segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
domingo, 27 de janeiro de 2019
Sobre o crime ambiental da Vale S. A.
NOTA DA AGB E DA ANGEPE SOBRE O CRIME AMBIENTAL DA
VALE S. A. BRUMADINHO: NÃO FOI ACIDENTE!
A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), reunida
na 136ª Reunião de Gestão Coletiva (RGC), e a Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Geografia (ANPEGE), vêm por meio desta manifestar à sociedade
brasileira nosso posicionamento contra o já anunciado assassinato dos seres
humanos e do seu ambiente ocorrido na barragem do Feijão, de propriedade da
Vale S.A., situada no município de Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro de
2019.
Este crime ambiental de responsabilidade da Empresa
Vale S.A. – e compactuado por um Estado brasileiro subserviente à lógica do
capitalismo neoliberal/neoextrativista – é mais uma violação provocada pela
destrutiva submissão dos bens naturais pertencentes à toda sociedade aos
interesses empresariais. A ofensiva neoliberal, sob a égide da atual conjuntura
geopolítica de desconstrução da regulação/legislação ambiental, consolida um
modelo predatório desumanizado de concentração e apropriação das riquezas
sociais e naturais que resultou no assassinato de trabalhadores e trabalhadoras
do campo e da cidade, de populações ribeirinhas e demais cidadãos de Brumadinho
e Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Não foi acidente. Acidentes são provocados por
tsunamis, erupções vulcânicas, terremotos, vendavais, tufões etc. Rompimento de
barragem(s) é crime ambiental, é ganância, é negligência, é certeza de
impunidade.
A AGB e a ANPEGE se solidarizam com os familiares das
vítimas e exigem que a Vale S.A. seja responsabilizada por este crime, além de
arcar com o auxílio emergencial a todos os atingidos, com a reparação ambiental
da área atingida e reestruturação imediata da segurança de todas as barragens
administradas pela empresa.
Convidamos a sociedade
a pôr um fim nesse perverso modelo socioambiental de exploração mineral que faz
parecer acidente natural um conjunto de crimes e catástrofes.
Convocamos, ainda, toda a comunidade geográfica para o
acompanhamento das questões relacionadas ao crime, e a intervenção
conjuntamente aos movimentos sociais e outras entidades e organizações da
sociedade civil.
Fortaleza, 27 de janeiro de 2019.
ASSOCIAÇÃO DOS
GEÓGRAFOS BRASILEIROS
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM
GEOGRAFIA
---
Fonte: Mídia Ninja.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
(Mais um) dia de luto? O exílio político de Jean Wyllys
Por Vanessa Henriques*
Hoje é um dia estranho.
Não tenho conseguido pensar ou engolir a comida direito. Meu facebook só lamenta a partida do Jean Wyllys e isso me faz lembrar o dia da morte de Marielle. De certa forma, é como se Jean tivesse morrido também.
O sentimento de perda é parecido. Mataram a possibilidade de Jean nos representar. Minaram suas forças e ele não consegue mais aguentar tudo que aguentou desde que iniciou a carreira parlamentar.
Difícil conseguir mensurar o que ele enfrentou.
Quando "matam" um representante popular, é como se muita gente morresse junto com ele. Hoje, o tiquinho de esperança que muita gente ainda nutria com dificuldade morreu também. A representação parlamentar reveste um ser humano comum de um poder muito especial.
Ele não é mais "só" ele, Jean; ele é vários de nós. Muita gente está chorando e morrendo por dentro com a sua partida. "Matar" um parlamentar é uma espécie de genocídio simbólico. O estrago é coletivo, é massivo. Eis a mágica da democracia representativa.
Apesar do gosto de morte que hoje está em minha boca, tento lembrar que ele está indo justamente pra conseguir se manter vivo. Jean, receba meu abraço, minha enorme gratidão, minha admiração, meu afeto e minha solidariedade.
* Socióloga; ex-Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Campos dos Goytacazes; e ex-Assessora de Direitos Humanos da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social de Campos dos Goytacazes.
* Socióloga; ex-Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Campos dos Goytacazes; e ex-Assessora de Direitos Humanos da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social de Campos dos Goytacazes.
Descontrole
Descontrole
Por Paulo Sérgio
Ribeiro
As Guardas Municipais têm a
competência de proteger bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei, sendo
facultativa a sua criação pelos municípios. Assim diz a Constituição Federal
(Art. 144, § 8º). Se assim o é, a Guarda Municipal exerce o poder de polícia
administrativa o qual consiste em uma limitação de direitos, bens e atividades,
atingindo indiretamente pessoas[1].
Talvez, as próprias ambiguidades do artigo 144 acabem por dar livre curso a um imaginário em torno das Guardas Municipais que tende a desvirtuar sua missão
institucional.
Fato é que, ao menos
originalmente, tal segmento da administração pública municipal em nada tinha a
ver com a manutenção da ordem pública tal como é feita pelo
policiamento ostensivo militarizado nos estados da federação. Este tem por
objeto infrações penais e, como tal, seus agentes públicos – policiais militares
- intervêm diretamente na vida das pessoas. Considerando que a vigência do
texto constitucional não teve a melhor sorte passados mais de 30 anos de sua
promulgação, assistimos hoje a um crescente descontrole das autoridades que personificariam,
digamos, o potencial civilizatório da segurança pública.
Eis o que ocorreu, ontem, no
Jardim São Benedito, conforme o vídeo acima[2].
Trata-se de um fragmento e, logo, conceder o benefício da dúvida aos envolvidos
é sempre um bom caminho para chegarmos a um senso de proporção. Vendo e revendo
o vídeo, uma evidência salta aos olhos: não houve ali um mínimo de perícia por
parte do guarda municipal no tocante à abordagem policial. Um comando eficaz
não se confunde com “berro” ou empurrão, e o uso progressivo da força asseguraria ao
agente de segurança opções que não excedessem àquilo que a circunstância
exigia. Por parte dos abordados houve, se muito, resistência passiva
(argumentação), a qual não justificava tamanha agressividade do guarda
municipal.
Sim,
Guardas Municipais e Polícias Militares têm competências constitucionais distintas,
mas nem por isso deixam de compartilhar saberes operacionais. Na falha de tais
saberes, o que nos resta? O homem mediano, com suas visões parciais sobre
usos e costumes no espaço urbano, que mal suporta o peso da autoridade que
lhe fora investida. Cabem ao Ministério Público Estadual, que exerce o controle
externo sobre as Guardas Municipais, bem como à Corregedoria do órgão municipal
fazer as diligências devidas. Do contrário, reunir-se em locais abertos ao público será, cada vez mais, um privilégio em nossa cidade.
[1]
Uma boa definição de poder de polícia administrativa se encontra no Código
Tributário Nacional (CTN), sistematizado pela Lei nº 5.172, de 1966.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
Mesa Redonda debate Educação Brasileira: 30/01/2019 - Instituto Federal Fluminense - Campus Centro
Prezad@s,
Divulgando Mesa Redonda que ocorrerá no Instituto Federal Fluminense no próximo dia 30 de janeiro, uma quarta-feira, 18:30 no Auditório Miguel Ramalho no Campus Campos Centro.
A Mesa intitulada "Estado. política e o cenário atual para a educação no Brasil: desafios e enfrentamentos" terá como pilotos os experientes Daniel Damasceno e Marcos Abraão Ribeiro.
Divulgue, prestigie!
segunda-feira, 14 de janeiro de 2019
sábado, 12 de janeiro de 2019
Divulgação - I Semana da Visibilidade Trans
Apresentamos a I Semana da visibilidade trans com o intuito de debater temáticas e trazer visibilidade acerca da população transexual, transgênero e travesti.
Diante do avanço do conservadorismo sobre as pautas de gênero e sobre os nossos corpos, não temos escolha a não ser gerar o debate para toda a população campista para que, deste modo, a ignorância e o preconceito fiquem cada vez mais distantes de nossa cidade. Então aqui anunciamos a nossa I Semana da visibilidade trans de Campos dos Goytacazes.
O nosso evento contará com 3 dias de debate, sendo eles dia 29, 30 e 31. No Museu Histórico de Campos. Das 18:00 hora às 22:00 horas.
Fonte: Facebook.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2019
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
Mais um ano que se passa, mais um ano sem você: 31 anos sem Henfil
É comum em datas de anos de morte de entes queridos próximos ficarmos saudosos.Pois assim tambem se dá em termos de celebridades.No meu caso, todo começo de ano se dá a mesma coisa, afinal o dia quatro de janeiro de 1988 foi a data de passagem do cartunista Henfil.
Geralmente desopilo tecendo algum movimento que resgate a importancia de sua trajetória. Seja fazendo algum desenho em sua homenagem, como no ano passado,seja escrevendo acerca de algum recorte de sua vasta obra. Ou mesmo tentando pautar a midia acerca da importancia da data. Tudo no sentido de manter um compromisso que tenho comigo mesmo: levar o legado de Henfil ao maximo de pessoas.
Porém, nesse sentido nada se compara ao ano de 2008, que tomado por esse sentimento de perda referente à sua morte me desembestei a escrever um livro sobre a contribuicao politica do cartunista, que resultou em "Henfil: o humor subversivo".
Desde entao nunca mais parei de produzir acerca de seu legado. Já se vao inúmeros artigos,entrevistas e palestras. Alem de uma tese de doutorado, que resultou em um segundo livro, intitulado "Diretas Jaz".
Quando relembramos de alguém vem à cabeca uma situação específica, algum acontecimento fortuito, uma cena engraçada.No que corresponde ao Henfil só consigo pensar em uma coisa: na importância de defendermos a democracia. Pronto, falei. E aí está a minha contribuicao desse ano, se é que me entendem?
terça-feira, 1 de janeiro de 2019
Feliz Ano Velho
Feliz Ano
Velho
Por Paulo Sérgio Ribeiro
Ser colaborador em um blog proporciona experiências fascinantes tais
como a sintonia do que publicamos. Eis o que me aconteceu ao ler o
texto inaugural deste 2019 escrito por Márcio Malta, o nosso Nico. Apesar de professarmos a Sociologia como responsabilidade pública, com todos os tributos que
por vezes rendemos ao estilo de redação científico, é bom lembrar que o formato do blog se presta essencialmente à
função expressiva da língua, o que nos devolve à singularidade de “todo aquele
que nos empresta sua testa”, para reverenciar um dos versos do atemporal Chico
Buarque.
Se assim o é, aproveito a oportunidade para iniciar os meus trabalhos
por aqui com um tom mais “pessoal” do que de costume.
Gostaria de falar da travessia que começamos a partir de hoje como bem
sintetizou Nico em “O que representa o governo Bolsonaro?”, tendo por enfoque o
que exigirá de nós, partícipes do campo progressista da política
brasileira, um senso tático e, talvez, um esforço sobre-humano: conviver com
quem nos é declaradamente hostil sob o governo de extrema-direita de Jair
Bolsonaro. Sobreviver para resistir e resistir para sobreviver. Antes fosse
só um jogo de palavras...
Os “bolsonaros” estão soltos por aí. Têm de todo tipo. A fauna é
variada, sabemos. Divirto-me especialmente com aqueles(as) que nos enviam
mensagens de paz nas festividades de fim de ano. É como se dissessem: “Gozamos
com o terror institucionalizado, mas temos bom coração”. De minha parte,
pergunto: de que nos valeria transigir com um simulacro de democracia? O ensaio
de “pax armada” que marcou o rito de posse do presidente eleito aí
está para quem quiser ver. Uma grotesca mostra da continuidade de um governo
ilegítimo que se instaurou em 2016, considerando os seus alinhamentos
programáticos com a agenda ultraliberal de Michel Temer.
Ora, alguém poderia contra-argumentar: gostemos ou
não, é o que a vontade coletiva decidiu e qualquer objeção a isso seria
antidemocrático. Em tese, não haveria por que discordar de uma ponderação desse
tipo. No entanto, nunca é demais lembrar os não poucos sinais de que será
mínimo o espaço democrático para a oposição ao governo federal e aos seus símiles estaduais, pois, concordando com a psicóloga Eni Gonçalves de Fraga[1], estamos sob a iminência de uma ditadura
civil-militar em que, ironicamente, os líderes da autocracia burguesa não
precisam fazer nada mais do que “seguir” os seus liderados.
É
uma ditadura às avessas. É uma ditadura que vem das ruas. Dessa vez não é de
cima pra baixo. É de baixo pra cima. Os bolsonaros saíram à luz do dia para
impor uma nova (antiga) ordem, elegendo o seu maior representante, que teve a
audácia de colocar a cara no sol, porque sabia que estava em consonância com o
coletivo. Ele apareceu com segurança e tranquilidade. Porque o trabalho e o
esforço não é dele. É do povo. Ele não precisa sequer fazer discurso, debater,
argumentar. Porque não é disso que se trata. Não é isso que determina a sua
eleição[2].
Se os “odiadores da política” aderem em massa
àqueles que continuam a fazer política profissional lhes incitando a regressão
dos costumes em um círculo vicioso, quais opções nos restam sem, necessariamente, abrir mão da via
institucional? Admito não ter resposta pronta e acabada para isso. Apego-me apenas ao “paradoxo da tolerância” do qual nos fala Karl Popper. Para o
filósofo da ciência austríaco, seria risível (se trágico não fosse) certos
chavões dos bolsonaristas de plantão como “É preciso esperar o que vai
acontecer” ou “Torcer contra de nada adianta”. Repeti-los seria o mesmo que combinar com um canibal aonde ir depois do jantar...
Falando sério, por que o paradoxo que Popper esculpiu
no imediato pós-guerra se mostra à prova do tempo? Basicamente, porque a
política, como construção provisória de consensos, requer de cada um(a) enxergar
a si mesmo(a) como membro de um todo que assim se constitui pela liberdade de
todos os indivíduos em particular. Ora, diria Popper, tolerar os intolerantes põe
em risco a própria tolerância, na medida em que não é possível detê-los
pela força da argumentação lógica; pelo contrário, eles redobram a sua força
justamente pela rejeição a quaisquer argumentos.
Sendo assim, insistir em relativizar manifestações
de intolerância do governo Bolsonaro e dos seus “seguidores” é perder de vista
aquilo que é a última garantia da luta por autoconservação: a desobediência
civil. Se esta for mesmo a tarefa do momento, quais práticas e saberes políticos seremos
capazes de mobilizar para resistir ao autoritarismo?
Temos um ano inteiro para descobrir.
[1]
https://jornalggn.com.br/fora-pauta/um-olhar-da-psicologia-sobre-o-fenomeno-coiso-por-eni-goncalves-de-fraga
[2] Ibid.
ibidem.
O que representa o governo Bolsonaro?
A proposta deste pequeno texto é contribuir para mapear o que significa o governo Bolsonaro para o país. Agora empossado, fica mais fácil antever quais são as consequências deste projeto em termos nacionais.
Em linhas gerais podemos seguir três linhas. Quais sejam: tentar compreender o significado político, econômico e social das linhas daqueles que por ora chegam ao poder em âmbito federal.
Esmiuçando primeiramente o caráter político, se desenha um esvaziamento da esfera legislativa. O político insinua em seus pronunciamentos que irá governar mormente por decretos presidenciais, sem respeitar a instância dos demais poderes constituídos e da esfera tão oportuna dos mecanismos de controle que ali residem. Sendo ainda preocupante principalmente o desrespeito ao direito de contestação e a perseguição também ventilada em seus discursos de que não irá respeitar as oposições, principalmente as de esquerda. Neste tocante é fundamental denunciarmos o quão fantasioso é o macartismo de Bolsonaro, que elege o marxismo como principal adversário tão somente para erigir um inimigo e manter a sociedade em alarme para que possa aprovar em surdina outras medidas de enfoque neoliberal.
Aqui cumpre destacar portanto o que se desenha no horizonte em termos de macro economia. A promessa que deve ser cumprida é a do esvaziamento do Estado na esfera dos investimentos. Com um cenário de submissão aos interesses norte-americanos, de entrega das nossas riquezas nacionais, tendo à testa um amplo programa de privatizações. Ao que parece voltará à cena a máxima surrada de antigos governos submissos de o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. Nesse talante, haja continência!
Ainda na seara econômica, caso se repitam os processos históricos daqueles governos que adotaram o neoliberalismo como bula, teremos um quadro de recessão impulsionado pela falta de investimentos estatais maciços em áreas estratégicas. Esse é o resultado do Estado mínimo, que é sempre máximo para os setores financeiros. Se comporta como um leão na liberalização, mas como um gatinho acuado ao enfrentar os impasses e dilemas das garantias sociais.
Em termos de conclusão, pode se dizer que no âmbito social o que se rascunha é o abandono dos mais desfavorecidos, em nome de uma política cultural que irá perseguir minorias como a dos homossexuais e coloca em risco direitos adquiridos por setores combativos como os movimentos sociais. Sem contar os ataques que podem ser perpetrados à religiões que não professem o culto ao cristianismo, assim como a perda do reconhecimento de dívidas históricas para com o povo negro e as devidas políticas de compensação tão necessárias. Assim como a agenda das questões femininas e o combate a perpetuação de uma sociedade patriarcal calcada no machismo e na agressão às mulheres que pode ter uma escalada do número de agressões.
Por fim, não se trata de otimismo ou não com as medidas palacianas que estão por vir. Mas sim saber ler com a ajuda fundamental do aspecto pedagógico que a história nos ensina de que governos com perfil antidemocrático não são saudáveis para o amadurecimento das instituições.E de que os mesmos não trazem desenvolvimento nos campos aqui perscrutados. Se abrem tempos difíceis onde será necessário sempre o argumento da lógica e da razão para que se vislumbre um futuro diferente desejado, com respeito às diversidades e em prol dos injustiçados.
* Marcio Malta é cientista político e professor universitário (Uff)
Em linhas gerais podemos seguir três linhas. Quais sejam: tentar compreender o significado político, econômico e social das linhas daqueles que por ora chegam ao poder em âmbito federal.
Esmiuçando primeiramente o caráter político, se desenha um esvaziamento da esfera legislativa. O político insinua em seus pronunciamentos que irá governar mormente por decretos presidenciais, sem respeitar a instância dos demais poderes constituídos e da esfera tão oportuna dos mecanismos de controle que ali residem. Sendo ainda preocupante principalmente o desrespeito ao direito de contestação e a perseguição também ventilada em seus discursos de que não irá respeitar as oposições, principalmente as de esquerda. Neste tocante é fundamental denunciarmos o quão fantasioso é o macartismo de Bolsonaro, que elege o marxismo como principal adversário tão somente para erigir um inimigo e manter a sociedade em alarme para que possa aprovar em surdina outras medidas de enfoque neoliberal.
Aqui cumpre destacar portanto o que se desenha no horizonte em termos de macro economia. A promessa que deve ser cumprida é a do esvaziamento do Estado na esfera dos investimentos. Com um cenário de submissão aos interesses norte-americanos, de entrega das nossas riquezas nacionais, tendo à testa um amplo programa de privatizações. Ao que parece voltará à cena a máxima surrada de antigos governos submissos de o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. Nesse talante, haja continência!
Ainda na seara econômica, caso se repitam os processos históricos daqueles governos que adotaram o neoliberalismo como bula, teremos um quadro de recessão impulsionado pela falta de investimentos estatais maciços em áreas estratégicas. Esse é o resultado do Estado mínimo, que é sempre máximo para os setores financeiros. Se comporta como um leão na liberalização, mas como um gatinho acuado ao enfrentar os impasses e dilemas das garantias sociais.
Em termos de conclusão, pode se dizer que no âmbito social o que se rascunha é o abandono dos mais desfavorecidos, em nome de uma política cultural que irá perseguir minorias como a dos homossexuais e coloca em risco direitos adquiridos por setores combativos como os movimentos sociais. Sem contar os ataques que podem ser perpetrados à religiões que não professem o culto ao cristianismo, assim como a perda do reconhecimento de dívidas históricas para com o povo negro e as devidas políticas de compensação tão necessárias. Assim como a agenda das questões femininas e o combate a perpetuação de uma sociedade patriarcal calcada no machismo e na agressão às mulheres que pode ter uma escalada do número de agressões.
Por fim, não se trata de otimismo ou não com as medidas palacianas que estão por vir. Mas sim saber ler com a ajuda fundamental do aspecto pedagógico que a história nos ensina de que governos com perfil antidemocrático não são saudáveis para o amadurecimento das instituições.E de que os mesmos não trazem desenvolvimento nos campos aqui perscrutados. Se abrem tempos difíceis onde será necessário sempre o argumento da lógica e da razão para que se vislumbre um futuro diferente desejado, com respeito às diversidades e em prol dos injustiçados.
* Marcio Malta é cientista político e professor universitário (Uff)
Assinar:
Postagens (Atom)