Reflexão em Dia de Finados**
Adelia Miglievich***
Há os que creem que humanos
nascem, morrem, viram adubo. Nos que ficam sua história servirá de inspiração,
terão com os que vieram antes muito aprendido, quem sabe o mundo não mais será
o mesmo porque teve no que partiu boa razão para se transformar. No tempo de
"seres vivos" terão aumentado também a espécie humana com seus
descendentes e/ou terão deixado um legado para nós que nos poupa de partirmos
do zero. Existiram e fizeram a diferença (não quero aqui pensar naqueles cujo
legado foi a morte e destruição). Muitos deles foram justos e promoveram, aqui,
outras existências.
Há os que creem que somos mais do
q matéria e nossas costelas que viram pó. Algo como que todos traziam em si uma
alma que nada tem a ver com o tempo de duração do corpo de forma que ela
sobrevive.
Uns pensam q essa alma em virtude
de sua beleza possa se assemelhar ao
Amor Absoluto (Deus) em um universo paralelo e para esse fim seguirá. Mas, que
nem mil vidas teriam bastado parra tal encontro pois, no final das contas,
apenas por misericórdia divina teremos sido capazes de sermos acolhidos na Luz.
Ou a alma ficará eternamente presa
ao caos que criou quando ainda amalgamada à matéria, atormentada como se
estivesse no "inferno".
Disso também outra crença deriva,
a de que o Filho do Amor vivendo entre nós deixou um roteiro a ser seguido,
mesmo contrariando a natureza humana. Ou que há outros guias espirituais.
Também há os que creem q não há
condenação de almas. Elas novamente se encarnam. E, quem sabe, em um tempo
improvável, aprenderão a amar de modo que, nesse caso, não terá bastado uma
vida para que, depois da passagem, consigam acostumar seus olhos (da alma) a
uma claridade que jamais viram com os olhos humanos. Estarão prontas para ser
luz.
Há os que tentam não pensar nisso
posto que é Mistério. Não dizem se creem ou descreem. O problema é se crer no
encontro com Deus é requisito para isso acontecer. Mas, o q importa é que os
que se foram lhes ensinaram valores básicos para ser resistência ética no
mundo, agora. E eles são.
Na verdade, somos nossas escolhas.
* Foto do famoso portal do cemitério da cidade de Paraibuna, SP. O portal correu mundo por ter batizado o célebre documentário do cineasta Marcelo Masagão intitulado justamente "Nós que aqui estamos, por vós esperamos". O documentário foi premiado no festival de Gramado em 1999, ano de seu lançamento. Link da imagem original: https://www.band.uol.com.br/band-vale/noticias/frase-famosa-de-cemiterio-de-paraibuna-inspira-roteiro-turistico-16529483, acesso em 02/11/2023.
** Publicado originalmente no perfil do Facebook da autora (https://www.facebook.com/adelia.miglievich. Reproduzimos aqui com a autorização de Adelia.
*** Adelia Maria Miglievich Ribeiro é professora associada no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, UFES. É autora, além de dezenas de artigos publicados no Brasil e no exterior, do livro "Heloisa Alberto Torres e Marina de Vasconcelos: pioneiras na formação das ciências sociais no Rio Janeiro" lançado pela Edufrj em 2015.
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