quinta-feira, 28 de março de 2019

Agende-se: Ato silencioso "Ditadura Nunca Mais"


O Movimento Unificado de Mulheres de Campos-RJ convoca toda a população e sociedade civil organizada de Campos dos Goytacazes e adjacências a estarem presentes no Jardim São Benedito, dia 31 de março, às 15hrs, para o:

Ato Silencioso - Ditadura Nunca Mais em memória das vítimas da ditadura militar brasileira e em repúdio às iniciativas de comemoração a este triste e indigesto episódio da nossa história.

Traga seus cartazes, faixas, camisetas e tintas, ou venha de preto.

Confirme presença e divulgue: 

quarta-feira, 27 de março de 2019

Agende-se: Ato em defesa do Restaurante Popular, quinta-feira, às 11h.


Por que lutamos?

Somos contrários ao projeto da Prefeitura que pretende criar critérios de acesso ao RP, aumentando o valor das refeições e exigindo comprovação de renda para a população. Não podemos aceitar que a refeição em um restaurante público custe até R$ 8,00 para uma mãe e um pai de família, aposentados e estudantes. 

Quem somos?

Somos dezenas de entidades e trabalhadores(as) da sociedade civil organizada, em Campos/RJ, que constroem o Movimento em Defesa do Restaurante Popular.

UNIDOS SOMOS FORTES!!!
PARTICIPE!!!

terça-feira, 26 de março de 2019

Convite lançamento "Pesca Artesanal no Norte Fluminense” - abril, UFF Campos


Prezad@s,


Eis que o inoxidável Sr. José Colaço Dias Neto apronta mais uma. O camarada organizou e lança neste mês de abril coletânea “Pesca Artesanal no Norte Fluminense”.


Nesses tempos bicudos o trabalho organizado por Colaço é um belo presente disponível no mercado editorial e certamente imprescindível para pesquisadores e leitores do Norte Fluminense e alhures.

Vamos ao convite oficial:

“Prezad@s colegas,

É com grande satisfação que convidamos para o lançamento da coletânea “Pesca Artesanal no Norte Fluminense: estudos de caso sobre meio ambiente, conflito e resistência de um modo de vida” organizada por José Colaço, que conta com trabalhos realizados por pesquisadores do Neanf/UFF nos últimos anos e um texto inédito do Prof. Aristides A. Soffiati.

O livro integra a Coleção Conflitos, Direitos e Sociedade do INCT-InEAC/UFF e consolida os primeiros estudos de carácter empírico e etnográfico sobre a pesca artesanal na região após a refundação do Neanf na UFF. A apresentação da obra foi escrita pelo Prof. Fábio Reis Mota.

O lançamento acontecerá no dia 03 de abril, quarta-feira, às 18h, no Auditório do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF em Campos-RJ. Na ocasião será realizada uma Mesa Redonda com a presença dos autores dos capítulos.

Serão emitidos certificados de participação para os presentes no evento e haverá venda de livros no local.

Pedimos, por gentileza, que compartilhem o convite em suas redes.”



segunda-feira, 25 de março de 2019

Padrões de beleza, violência simbólica, cabelos e representatividade


Publicado originalmente em Prensa de Babel (aqui).

Padrões de beleza, violência simbólica, cabelos e representatividade

Por Renata de Souza Francisco*

Como a maioria das meninas negras que nasceram na década de 80, fui apresentada desde muito nova aos vários métodos de tortura capilar. Tortura sim! Porque hoje entendo tudo que estava por trás daqueles alisantes infernais que queimavam meu coro cabeludo, ardiam meus olhos e era motivo de choro e sofrimento em minha casa a cada 2 ou 3 meses. A hora de cuidar do cabelo era o momento mais traumático do meu dia.

Cresci odiando pentear os cabelos. Achava que um dia meus olhos se assemelhariam a de uma oriental. A força e os rabos de cavalo feitos em meus cabelos eram extremamente apertados. Tudo em nome de não deixar nenhum fio se rebelar e mostrar que de fato eu não tinha cabelos lisos. Meu cabelo era quase assunto do Código Penal, como costumavam dizer popularmente. Era o cabelo bandido: ou estava preso ou armado. Logo, era perigoso em qualquer das suas formas de apresentação.

À medida que fui crescendo, incorporei o argumento irrefletido, do senso comum, de que o cabelo alisado se justificava por ser mais fácil de cuidar e uma alternativa “legal” ao cabelo bandido, afinal meu cabelo era classificado como o cabelo ruim, o cabelo de pico, o cabelo duro e outras coisas do gênero.

Há mais ou menos dois anos atrás, resolvi não mais alisar meus cabelos. E, junto com essa decisão, veio uma enxurrada de questionamentos e uma leve crise existencial. Além de questões existenciais, tive uma profunda crise de representatividade. Onde estão as mulheres negras de cabelo natural bem-sucedidas? Quais atrizes negras fazem papel de destaque? Quantas jornalistas negras vejo na TV?

Comecei a perceber que não faltavam apenas mulheres negras com seus black power na mídia, faltavam pessoas negras como um todo, com cabelo liso ou natural. Não via pessoas negras em posição de destaque, em profissões bem remuneradas. Faltava representatividade. Infelizmente, ainda sou a única negra a frequentar alguns espaços de poder em uma condição “privilegiada”, o que me levou a mais questionamentos.

Aos olhos de quem não é negra ou é negra e nunca questionou seu cabelo alisado, minhas inquietações poderão parecer algo menor. Só que, atrás de um cabelo alisado, existe um campo de disputas por narrativas e poderes. Narrativas ideológicas em que o padrão eurocêntrico se estabelece às custas da autoestima e do sacrifício das muitas mulheres negras, que eram e ainda são “submetidas”, como disse no início, a um verdadeiro ritual de tortura.

Que fique nítido: não quero dizer que todo mundo tenha de fazer uma transição capilar ou queimar as chapinhas e os alisantes em praça pública. Se quiser continuar alisando o cabelo, ok! Não penso que o cabelo alisado, por várias questões que apontarei abaixo, deslegitime o discurso engajado e consciente. Tenho consciência de que a posição de alisar ou deixar de alisar é imposição. Não podemos sair de uma e cair em outra.

Alguns me dirão: “Que exagero! O alisante não pula na cabeça de ninguém”. Sim! Concordo. A colonização do pensamento e as necessidades espelhadas no paradigma eurocêntrico criaram amarras, ou melhor, alisantes para uniformizar os cabelos e os pensamentos. Nós, mulheres negras, para sermos aceitas no mercado de trabalho, na escola e no mercado matrimonial, fomos obrigadas, durante muitos anos, a alisarmos nossos cabelos. Ou seja, sofremos uma violência silenciosa, do tipo que a sociedade naturaliza e ninguém questiona.

Um tipo de violência branda, uma violência que usa artifícios sutis para que as regras impostas pelos que dominam sejam até desejadas. O sociólogo francês Pierre Bourdieu cunhou o conceito de “violência simbólica”, que tomo a liberdade de usá-lo aqui, para pensar a colonização e a normatização de nossos corpos. Afinal, o corpo da mulher sempre foi um campo de disputas, não ficaria o cabelo da mulher negra fora dessa seara.

A violência simbólica “consiste em uma forma de aceitação de crenças, regras partilhadas como se as mesmas fossem normais e naturais”. A ideia do amor materno, a crença de que é papel da mulher cuidar da casa e dos filhos sozinha, de que homens não sentem medo e não podem chorar, dentre outras. Com o alisamento do cabelo é assim, já está estabelecido há muito tempo que alisar o cabelo era uma etapa considerada “normal” na vida de uma menina negra.

O que gerou anos de inflexão da mulher negra sobre seus cabelos. E não as culpo ou, melhor, não me culpo. Pensar no cabelo é pensar em autoestima, é pensar nossa relação com o mundo. Pensar o cabelo das mulheres negras alisado é pensar em não sofrer bullying na escola, é não ter sua capacidade posta em dúvida porque usa seu cabelo natural. Alisar seu cabelo é ter certeza de que terá um par para dançar na festa junina, é a possibilidade de figurar na lista das garotas bonitas da sala quando se está na quinta série. Coisas que para uma mulher branca adulta pode parecer não ter muita importância, mas que para uma criança terá impactos reais para o resto de sua vida adulta.

À medida que comecei a ler mais e entender mais sobre minha condição de mulher e negra na sociedade brasileira, a vontade de não alisar mais meu cabelo só foi aumentando. Mas, como já disse, essa vontade vem cheia de dúvidas e de medos. A transição de uma vida inteira de cabelo alisado para um cabelo natural envolve uma série de etapas esteticamente não muito agradáveis. Adiei e sabotei o processo várias vezes. Quando via uma parte do meu cabelo natural contrastando com o restante alisado, sentia grande incômodo e infelicidade com minha autoimagem.

Conversando com um amigo sobre as dúvidas e medos que estava enfrentando em meu processo de transição capilar, ele me apresentou uma autora estadunidense negra chamada Bell Hooks, que escreveu um texto que me fortaleceu de uma forma que não tive mais dúvidas sobre minha decisão. O texto chama-se: “Alisando nosso cabelo”. Nesse texto, a autora faz uma reflexão sobre a impressão dela acerca do processo de alisar os cabelos com o extinto pente quente. Em um primeiro momento, esse cabelo alisado estava vinculado aos anseios de se tornar mulher, de proporcionar bem-estar e da criação de vínculos entre mulheres.

Hooks nos conta que, como viviam em um mundo segregado racialmente, não era evidente a ideia de que as mulheres negras estavam lutando para colocar em prática um padrão de beleza branco, ou seja, o fato de mulheres brancas serem consideradas um grupo feminino mais atrativo e as mulheres negras de cabelo liso serem mais aceitas do que as de cabelo crespos e encaracolados acabou estabelecendo um padrão de beleza.

Ela segue dizendo que no “patriarcalismo capitalista, essa postura representa uma imitação da aparência do grupo branco dominante e, com frequência, indica um racismo interiorizado, um ódio a si mesmo que pode ser somado a uma baixa autoestima”. Mais uma vez, não me sinto culpada por algum momento de minha vida ter tentado, assim como muitos e muitas ainda tentam, expurgar tudo que me identificasse como negra, porque ser negro(a) no Brasil não é legal, quase no sentido literal da palavra.

Infelizmente, o racismo que estrutura nossa sociedade nos faz ter ódio de nossa cor da pele, de nossos cabelos. Identificar-se como negro(a) no Brasil está além da autodeclaração. É uma questão política. E para alguns é uma questão de vida ou morte, porque nós negros(as) figuramos no topo das piores estatísticas neste país.

* Socióloga; Doutoranda em Sociologia Política (UENF); Professora da rede pública de ensino do Estado do Rio de Janeiro.

Agende-se: Segurança Pública e Democracia em pauta.


sexta-feira, 22 de março de 2019

Em defesa da liberdade docente - o caso do Liceu de Humanidades de Campos


Em defesa da liberdade docente - o caso do Liceu de Humanidades de Campos*

Por Paulo Sérgio Ribeiro

Não é a primeira vez que tratamos de violações à autonomia didática e científica das instituições de ensino desde que a redemocratização entrou em agonia há quase três anos. Relembremos nossos posicionamentos sobre as tentativas de censura à disciplina optativa "Tópicos Especiais em Ciência Política 4: o golpe de 2016 e a democracia", oferecida pelo professor Luís Felipe Miguel na Universidade de Brasília (Unb) (aqui), bem como à Cássia Maria Couto, professora da rede pública de ensino do estado do Rio de Janeiro, que sofreu ataques covardes em sua página no Facebook devido a uma simples ironia sobre a dita "doutrinação" nos espaços escolares (aqui). 

Agora, quem sofre semelhante constrangimento é Marcos Antônio Tavares da Silva, professor de Português do Liceu de Humanidades de Campos dos Goytacazes/RJ[1]. O motivo? Uma redação solicitada aos seus alunos tendo por mote a charge "O patriota" (ver acima). É bom que se diga: uma atividade rotineira para professores(as) de Português e demais disciplinas que compõem o arco das "Humanidades" - isto é, a própria missão institucional do Liceu! - e cujo conteúdo chega a ser trivial para estudantes concluintes do Ensino Médio. Aliás, a charge veio ao mundo em 2017, sendo assinada por Vitor Teixeira no sítio "Humor Político"[2].

O constrangimento pelo qual passa o professor Marcos já foi reportado à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ):



Afinal de contas, por que tanto alarde em torno de uma simples tarefa escolar?

Olhar com sobriedade o "caso Liceu", que toma de assalto a opinião pública, leva-nos a pensar uma questão-chave para a autonomia didática do(a) professor(a): a relação entre razão e autoridade. Para tanto, nada melhor do que reler "Resposta à pergunta: 'Que é Iluminismo'"?[3], de Immanuel Kant, para distinguirmos quando termina a autoridade e onde começa a razão entre a escola e o seu entorno.

Se levarmos a sério a concepção de autonomia legada por Kant, localizaremos na educação escolar uma tensão permanente entre razão e autoridade. Não haveria mesmo como nos aliviarmos dela, uma vez que a escola somente confirma sua potencialidade emancipadora na transmissão de um patrimônio universal - o conhecimento que o gênero humano produziu até aqui - se "trair" a si mesma. 

Confuso até aqui? Explicamos: o Iluminismo possibilitou aos homens (e, por contrabando, às mulheres...) reconhecer, quiçá pela primeira vez, que vivemos em estado de "menoridade" e, logo, seria contraditório estarmos sob a tutela de alguém para superá-lo. Ora, se nos é facultado o entendimento e, mesmo assim, continuamos inaptos diante das indagações que a vida social nos solicita, é porque pouco nos servimos de nós mesmos. 

Atreva-se a conhecer! - Sapere aude! -, eis uma provocação do Iluminismo que sempre encontrará resistências, na medida em que figure para o homem e mulher medíocres uma perda do conforto que a ignorância lhes assegura. "É tão cômodo ser menor", admite Kant, ou lembrando uma frase icônica do filme "Matrix", a ignorância é uma bênção... 

A passagem à maioridade, contudo, não é uma impossibilidade. 

A todo tempo, lidamos com restrições ao pensamento: temos de pagar tributos, crer em símbolos nacionais e/ou religiosos, adequar-se às convenções sociais sem precisarmos de outra disposição senão ajustar-se irrefletidamente à ordem estabelecida. 

Até certo ponto, é lícito que assim seja se considerarmos a noção kantiana de uso privado da razão: um(a) professor(a) do Liceu de Humanidades, por exemplo, não poderia desvincular o uso que faz de sua razão das atribuições do cargo público a ele(a) confiado(a). Há um regime disciplinar, orientações curriculares a seguir, decoro a zelar etc. Porém, de um(a) professor(a) não é exigível educar os(as) seus(as) alunos(as) para continuarem sendo... seus(as) alunos(as).

Qual se fosse um parteiro de ideias ao modo socrático, professores(as) se constituem como intermediários culturais entre aquilo que ensinam e o uso público da razão enquanto destino para o qual seus(as) alunos(as) são estimulados a caminhar com as próprias pernas: a liberdade de trabalhar em salas de aula todos os elementos disponíveis para o entendimento é uma condição necessária para que homens e mulheres adultos(as) tenham sido educados para exercer a liberdade civil. 

Por liberdade civil, leia-se: uma pessoa falar em seu próprio nome para um público sem obedecer a outro critério senão expor com clareza seus próprios juízos e ideias para o exame de todos(as). Ser livre é uma realização pessoal que, todavia, apenas a socialização referenciada na liberdade de pensamento pode garantir. Aqui, os espaços escolares ainda configuram o lugar de excelência dessa forma de socialização, malgrado serem também espaços de controle e de nivelamento.

Voltando ao "caso Liceu", que crime ou pecado cometera o professor Marcos? Dizer, por intermédio de uma charge, aos(às) seus(as) alunos(as): "Sapere aude!". Atreva-se a conhecer: a posição de subalternidade do Brasil frente aos Estados Unidos com a política externa ultrajada pelo governo de Jair Bolsonaro. 

Secundaristas, atrevam-se a conhecer: a base militar de Alcântara, localizada no Maranhão, foi objeto de acordo assinado por Bolsonaro com o governo de Donald Trump para lançamentos de satélites, dependendo ainda da aprovação do Congresso Nacional. Pasme, o Ministério da Defesa estima que o país fature pífios 37 milhões de reais para ceder um dos raros recursos militares estratégicos que temos à maior potência militar do planeta[4].

Secundaristas, atrevam-se a conhecer: o Brasil entregue à falange bolsonarista no poder abrirá mão de suas vantagens como membro da Organização Mundial do Comércio (OMC) para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), subordinando-se às diretrizes do governo estadunidense para o comércio exterior. Quais vantagens seriam essas? Na condição de país em desenvolvimento – status conferido ao Brasil na OMC –, negociar com países economicamente desenvolvidos sem se obrigar à reciprocidade de liberalização do seu mercado interno[5], uma medida protetiva cuja justificativa é autoevidente para um país em franco processo de desindustrialização como o Brasil.

Sem contar, claro, a cereja do bolo: Bolsonaro, um capitão da reserva do Exército brasileiro e então pré-candidato à Presidência da República em 2017, bater continência para a bandeira estadunidense em comício num restaurante em Deerfield Beach, estado da Flórida, região sul dos EUA[6]. Para os(as) incrédulos(as), recomendo uma visita rápida ao YouTube[7].

Chega! Haveria outras tantas demonstrações do patriotismo de araque de Bolsonaro et caterva, mas o texto ficou demasiado longo e não quero desanimá-los(as) expondo ad nauseam a velha síndrome de vira-lata a qual Nelson Rodrigues apontou como a vicissitude mais arraigada entre nós brasileiros(as).

Ao professor Marcos, prestamos nosso apoio e solidariedade por ousar ser iluminista em tempos sombrios. Acompanharemos o desenrolar do “caso Liceu” e desejamos que sua rotina profissional seja prontamente restabelecida em nome do interesse público inerente à arte de educar.

* Última atualização em 23/03/2019, às 11h06.

Agende-se: Roda de conversa "Diga não à Reforma da Previdência", hoje (22/03), no Pelourinho (calçadão), às 15h


A Frente Democrática de Campos dos Goytacazes convida a todas e todos para uma roda de conversa sobre os danos que a Reforma da Previdência proposta pelo atual governo de Jair Bolsonaro ocasionará às gerações futuras, por retirar direitos da classe trabalhadora, aposentados e pensionistas de maneira inconstitucional e desumana. 

O ato ocorrerá no Pelourinho, próximo à Caixa Econômica Federal, no calçadão (Centro) de Campos dos Goytacazes, às 15h. 

Venham dialogar conosco e lute por seus direitos!

segunda-feira, 18 de março de 2019

Escuta como ato político


Escuta como ato político

Dedico este texto a Kenya Gomes, Bruna Machel e Juliana Tavares.

Por Paulo Sérgio Ribeiro

No calendário de lutas estabelecido em março, um mês muito significativo paras mulheres que, em alto e bom som, afirmam a dignidade da pessoa humana em todas as latitudes do globo, participarei como mediador da aula pública "A luta pela vida das mulheres no Brasil pós-eleições", que ocorrerá nesta quarta-feira, no Bandejão da UENF, às 12h (aqui). 

Confesso que o convite muito me honrou devido ao crédito que fora depositado em um homem cujas catalogações (branco, hétero, cis...), quase sempre, confirmam marcadores de opressão nas relações de gênero. 

Poder mediar tais falas e aprender com cada uma delas será um privilégio e, talvez, seja uma das raras oportunidades em que reconhecer-se privilegiado não me coloque em confronto comigo mesmo. 

Convenhamos: será mesmo tão pacífico assim? Se o confronto com o "velho homem" que habita em nós é inevitável, como se sair vencedor sem o sacrifício de outro alguém na jornada para chegar a esta desejável conquista íntima? 

A meu ver, uma maneira bastante generosa seria visitar a obra seminal da filósofa Djamila Ribeiro - "O que é lugar de fala?"[1] -, uma provocação que, até hoje, rende-lhe berros histéricos da extrema-direita e, não menos, um dar de ombros de certa esquerda pouco familiarizada com a agenda pública do(s) feminismo(s). 

Não devo iludir o(a) leitor(a): há não muito tempo, participava sem maiores questionamentos do segundo grupo. Mas, felizmente, a convivência política com mulheres as mais variadas tem imposto um cerco aos últimos focos de resistência do "velho homem" que, teimosamente, vez ou outra ainda sou. 

Com Djamila Ribeiro, entendi que os condicionamentos de uma cultura patriarcal e heteronormativa - embora confirmem à perfeição os atributos do "fato social" concebido pelo velho mestre Émile Durkheim - não me autorizam a abrir mão da responsabilidade ética face àquele "Outro" que se manifesta em tantos rostos, vozes e visões a partir da condição feminina. 

A filósofa e ativista negra delimita tal responsabilidade ética ao desfazer eventuais confusões nas quais muitos recaem quando sobrepõem a noção de "representatividade" àquela dimensão da luta política. Ambas andam lado a lado, por óbvio, mas devem ser distinguidas analiticamente para não sucumbirmos a categorias de acusação que satisfazem azedumes pessoais em prejuízo da intersubjetividade daqueles(as) que podem estar do mesmo lado da trincheira, por assim dizer.

Seguindo os passos de Djamila: é razoável uma mulher negra não se sentir representada por um homem branco, mas não por isso este deve deixar de tematizar a realidade dela a partir do seu senso de realidade. Ora, a não responsabilização daqueles que falam a partir do lugar do privilégio traduzir-se-ia no véu da ignorância com o qual se encobre a pretensão de salvo-conduto para vantagens sociais e econômicas que aquele lugar nos oferece.

As lutas por reconhecimento (ou por "representação") nada mais seriam, portanto, que trazer à luz a arbitrariedade dos espaços de privilégio por parte daqueles indivíduos e grupos segregados em lugares da invisibilidade social ou, noutros termos, em um não-lugar. Porém, lembra Djamila, refletir sobre o lugar de fala não é aceitar acriticamente que "somente os subalternos falem de suas localizações", pois, do contrário, aqueles que estão inseridos na "norma hegemônica" continuarão enxergando a si mesmos de um ponto de vista olímpico[2].

Uma perspectiva relacional, é "só" o que se propõe:

[...] entendemos que todas as pessoas possuem lugares de fala, pois estamos falando de localização social. E, a partir disso, é possível debater e refletir criticamente sobre os mais variados temas presentes na sociedade. O fundamental é que indivíduos pertencentes ao grupo social privilegiado em termos de locus social consigam enxergar as hierarquias produzidas a partir desse lugar e como esse lugar impacta diretamente na constituição dos lugares de grupos subalternizados[3].

São muitos os ângulos pelos quais Djamila elabora sua perspectiva de análise: a história do feminismo e suas disputas internas; o alcance do feminismo negro no debate público; o diálogo entre feminismo negro e o pensamento decolonial; os dados recentes que confirmam a vulnerabilidade social das mulheres em correlação com as desigualdades abissais do nosso país entre outros. Seu livro, praticamente um manual de combate – melhor dizendo, do bom combate -, chama-me atenção para um aspecto: como não admitir que estamos a léguas de distância daquela perspectiva relacional no próprio modus operandi do campo científico? 

O texto da socióloga Luciane Soares da Silva publicado recentemente no blog (aqui), que desnuda os mecanismos da superseleção escolar à qual ela e tantos(as) outros(as) estudantes negros(as) foram submetidos(as) para esbarrar (como egressos dos cursos de pós-graduação) na falácia meritocrática dos concursos públicos para carreira docente de nível superior, vai ao encontro da interpretação que Djamila Ribeiro dedica ao universalismo na produção de conhecimento. 

Se dimensionarmos a hierarquia social dos objetos - o que faz algo ser ou não de interesse para a pesquisa -, observamos que o privilégio social de intelectuais brancos europeizados é, de fato, um privilégio epistêmico. O postulado de objetividade que diferentes ciências humanas tendem a seguir de perto, na prática, cristaliza-se em um regime de autoridade discursiva em torno de um suposto sujeito "universal" do conhecimento que, todavia, na sua autointitulada função de "Farol de Alexandria" deixa a desejar para tantos outros sujeitos os quais, efetivamente, teriam muito mais a dizer para a elucidação científica dos fatos. 

Ora, o que eu teria a dizer às mulheres que conduzirão a aula pública desta quarta-feira? Algo menos do que elas já possam falar por si mesmas. Nosce te ipsum[4]: o meu lugar de fala nada mais é do que um reflexo da minha capacidade de escuta. Aprimorá-la, assim espero, fará com que vislumbre outros marcos civilizatórios nas vozes dissonantes dessas mulheres e, quem sabe um dia, dará passagem a um "novo" homem. 


[1] RIBEIRO, Djamila. O que é: lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2017.
[2] Op. cit., p. 86.
[3] Op. cit., p. 88.
[4] “Conhece-te a ti mesmo”.

Agende-se: Aula Pública - "A luta pela vida das mulheres no Brasil pós-eleições"


sábado, 16 de março de 2019

Racismo, Universidade e as disputas pelos sentidos do mundo.



Racismo, Universidade e as disputas pelos sentidos do mundo.

Por Luciane Soares da Silva*

Existem textos que são escritos de uma única tacada. A conjuntura, a necessidade da denúncia são aliados na construção dos argumentos. Não se deve esperar para apresentar um posicionamento. Faço esta advertência, pois correrei um risco muito grande hoje. De qualquer forma, outros correram antes de mim.

No início dos anos 2000, em um Congresso com cientistas portugueses, discorria sobre ocorrências de delegacia envolvendo injúria racial após a Constituição de 1988. Fui interrompida por uma professora que, muito preocupada com o espanto do grupo de 11 pesquisadores, tentava defender a representação do Brasil como um paraíso racial. Quando a indagaram sobre as “cotas”, experimentei o primeiro momento constrangedor de inúmeros que veria ao longo de uma década: aos prantos, fez uma defesa pessoal de sua orientação racial democrática. De como era ter orientandos do CNPq negros.

Como pesquisadora formada no sul do país, vivi ao longo de 6 anos situações que muito recentemente são classificadas como “racismo” institucional. Desde piadas em bancas de seleção com personagens negros cômicos de filmes americanos até o questionamento da vocação para pesquisa. Sem contar as classificações obscuras em concursos nos quais a banca permaneceu olhando pela janela durante minha prova-aula e bocejando. Todos sabem como isto acontece, mas não é possível criticar um círculo de poder se você ainda tem a pretensão de ingressar em uma Universidade.

São esses os inconvenientes que o professor José Jorge de Carvalho ousou denunciar ao tomar posição no “caso Ari”. Arivaldo Alves foi reprovado em uma disciplina obrigatória do curso de doutorado no departamento de Antropologia da Unb em 1998. Algo inédito nos 20 anos de existência daquele programa. Lembro de José Jorge na UFRGS contando quantos professores negros tínhamos na Universidade. Um deles era meu orientador, cabo–verdiano. Não lembro de outros durante o tempo que estive lá. E não creio que haja um número muito representativo em 2019. José Jorge indagava se tínhamos os dados sobre evasão nos cursos das principais Universidades. Por que concentrar-se em 20% de reserva de vagas?

Naquele ano, um muro amanheceu pichado na frente da faculdade de Direito na João Pessoa com a frase “Negro, só se for no RU, cotas não”. A referência era ao restaurante universitário, no qual comi por seis anos e o local em que, de fato, podíamos ver os não brancos. As “cotas” foram atacadas, livros foram escritos com vários argumentos sobre a dificuldade da classificação racial, sobre importar um problema que não existia no Brasil. Lembro de estudantes defendendo a meritocracia.

O Brasil de 2019 é bem diferente daquele. As primeiras turmas de UERJ e da UENF (pioneiras na política de ação afirmativa) já estão formadas e desmentem hipóteses iniciais sobre desempenho de cotistas. As Federais também sofreram o impacto das políticas e é possível perceber maior heterogeneidade quanto a cor em alguns cursos. Se olharmos para o corpo docente das Universidades, vemos algo curioso: alunos não brancos e de classes trabalhadoras ingressam em cursos de doutorado. Mas se realizarmos um levantamento nos últimos dez anos nos concursos públicos, veremos que segue o mesmo padrão de cor de décadas anteriores.

Quais as hipóteses para este fenômeno? Tenho amigos formados na UFF, USP, UFRJ, UFMG, UFRGS, UERJ, UFBA... por pesquisadores reconhecidos internacionalmente, com uma biografia de dedicação à pesquisa, com formação na Europa, Estados Unidos, com publicações nas melhores revistas. Como explicar seu desempenho em concursos? Um ponto: creio que as ações afirmativas não servem como resolução para desigualdades estruturais com base em cor. Mas sabemos o peso do reconhecimento pelo título conferido no século XXI para aqueles cujas famílias não têm uma única pessoa com ingresso no ensino superior.

Mas me parece que a entrada na carreira docente representa o passo que não demos. Representa a discussão de uma outra epistemologia científica, o deslocamento concreto dos objetos de observação (tanto na área de saúde como na geografia ou no urbanismo). Se temos como professor um homem negro, residente na Maré e que estuda favelas (e de fato, ele existe com estas características), alteramos um ponto nos discursos sobre um dos temas mais interessantes na ciências sociais brasileiras. Outro lugar de observação, outra forma de entrada em campo, outras possibilidades teóricas e políticas.

Creio que todos têm um acordo formal sobre isto. Como temos acordo sobre a necessidade de combater o racismo. Mas o que temos hoje é um outro tipo de reserva de vagas: aquelas que definem os sentidos do mundo. E que, ao definirem, estabelecem os lugares de poder. E, como conseqüência óbvia, a forma da distribuição dos recursos e da reprodução nos termos estudados por Pierre Bourdieu. Não é apenas uma questão de escolha teórica. Longe disto. Há também o uso do discurso dos estudos culturais, dos estudos de gênero e outros como forma de autoconsagração. Atuação magistral no campo da retórica. Mas que não se aplica às regras de seleção dos novos professores. O fato concreto é que não há nenhuma disposição para alterar este quadro e basta dar uma olhada nos resultados de concursos recentes para confirmar este texto.

Melhor seria se permanecessem as cátedras. É uma ironia. Mas pouparia muito sofrimento aos que entram em concursos com 50 candidatos e aceitam regras que jamais os incluirão. Que sequer explicarão a diferença de décimos que os colocou em segundo lugar (estas explicações nunca poderão ser dadas, pois democratizariam o processo). Quanto a mim, que furei o bloqueio sem qualquer obtenção de justiça em nenhum destes lugares, seguirei na disputa pelos sentidos do mundo. Porque não se pode acreditar em uma ciência sem dissenso e fenotipicamente homogênea. Eu estive prestes a dedicar este texto a quatro professores ... mas percebi que seria injusto não completar a lista. E o texto já está longo demais. Além disto, não faz mais diferença.

* Socióloga. Professora Associada à Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Chefe do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (LESCE/CCH/UENF) e Presidenta da Associação de Docentes da UENF (ADUENF). 

Agende-se: "Políticas Públicas de Gênero e Feminicídio no Brasil" - 20/03/2019 - Italva, RJ

Prezad@s,

Divulgando palestra a pedido da Secretaria Municipal de Assistência Social de Italva, RJ. 

"Políticas Públicas de Gênero e Feminicídio no Brasil" ocorrerá em 20/03/2019, a partir de 13 horas na cidade de Italva e será ministrada pela profª,advogada e socióloga Sana Gimenes Alvarenga Domigues.

Os presentes terão certificado de participação.

Divulguem, prestigiem!





sexta-feira, 15 de março de 2019

Agende-se: debate sobre o Restaurante Popular.


Em meio a torrente das novas tecnologias de comunicação e de informação ocasionada na passagem do séculos XX e XXI, as transmissões radiofônicas ainda têm o seu lugar na construção da esfera pública.

Desse modo, é oportuno acompanhar uma discussão que diz respeito a interesses primários da população campista - segurança alimentar e nutricional -, sobretudo, pelas questões em aberto que o processo de reativação do "Restaurante Popular" têm apresentado aos seus munícipes. 

Já abordamos esse tema no blog (aqui) e, em nome do saudável pluralismo de ideias e opiniões, divulgamos o debate que ocorrerá na próxima terça-feira na Rádio Aurora. Dele participarão Bruna Machel, membro do Conselho Municipal de Assistência Social, e Maria Goretti, advogada, tendo a mediação do âncora Germando Santos.

Para aqueles(as) que, por ventura, tenham interesse em acompanhar a transmissão ao vivo pela Internet, segue abaixo o endereço: 


Pelo habitual rádio, basta sintonizar em FM 104.1.