais, em alguns casos a técnica se apresentou como saída hipoteticamente “neutra”. O marketing político, dadas as regras do jogo, também foi bem sucedido. Mas, não se trata da morte da política. É apenas sua nova e um tanto frustrante faceta histórica. Só cabe um alerta final: nem a política e tampouco a história estão congeladas.

* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 08 de outubro de 2016


** Professor de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes