Reflexões partilhadas sobre o PPG em Ciências Sociais
Adelia Miglievich**
Há
prenúncios de boas correções no sistema de avaliação da pós-graduação no
Brasil.
Como
sempre deveria ter sido, é a MISSÃO do Programa de Pós-Graduação que há de ser
avaliada a partir do próximo quadriênio:
1)
Formamos mestres e doutores em Ciências Sociais competentes?
2)
Entendemos Ciências Sociais como uma área interdisciplinar (ou formamos
sociólogos, antropólogos e cientistas políticos, como fazem os Programas de
Pós-Graduação desse modelo disciplinar)?
3)
Qual a "diferença" positiva de nosso Programa de Pós-Graduação em
face de dezenas de outros em Ciências Sociais no Brasil?
4)
Se queremos ir além do mercado acadêmico para nossos alunos, a gente pode lhes
dar base para o quê mais? Políticas públicas? Gestão não-governamental?
Docência da Educação Básica? Sendo assim, nossa grade curricular está adequada?
5)
Estamos efetivamente contribuindo com a graduação em CS? Em nossas aulas,
orientações, PIBIC, PIBID, integração com a pós?
6)
Nossos discentes estão se inserindo, ao longo do curso, na comunidade
científica nacional?
7)
Suas dissertações e teses estão sendo visibilizadas nos concursos de
dissertações/teses?
8)
Os resultados de suas pesquisas vêm sendo publicados?
9)
Nosso Programa de Pós-Graduação, para além dos núcleos e grupos de pesquisa, tem
atraído os pares no campo para estarem aqui conversando conosco?
10)
Nossos docentes estão se prestigiando mutuamente e interagindo entre si nos
bons trabalhos?
11)
Nossos docentes estão colocando o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
em redes nacionais e internacionais exitosas?
12)
Os professores têm conseguido aliar sua produção ao perfil do Programa de
Pós-Graduação que queremos ser?
13)
Nossos egressos estão no mercado fazendo a diferença positiva?
14)
Suas teses e dissertações viraram publicações capazes de demonstrar que o
investimento neles gerou produção científica para fortalecer o campo das Ciências
Sociais?
15)
Vamos entender que não são mais os pesquisadores que serão avaliados daqui para
a frente, mas o Programa de Pós-Graduação em sua atuação como uma entidade?
16)
A comunidade externa está usufruindo de nossa produção de conhecimento?
17)
Temos conseguido dar espaço para nossos estudantes e egressos vestirem com
orgulho a camisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais?
Acabará
o tempo dos "cavalos de corrida" (algo próximo de um colega com 6
artigos por ano!). Pra quê?.
Tá na hora de entendermos que o desenvolvimento da ciência no Brasil é um trabalho intergeracional e "mutirão" de milhares de mãos.
Intergeracional implica: acolher e abrir portas para as novas gerações e novos sujeitos epistêmicos, conforme compreendo.
Mas ... essa não é a lógica do Capital. Portanto, há ethos antípodas em disputa: cooperação versus competição.
Não tenho falsas expectativas. Até porque a política científica está contida nas macropolíticas. Quais governos virão?
Mas, qualquer coisa no futuro vai depender de uma certa nota que teremos que conquistar até março/25, ainda nos critérios velhos de 2019, aqueles produtivistas ...
E agora?
Ass: uma trabalhadora intelectual.
* Red and White Domes, Paul Klee. Disponível em: https://www.chrisjoneswrites.co.uk/paul-klees-tunisia-trip/, acesso em 24 de nov. de 2024.
** Adelia Maria Miglievich Ribeiro é professora associada no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, UFES. É autora, além de dezenas de artigos publicados no Brasil e no exterior, do livro "Darcy Ribeiro, Civilization and Nation: Social Theory from Latin America" publicado pela Routledge neste 2024.
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